Novo olhar para o câncer
Embora jovem, a Psico-Oncologia já é realidade nos grandes centros, onde avançam as pesquisas científicas e comprova-se a importância deste profissional no acompanhamento de pacientes com câncer.
A psicóloga, pós-graduada em Oncologia, e mestre em Saúde e Ambiente, e professora do curso de Psicologia da Uniplac, Caroline Carnevalli, dedica-se à área e teve, recentemente, um artigo publicado na revista americana de Oncologia, a International Journal of Development Research.
“As evidências destacam que a união da Psicologia com a Oncologia tem sido avaliada como algo favorável, aumentando a sobrevida, a possibilidade de escolhas reais, a qualidade de vida e o fortalecimento emocional”, explica Caroline. “Até mesmo nos casos de terminalidade, momento de decisões e sentimentos bastante peculiares.”
No seu artigo intitulado “Do sintoma ao diagnóstico e tratamento: Ambiente e saúde percebidos pelo paciente oncológico”, Caroline objetivou conhecer junto ao paciente com câncer, aspectos de sua saúde e de seu ambiente, no intervalo de tempo entre o sintoma, diagnóstico e tratamento.
“Constatei que os pacientes reconhecem como sintomas apenas aqueles associados à dor, relativizando os demais. E que o diagnóstico é o momento mais difícil de ser vivenciado, por ser acompanhado da necessidade de certezas e, ao mesmo tempo, de receios frente a elas”, explica.
Segundo a psicóloga, ansiedade, medo, insegurança, incerteza, estranheza, percepção de mutilação, amargura, rancor, estresse, angústia, apreensão, ressentimento, muito comuns à maioria dos pacientes oncológicos, atestam a importância do acompanhamento profissional especializado, para contribuir à adoção de estratégias saudáveis de enfrentamento da doença.
Pesquisa
Para a elaboração de seu trabalho, Caroline entrevistou 34 pacientes por um período de cinco meses. Nas conversas, buscou respostas para questões: Do período da descoberta do sintoma (aquele em que o paciente sente/percebe que algo está diferente em seu corpo), até o diagnóstico realizado através de exames/consulta médica e o tratamento, quais as transformações que ocorrem na vida das pessoas?; Quais mecanismos são acionados internamente para o enfrentamento deste período de tempo?; Os elementos vindos do ambiente familiar ou social são contributivos?.
Enfim, estas e outras questões relacionam-se a aspectos emocionais que sofrem importantes transformações decorrentes da hipótese da existência de uma doença grave como o câncer. “Esse foi o objetivo principal do meu trabalho. Conhecer a percepção do paciente oncológico sobre sua saúde e sobre o ambiente onde está inserido, no intervalo de tempo entre o sintoma, o diagnóstico e o tratamento”, explica a professora do curso de Psicologia da Uniplac.
O diagnóstico como maior sofrimento
A psicóloga conta que o diagnóstico foi descrito pelos pacientes como o período mais difícil de se enfrentar, quando comparado aos sintomas e o tratamento. Porém, diante da subjetividade humana, Caroline ressalta essa opinião não é unanimidade, o que demonstra o quanto o profissional de saúde deve estar atento, dispor de tempo e conhecimentos especializados.
“Nestes casos, o psicólogo oncologista é o profissional capacitado para auxiliar e contribuir para o bem-estar, pois como este estudo evidenciou, as questões emocionais apresentadas não foram de menor valor, mesmo que ainda comparadas, por exemplo, a algo que os participantes julgam significativo como a dor física”, ressalta.
A saúde como prioridade
A saúde é considerada por grande parte da população um bem imprescindível. Assim, é muito natural entender que os pacientes diagnosticados com câncer se fragilizem, e isso refletirá em seu comportamento e até na própria saúde.
Fatores como a ameaça de morte iminente, o abalo emocional na hora do diagnóstico, o cansaço por conta do tratamento e a diminuição da rede de apoio pelo longo processo de tratamento, são exemplos de situações prejudiciais ao emocional.
A psicóloga explica que diante da identificação do sintoma, da confirmação do diagnóstico de câncer e do início do tratamento, as transformações nos aspectos gerais da vida do paciente se tornam inevitáveis. Mudanças significativas e, muitas vezes, bruscas ocorrem nos ambientes social, de trabalho e familiar.
“Não há como evitar as modificações em suas rotinas e comportamentos, bem como em seus modos de pensar, agir e acreditar”, explica Caroline. Tais transformações, em geral, se dão associadas ao fato de a doença vir acompanhada de um estigma de morte, coagindo o paciente a “recalcular sua rota”.
Caroline pôde concluir, também, que em virtude do tratamento, os pacientes perdem o interesse que habitualmente tinham por momentos de lazer. “Apesar disso, relatam como fundamental a permanência e compreensão dos amigos neste processo de enfrentamento da doença.”
“Já no ambiente familiar, ficou evidente o quanto as relações se amplificam a partir do diagnóstico. Destaque também para o fato de melhora na relação familiar, os pacientes elegem sempre alguém com quem possam contar de maneira mais próxima. No entanto, essa proximidade não necessariamente se mostrou no plano físico, mas sim emocional, no sentido de confiança e conforto”, explica.
Rotina interrompida
Um ponto marcante da pesquisa foi o aspecto ambiente de trabalho. Nessa situação, ficou evidente que os pacientes sentem o rompimento, seja temporário ou permanente como uma perda. A intensidade deste sentimento se dá em virtude de a doença não deixar ao paciente opção de escolha, somente a necessidade de cuidados mais específicos. “Nesse caso, como mecanismo de enfrentamento, os pacientes utilizam a fé, a negação e a procura por outras alternativas de forma mais expressiva”, afirma a psicóloga.
Por tudo o que foi destacado, não há dúvidas de que a Psico-Oncologia surge como uma possibilidade à necessidade emergencial de atender os aspectos emocionais frente ao câncer. Seja no período da descoberta do sintoma, da confirmação do diagnóstico, durante o tratamento, ou ainda quando a possibilidade de cura não é mais possível.
“As evidências destacam que a união da Psicologia e da Oncologia tem sido avaliada como algo favorável, aumentando a sobrevida, a possibilidade de escolhas reais, a qualidade de vida e o fortalecimento emocional até mesmo nos casos de terminalidade”, conclui.
Fonte: Correio Lageano