Puerpério Psicológico

Se parássemos para pensar que o período da gravidez é estabelecido ao longo de nove meses, e é, em média, em torno de dois meses pós-parto o corpo geralmente já volta ao seu aspecto fisiológico normal, seria injusto que em tão pouco tempo a mulher se adaptasse a essa nova rotina emocional. É então que chamamos esse tempo maior de “Puerpério psicológico”. É uma mudança brusca de hormônios durante e depois da gravidez que exige um tempo de adaptação.

Não tem tempo cronológico definido, trata-se do tempo que a mulher necessita para que se identificar nos seus diferentes papéis na sociedade, conectada com esse seu novo “eu”. De acordo com a pratica clínica, esse tempo pode estender  de 2 a 3 anos, em média.

Esses primeiros anos de vida da criança são vividos com uma intensidade de sentimentos e desafios que podem inclusive fazer surgir situações adversas no aspecto psicológico dessa nova mãe. Diante disso faz-se necessário o suporte para que essa puérpera supere esses desafios.

Transtornos psicológicos do período pós-parto. 

Já se sabe que não é um momento fácil para a mãe. O período do puerpério traz consigo vários anseios, mudanças de humor, conflitos, inseguranças, desconfortos, cansaço, e também o medo dos transtornos psicológicos. A depressão pós-parto (DPP), a tristeza puerperal que chamamos de “Baby Blues”, Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e perturbação na amamentação, são alguns transtornos psíquicos que a mãe pode enfrentar. É importante, no entanto saber que alguns sentimentos são completamente naturais. Estar atento as diferenças auxiliará quando for necessário a busca por ajuda profissional.

O chamado Baby Blues

O blues puerperal é muito comum entre as mulheres. No pós-parto é caracterizado por uma labilidade emocional: instabilidade emocional, tristeza, euforia, irritabilidade, choro fácil, senso exagerado de empatia, sensação de estranheza, são alguns dos sintomas.

Inicia-se na primeira semana pós-parto e tem um pico entre o quarto e quinto dia, com duração de até duas semanas. A conduta se dá através da tranquilização materna e familiar. Entender que é um processo normal e relacionado aos fatores hormonais e de adaptação do momento. É então importante o apoio familiar para que esse sentimento se reestruture e não evolua.

Apesar de essa labilidade emocional ser normal, e não ser indicativo de tratamento farmacológico, o aconselhamento com profissionais capacitados apoiam mãe e a família nesse processo facilitando o entendimento e prevenindo a evolução para outros transtornos psíquicos.

Depressão pós-parto (DPP)

È a mais frequente complicação emocional materna. Trata-se de um quadro clínico, agudo, que requer acompanhamento e diagnóstico por médico psiquiatra, acompanhado com psicoterapia e em casos graves pode ser indicado a abordagem farmacológica. É mais suscetível a mulheres que já possuem um quadro de transtornos psíquicos anteriores.

O início se dá entre na terceira semana pós-parto e o terceiro mês, mas pode se manifestar ao longo do primeiro ano de vida do bebê. É caracterizado por uma tristeza constante, apatia, sensação de desprazer e possui uma interferência do vínculo entre mãe e bebê, podendo até ser risco para o desmame precoce.

Transtorno de estresse pós-traumático 

O TEPT ocorre geralmente em mães que passaram por alguma situação de tensão durante o parto e pós-parto. Violência obstétrica ou situações em que o bebê requer internação na UTI são as causas mais comuns desse transtorno. Os sentimentos são caracterizados por medo intenso, desamparo, perda de controle e horror.

É passível de que essa mulher tenha um acompanhamento multidisciplinar e familiar. O não reconhecimento desse estado pode evoluir em depressão e transtornos de ansiedade.

Perturbação na amamentação

Trata-se de um sentimento exaustivo e complexo, que ocorre enquanto a mãe amamenta, podendo ser favorável ao desmame precoce e abrupto.

É mais comum entre as mães que amamentam dois filhos de idades diferentes (amamentação em tandem), gestantes que amamentam, ou amamentações prolongadas. Os sintomas aparecem das mais variadas formas enquanto a mãe amamenta, como formigamento, coceira por todo corpo, angustia, vontade de chorar, raiva, sentimentos dos quais são difíceis de explicar.

Quando buscar ajuda no puerpério?

Ao sinal de confusão de sentimentos persistentes, desamor, e vínculo mãe e bebê prejudicado, o profissional de saúde deve ser comunicado. A percepção muitas vezes parte da rede de apoio familiar, uma vez que a mulher passa por um período em que ela mesma não sabe explicar o que sente. Neste caso aconselha-se um acompanhamento profissional.

Os benefícios do acompanhamento psicoterapêutico são:

  • Fortalecimento do vínculo mãe e bebê;
  • Diminuição das chances de desmame precoce;
  • Aumento da qualidade de vida;
  • Possibilidades de transtornos psíquicos prolongados diminuídos.

Apoio familiar é imprescindível!

Diante de tanta confusão de sentimentos, reconhecer as alterações psíquicas da mãe no puerpério é importante para a manutenção da qualidade de vida dessa mulher. A família, sendo as pessoas mais próximas, podem ser essencial na observação de quando os sentimentos confusos desse período fogem do comum. Perceber esses sentimentos e apoiar a nova mãe pode ser crucial para o diagnóstico e tratamento quando necessário.

A grávida e a puérpera, recebem bombas distintas de hormônios que precisam de tempo para se equilibrar. Por isso, é muito importante que cuidemos das mães enquanto elas cuidam dos novos babies. Assim, todos saem ganhando!

A importância da Psico-oncologia

Em primeiro lugar, é importante definirmos a Psico-Oncologia como uma área de interseção entre a Psicologia e a Oncologia, que busca compreender e estudar as variáveis do comportamento relacionadas ao processo de adoecimento e cura, e as intervenções ao longo de todo este mesmo processo. Está área de atuação profissional surgiu na década de 1970, com a psiquiatra Jimmie Holland, no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em Nova Iorque. Ela criou um serviço de atendimento, pesquisa e treinamento para investigar os aspectos emocionais envolvidos no processo de doença e tratamento do câncer e avaliar a interferência na vida dos pacientes. Visando sempre a melhor forma de intervenção para reduzir o sofrimento do paciente durante o tratamento oncológico e aumentar sua qualidade de vida também.

O papel de um psicólogo em um ambulatório de Oncologia é oferecer suporte emocional para que o paciente possa expressar seus sentimentos, compreender as dificuldades do momento vivido, perceber as situações que lhe mobilizam emocionalmente e instrumentalizá-lo para lidar da melhor maneira possível com as alterações e limitações impostas pela doença e pelo tratamento. O acompanhamento psicológico é indicado, geralmente, quando notamos certa dificuldade de adaptação e adesão aos tratamentos propostos e quando ocorrem sintomas depressivos e/ou ansiosos.

Outro ponto importante a ser ressaltado é a família do paciente oncológico. Por ser tratar de uma doença complexa, o familiar normalmente está bastante envolvido no processo de tratamento, tanto do ponto de vista operacional quanto do ponto de vista emocional; e cabe à equipe de saúde a ter um olhar cuidadoso a essa família ao longo do período de tratamento do paciente. O psico-oncologista pode abordar o paciente e sua família, tanto individualmente como em grupo, dependendo de alguns aspectos clínicos e institucionais.

Um questionamento muito comum que surge a respeito da prática do psicólogo em Oncologia, é se ter tristeza e angústia é normal durante o tratamento. Posso afirmar que sim, é normal, mas dependendo da intensidade e da duração destes sentimentos. Se esses ficarem muito intensos, ao ponto de interferirem no funcionamento do paciente e na adesão ao tratamento, é importantíssimo buscar ajuda especializada.

Para finalizar, é também função do psico-oncologista dar apoio emocional e suporte aos profissionais de saúde que lidam diariamente e intensamente com os pacientes oncológicos. Algumas ações institucionais, como grupos de apoio, oficinas e aulas, são exemplos de ações de cuidado com o profissional.

A experiência do câncer é geralmente desafiadora, independente do local, da extensão, do prognóstico e dos resultados do tratamento. Todas essas transformações na rotina do paciente podem contribuir para o desequilíbrio psicológico dele e desencadear diversas reações emocionais. Por essas razões, o tratamento psicológico presta inestimável ajuda no enfrentamento do tratamento oncológico.”

Por: Laura Campos – Psicóloga-oncológica do Americas Centro de Oncologia Integrado

Qualidade de vida nos mínimos detalhes

O corpo e a mente estão sempre juntos, na saúde e na doença. A função dos cuidados paliativos é cuidar e fortalecer essa união quando a vida ameaça acabar com ela.

Receber o diagnóstico de uma doença terminal é tão doloroso para o corpo, quanto para a mente. A partir desse momento, a presença de um paliativista já se torna essencial, porque o profissional se comunica de forma transparente e compassiva,  colaborando para que o paciente e sua família compreendam o que está acontecendo e o que vai acontecer de forma mais leve.

O tratamento médico convencional permanece, associado ao suporte emocional, social, espiritual, e até mesmo físico de uma equipe multidisciplinar. Os cuidados paliativos priorizam o bem-estar e a autonomia do paciente, além de minimizar recursos invasivos. No entanto, alguns destes recursos podem ajudar a reduzir o sofrimento, como uma cirurgia para reduzir o tamanho de um tumor, atenuando a dor que ele provoca  e o impacto da sua presença.

Evita-se também a obstinação terapêutica, que é o prolongamento artificial da vida sem benefício do paciente. Como deixá-lo na UTI para substituir um órgão sem a possibilidade de regeneração. Sem contar que na UTI o horário e o número de visitas é apertado, aumentando o isolamento social.

O cuidado paliativo se encontra nos mínimos detalhes, como não forçar o paciente a comer mais do que ele está acostumado, incentivar a visita de familiares e amigos, providenciar refeições diferentes das usuais em momentos especiais, e até mesmo realizar terapia assistida por animais. A interação de cães treinados com os pacientes provoca, entre outras vantagens, ganhos na mobilidade. 

Um estudo americano chegou a conclusão que pessoas receberam cuidados paliativos precocemente, associados ao tratamento usual tiveram mais qualidade de vida e menos sintomas depressivos. A  a redução de procedimentos agressivos também aumentou a sobrevida em quase 3 meses a mais.

“A ideia de que a medicina é uma luta contra a morte está errada. A medicina é uma luta pela vida boa, da qual a morte faz parte.”    Rubem Alves 

Novo olhar para o câncer

Embora jovem, a Psico-Oncologia já é realidade nos grandes centros, onde avançam as pesquisas científicas e comprova-se a importância deste profissional no acompanhamento de pacientes com câncer.

A psicóloga, pós-graduada em Oncologia, e mestre em Saúde e Ambiente, e professora do curso de Psicologia da Uniplac, Caroline Carnevalli, dedica-se à área e teve, recentemente, um artigo publicado na revista americana de Oncologia, a International Journal of Development Research.

“As evidências destacam que a união da Psicologia com a Oncologia tem sido avaliada como algo favorável, aumentando a sobrevida, a possibilidade de escolhas reais, a qualidade de vida e o fortalecimento emocional”, explica Caroline. “Até mesmo nos casos de terminalidade, momento de decisões e sentimentos bastante peculiares.”

No seu artigo intitulado “Do sintoma ao diagnóstico e tratamento: Ambiente e saúde percebidos pelo paciente oncológico”, Caroline objetivou conhecer junto ao paciente com câncer, aspectos de sua saúde e de seu ambiente, no intervalo de tempo entre o sintoma, diagnóstico e tratamento.

“Constatei que os pacientes reconhecem como sintomas apenas aqueles associados à dor, relativizando os demais. E que o diagnóstico é o momento mais difícil de ser vivenciado, por ser acompanhado da necessidade de certezas e, ao mesmo tempo, de receios frente a elas”, explica.

Segundo a psicóloga, ansiedade, medo, insegurança, incerteza, estranheza, percepção de mutilação, amargura, rancor, estresse, angústia, apreensão, ressentimento, muito comuns à maioria dos pacientes oncológicos, atestam a importância do acompanhamento profissional especializado, para contribuir à adoção de estratégias saudáveis de enfrentamento da doença.

Pesquisa

Para a elaboração de seu trabalho, Caroline entrevistou 34 pacientes por um período de cinco meses. Nas conversas, buscou respostas para questões: Do período da descoberta do sintoma (aquele em que o paciente sente/percebe que algo está diferente em seu corpo), até o diagnóstico realizado através de exames/consulta médica e o tratamento, quais as transformações que ocorrem na vida das pessoas?; Quais mecanismos são acionados internamente para o enfrentamento deste período de tempo?; Os elementos vindos do ambiente familiar ou social são contributivos?.

Enfim, estas e outras questões relacionam-se a aspectos emocionais que sofrem importantes transformações decorrentes da hipótese da existência de uma doença grave como o câncer. “Esse foi o objetivo principal do meu trabalho. Conhecer a percepção do paciente oncológico sobre sua saúde e sobre o ambiente onde está inserido, no intervalo de tempo entre o sintoma, o diagnóstico e o tratamento”, explica a professora do curso de Psicologia da Uniplac.

O diagnóstico como maior sofrimento

A psicóloga conta que o diagnóstico foi descrito pelos pacientes como o período mais difícil de se enfrentar, quando comparado aos sintomas e o tratamento. Porém, diante da subjetividade humana, Caroline ressalta essa opinião não é unanimidade, o que demonstra o quanto o profissional de saúde deve estar atento, dispor de tempo e conhecimentos especializados.

“Nestes casos, o psicólogo oncologista é o profissional capacitado para auxiliar e contribuir para o bem-estar, pois como este estudo evidenciou, as questões emocionais apresentadas não foram de menor valor, mesmo que ainda comparadas, por exemplo, a algo que os participantes julgam significativo como a dor física”, ressalta.

A saúde como prioridade

A saúde é considerada por grande parte da população um bem imprescindível. Assim, é muito natural entender que os pacientes diagnosticados com câncer se fragilizem, e isso refletirá em seu comportamento e até na própria saúde.

Fatores como a ameaça de morte iminente, o abalo emocional na hora do diagnóstico, o cansaço por conta do tratamento e a diminuição da rede de apoio pelo longo processo de tratamento, são exemplos de situações prejudiciais ao emocional.

A psicóloga explica que diante da identificação do sintoma, da confirmação do diagnóstico de câncer e do início do tratamento, as transformações nos aspectos gerais da vida do paciente se tornam inevitáveis. Mudanças significativas e, muitas vezes, bruscas ocorrem nos ambientes social, de trabalho e familiar.

“Não há como evitar as modificações em suas rotinas e comportamentos, bem como em seus modos de pensar, agir e acreditar”, explica Caroline. Tais transformações, em geral, se dão associadas ao fato de a doença vir acompanhada de um estigma de morte, coagindo o paciente a “recalcular sua rota”.

Caroline pôde concluir, também, que em virtude do tratamento, os pacientes perdem o interesse que habitualmente tinham por momentos de lazer. “Apesar disso, relatam como fundamental a permanência e compreensão dos amigos neste processo de enfrentamento da doença.”

“Já no ambiente familiar, ficou evidente o quanto as relações se amplificam a partir do diagnóstico. Destaque também para o fato de melhora na relação familiar, os pacientes elegem sempre alguém com quem possam contar de maneira mais próxima. No entanto, essa proximidade não necessariamente se mostrou no plano físico, mas sim emocional, no sentido de confiança e conforto”, explica.

Rotina interrompida

Um ponto marcante da pesquisa foi o aspecto ambiente de trabalho. Nessa situação, ficou evidente que os pacientes sentem o rompimento, seja temporário ou permanente como uma perda. A intensidade deste sentimento se dá em virtude de a doença não deixar ao paciente opção de escolha, somente a necessidade de cuidados mais específicos. “Nesse caso, como mecanismo de enfrentamento, os pacientes utilizam a fé, a negação e a procura por outras alternativas de forma mais expressiva”, afirma a psicóloga.

Por tudo o que foi destacado, não há dúvidas de que a Psico-Oncologia surge como uma possibilidade à necessidade emergencial de atender os aspectos emocionais frente ao câncer. Seja no período da descoberta do sintoma, da confirmação do diagnóstico, durante o tratamento, ou ainda quando a possibilidade de cura não é mais possível.

“As evidências destacam que a união da Psicologia e da Oncologia tem sido avaliada como algo favorável, aumentando a sobrevida, a possibilidade de escolhas reais, a qualidade de vida e o fortalecimento emocional até mesmo nos casos de terminalidade”, conclui.

Fonte: Correio Lageano

Suicídio

Suicídio sempre foi um tema polêmico e cercado de tabus, assim como o câncer, os transtornos mentais e as doenças infectocontagiosas. Hoje, não conseguimos mais “escapar” destes temas, porque estamos vivendo um momento em que as notícias são divulgadas, muitas vezes, em tempo real. Um assunto que antigamente era mantido entre quatro paredes, hoje é questão em constante discussão e inclusive existem séries na internet que abordam claramente o tema. O assunto é tratado com muito mais naturalidade e realmente deve ser, porque temos presenciado casos nas escolas dos nossos filhos. Onde estamos errando? Qual a nossa parcela de culpa e qual a parcela da sociedade? Como minimizar os efeitos que podem fazer uma pessoa tirar a vida?

Em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 – um aumento de quase 10%.

O Brasil é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo (OMS – Organização Mundial da Saúde, 2014). Foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos em 2014. Nesta faixa etária, a taxa de suicídio é sempre um pouco superior em relação às outras idades (Waiselfisz, 2014).

Segundo a OMS o crescimento das taxas de depressão, doenças crônicas, ansiedade e mesmo suicídios, reflete o tipo de sociedade e relações sociais que a humanidade tem desenvolvido nas últimas décadas, associado aos valores que “adquirimos” da nossa educação e das experiências de vida. Tudo isto vai nortear nossa história.

O suicídio na juventude intriga profissionais de saúde, pais e professores pelo paradoxo que representa: o sofrimento num período da vida de descobertas, alegrias e amizades e não de morte. Segundo especialistas, o problema também está associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais – violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying. Existe também muita cobrança por competitividade, nota e sucesso.

Enfim, temos que cumprir um aprendizado contínuo e entendermos a dinâmica do mundo atual, para conseguir ajudar as pessoas que fazem parte da nossa vida. A educação tem um grande peso para garantir bem-estar, equilíbrio e qualidade de vida.

Dra. Patrícia Pereira Faure / Dr. Ricardo Faure

Fonte: Site – Globo.com

 

Como Conversar com outras pessoas sobre o meu Diagnóstico de Câncer?

Família

O câncer afeta a rotina e as atividades de todos os membros da família e o seu diagnóstico pode fazer com que seus entes queridos queiram ajudá-lo ou que até mesmo queiram assumir coisas que antes você fazia sozinho. Você deve conversar com seus familiares sobre as mudanças que precisam ser realizadas em suas rotinas familiares e também devem tomar decisões e trabalhar em conjunto. O trabalho em equipe faz com que todos se sintam mais confortáveis com as mudanças em suas vidas familiares.

Proteção x Compartilhamento

Como mencionamos acima, o diagnóstico de câncer afeta toda a família, não só a pessoa doente. Às vezes, algum familiar tenta proteger você ou outros membros da família de noticias perturbadoras. Mas, não é possível proteger alguém o tempo todo, além de ser uma energia que poderia ser usada de uma forma melhor. Algumas famílias tentam proteger a pessoa com câncer, mas isso pode causar tensão e confusão quando as pessoas tentam agir como se tudo estivesse normal. Se você acha que sua família está fazendo isso, diga delicadamente que prefere saber por eles qualquer notícia sobre sua saúde, ao invés de tentar dar sentido às mensagens conflitantes que chegam à você.

Quando você permite que seus familiares saibam o que você sente emocionalmente e fisicamente, eles serão capazes de o entender melhor, dar maior apoio e ajudá-lo na tomada de decisões.

Lidando com Sentimentos Inesperados

Em alguns momentos, você pode achar que está liberando sua raiva e frustrações sobre as pessoas que mais você se preocupa. E, mesmo nas famílias mais amorosas, alguns às vezes sentem ressentimento ou raiva quando um dos membros está doente e não pode realizar suas atividades. Isto é mais frequente quando as mudanças duram mais tempo.

Embora este tipo de raiva possa confundir e aborrecer os membros da família, é uma resposta comum a uma mudança na vida. A melhor coisa que você pode fazer para o outro é ser honesto sobre o que está sentindo. Temores sobre o futuro e sentimentos de culpa, frustração e confusão são frequentemente menos perturbadoras quando você os compartilha com os outros de forma calma e honesta. Fazendo isto, você pode ajudar a todos a aliviar o peso de medos e preocupações.

Às vezes você e seus familiares se sentirão fora de sincronia um com o outro. Por exemplo, você pode se sentir esperançosa, enquanto seu esposo está sentindo medo. Lembre-se de que as pessoas reagem de forma diferente a situações estressantes. Alguns familiares podem ficar mais absorvidos no trabalho ou passar mais tempo longe de casa. Outros podem ficar em casa, mas se afastam emocionalmente com o tempo que passam assistindo TV, lendo ou jogando videogame. Ainda outros podem se tornar excessivamente envolvidos em seu tratamento ou vida pessoal. Embora possa ser algo difícil de se fazer, falar das diferenças em como lidar com a doença os ajudará a respeitar e entender um ao outro e, no fim, também ajudará a trabalharem juntos.

Conversando com as Crianças sobre o Câncer

A reação de uma criança a uma notícia triste muitas vezes depende de como os adultos lidam com o assunto. Muitas vezes os adultos têm seus próprios sentimentos sobre a doença e querem proteger os filhos de seus medos e preocupações. Membros da família devem decidir qual o melhor momento para falar com seus filhos sobre o câncer.

Lembre-se que se não são dadas às crianças respostas honestas do que eles realmente imaginam, o que pode ser pior e ainda mais perturbador. Adultos e crianças podem aprender a lidar com o câncer e seus tratamentos. Ao falar com crianças sobre câncer, você deve dar-lhes informações verdadeiras e de fácil compreensão para eles. É claro que deve-se dar às crianças a oportunidade de fazer perguntas e de ter suas respostas. Se você sente que precisa de ajuda especializada, contate um assistente social ou psicólogo da escola para conversar com seu filho.

Relacionamentos

Se você é solteiro(a), pode ter receio de compartilhar seu diagnóstico com uma pessoa que está apenas começando a conhecer. Confie em si e espere o melhor momento para falar. Procure ajudar seu parceiro a lidar com a situação e não assuma que seu relacionamento vai piorar por causa do câncer.

Familiares e Amigos

Cabe a você decidir se e quando quer falar sobre seu diagnóstico de câncer com amigos e parentes. Você pode inicialmente contar só para sua esposa ou marido, alguns amigos íntimos ou familiares. Ao longo do tempo, você pode querer compartilhar com um círculo de amigos e entes queridos. De forma geral, é melhor ser honesto. Manter o seu diagnóstico em segredo pode levar mais estresse em um momento no qual você precisa do apoio de outras pessoas. Lembre-se, também, que seus amigos provavelmente terão conhecimento sobre seu câncer em algum momento e podem se sentir magoados se você não mencionou a doença. Isto, às vezes, pode fazer com que seja mais difícil receber apoio no futuro.

Antes de falar aos outros sobre a sua doença, pense em seus próprios sentimentos, suas razões para contar e o que você espera deles. Saiba, as pessoas reagem de diferentes formas à notícia. Elas muitas vezes não sabem o que dizer e se sentem incomodadas e desconfortáveis. Também podem se sentir tristes ou com medo de lhe irritar, o que faz com que se afastem sem explicação. Alguns podem tornar-se excessivamente cuidadosos e, outros, podem fazer muitas perguntas pessoais.

Às vezes, as pessoas não desejam, mas reagem de maneira dolorosa por causa de seu próprio medo ou falta de informação. Por exemplo, alguém pode dizer, “Eu sei como você se sente,” sendo que nunca teve câncer. Ou, alguém pode contar uma história triste sobre outra pessoa com câncer que morreu, e é a última coisa que você deseja ou precisa ouvir! Às vezes, as pessoas só falam porque eles sentem a necessidade de responder, mesmo que não saibam o que dizer. Você pode ajudá-los, dizendo-lhes que aspectos falar (ou não). Você também pode dizer que só precisa deles para ouvi-lo.

Provavelmente seus amigos querem ajudá-lo da maneira que podem, mas não têm certeza de como serem úteis. Por isso, é importante que esteja preparado para dizer como podem lhe ajudar. Você pode perguntar se podem realizar algumas tarefas, como levá-lo à uma consulta, fazer compras de supermercado, cortar a grama, levar seus filhos para atividades desportivas ou escola, ou cuidar do seu animal de estimação.

Em suma, é importante que seja sempre direto e expresse suas necessidades e sentimentos abertamente. É mais estressante esconder as emoções do que ter que expressá-las. Compartilhar seus sentimentos pode ajudar você e as pessoas próximas.

Fonte: Oncoguia

Atenção aos aspectos psicológicos no tratamento de câncer

Cerca de 1 em cada 5 pacientes com câncer desenvolve transtorno de estresse pós-traumático (do inglês, PTSD) dentro de seis meses após o diagnóstico – e uma porcentagem ainda mantém sintomas relacionados ao PTSD quatro anos depois.

Os resultados são do estudo publicado em novembro na revista Cancer, periódico da American Cancer Society. Cientistas analisaram 245 pacientes ao longo de quatro anos e identificaram que quase 22% desenvolveram PTSD no período de seis meses após o diagnóstico. Quatro anos depois, mais de 6% (1;3 dos pacientes diagnosticados, 34,1%) apresentava PTSD persistente, com sintomas como sofrimento psicológico e problemas cognitivos. “Vários estudos têm mostrado a permanência de distúrbios psicológicos que podem ter consequências a longo prazo na saúde mental do paciente”, afirma a psico-oncologista Juciléia Rezende Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) e responsável pelo Serviço de Psico-Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UNB).

Segundo Juciléia, o estudo mostra a importância de avaliar o paciente e sua capacidade de lidar com a doença desde o início e evitar sequelas emocionais sérias. “Há anos a comunidade de psico-oncologia tem chamado a atenção para a necessidade de identificar precocemente esse paciente, para que seja encaminhado ao serviço de psico-oncologia desde o início do tratamento, e não apenas quando já apresenta algum sintoma. A partir do momento em que já existe um transtorno de stress pós-traumático instalado, é muito mais difícil manejar.”

No entanto, a especialista ressalta que estudos mostram que há um despreparo do profissional para esse encaminhamento, da mesma forma que mostra que o paciente tem dificuldade de discutir questões emocionais com os médicos durante o atendimento, como se fosse um fator de menor relevância. “Existe a necessidade de adotar ferramentas de triagem na rotina clínica da oncologia, como o termômetro de distress (TD), uma escala utilizada para detectar problemas de distress em pacientes com câncer.

“Além dessa ferramenta, que identifica o paciente que está em elevado nível de sofrimento, temos tentado avaliar características que são preditoras de risco, ou seja, identificar o paciente que apresenta vulnerabilidade e tem maior risco de desenvolver distúrbios de saúde mental”, diz.

Referência: Caryn Mei Hsien Chan et al. Course and predictors of post-traumatic stress disorder in a cohor of psychologically distressed patients with cancer: a 4-year follow-up study. First published: 20 November 2017. Cancer 2017. American Cancer Society

Fonte: Onconews

Psico-Oncologia: o acompanhamento do paciente com câncer

A Psico-Oncologia é a interface entre a psicologia e a oncologia (área que trata os tumores), na qual se utiliza todo o conhecimento da psicologia com o objetivo de aprimorar a assistência ao paciente, assim como aos familiares e amigos, e favorecer a atenção aos aspectos biopsicossociais e espirituais.

A Psico-Oncologia pode ajudar a esclarecer dúvidas agindo na prevenção, além de acompanhar o paciente com câncer e familiares e em alguns casos acompanhando uma doença em fase terminal. Sabemos hoje que o câncer está vinculado a uma série de fatores. Embora a hereditariedade e o fator genético tenham peso importante, o estilo de vida (atividade física, alimentação, stress, ansiedade) e os fatores ambientais contribuem de maneira importante para o surgimento da doença.

A vida de uma pessoa que recebe este diagnóstico muitas vezes “desaba”. Quais serão as consequências dessa doença? O que vai mudar na minha vida? O que não vou mais poder fazer a partir de agora? Como será meu tratamento? Quais as consequências ao meu corpo?

O paciente com câncer muitas vezes apresenta dificuldade em reconhecer necessidade de ajuda. Essa necessidade pode ser suprida pela família e amigos, mas muitas vezes os próprios familiares necessitam acompanhamento e acolhimento pela dificuldade em lidar com a doença que ainda é bastante estigmatizada. Não se sabe o final; existe uma luta, mas nem sempre com certeza de sucesso, além da perda do controle da vida vivida pela pessoa.

Com o envelhecimento da população em decorrência do aumento da expectativa de vida teremos mais casos de pacientes diagnosticados com câncer, por isso a Psico-Oncologia é uma área que merece atenção e desenvolvimento para que os pacientes possam se beneficiar deste acolhimento, o que pode determinar mudança no curso da doença.

Fonte: Sociedade Brasileira de Psico-Oncolgia
Dra. Patrícia Pereira Faure / Dr. Ricardo Faure