Amor de Mãe

Há quem argumente que, desde Eurípedes (poeta grego do século V a.C.), as mulheres têm sido protagonistas absolutas da dramaturgia. No Brasil, com a ampla tradição das telenovelas, essa é uma realidade. “Mas a dramaturgia ficou muito refém das histórias de amor. E o amor, numa piração muito louca, começou a justificar tudo. E todas as outras histórias, os amores filiais, a relação de aprendiz e mestre, tantas outras relações que mobilizam a gente, que te levam para a frente e te definem como ser humano cederam lugar a essa obsessão com o amor romântico”. Quem faz essa reflexão é Manuela Dias, 42 anos, roteirista da TV Globo há 20, responsável por levar o afeto maternal de volta ao horário nobre com Amor de Mãe, novela que estreará nesta segunda-feira, 25 de novembro.

Protagonizada por Regina Casé, Taís Araújo e Adriana Esteves, a trama tratará das diferentes relações familiares de suas personagens e da arte da maternidade possível. Estreia de Manuela como autora de novela, o novo projeto recebe sua dedicação há três anos, mesma idade de sua filha. “Engravidei quando estava fazendo a série, aí Helena nasceu e foi aquela avalanche louca e esse superpoder que é ser mãe. É um negócio doido, porque mãe dá o que não tem. É uma espécie de mágica. E a gente vive num país em que as pessoas não têm pai, né?”. A autora lembra que 6 dos 11 titulares do Brasil na Copa de futebol masculino cresceram distantes do pai biológico. “E isso é uma média. Eu já dei aula na Cidade de Deus durante dois anos e não é uma questão de classe. Eu mesma tenho pai, ele esteve ali, um pai hiperamoroso, querido, mas que não fazia parte da estrutura da criação”, conta ela na sala do seu escritório no Rio de Janeiro. O lugar, com toda uma parede tomada por livros e cantos decorados com quadros, objetos de valor afetivo e lembranças de viagens, tem jeito de casa. Era ali que ela morava até a filha chegar em sua vida.

O primeiro lampejo de ideia foi o nome da novela. “Essa coisa do Brasil como mátria, esse país que é levado por essas mulheres fodas, que criam três, quatro, cinco filhos, sempre me comoveu. Quando eu mesma virei mãe, isso ganhou um relevo muito forte”, diz Manuela. Como boa “baiana, ariana, intensa”, como ela mesma se descreve, pontua cada frase com amplos gestos dos braços e mãos. Os adjetivos são abundantes em seu vocabulário.

A seguinte reflexão da autora foi sobre como a maternidade é um corte vertical em uma sociedade extremamente estratificada. Não à toa, outra questão central de Amor de Mãe é a desigualdade social. Tanto na ficção quanto na vida, cada mulher resolve seus problemas dentro de suas possibilidades. “Uma mãe rica, se o filho pega uma virose, leva ele para o Copa D’Or [hospital particular de Copacabana]. Em cinco minutos, ele está atendido e fica bom em três dias, porque ele também faz acupuntura, toma homeopatia…”, exemplifica, sem se excluir da problematização: “É muito louco, minha manicure engravidou junto comigo, a filha dela nasceu 20 dias depois da minha, e ela não sabia quem ia fazer o parto dela. Porque, no SUS, você não sabe. Eu não conseguia imaginar a possibilidade de, num momento tão decisivo da minha vida, ter que lidar com uma pessoa que eu nunca tinha visto. Então, os desafios são muito diferentes e essa diferença é muito injusta. Gostaria de mobilizar as pessoas para que nós, privilegiados, tenhamos consciência dos nossos privilégios. Eu crio minha filha falando pra ela: ‘Filha, você é uma pessoa privilegiada. Claro que isso vai te jogar mais longe, vai te abrir mais portas, mas isso não pode fazer você esquecer que o custo desse privilégio é um monte de gente que não tem o mesmo que você’”.

Apesar desse posicionamento, a autora diz que não pretende “atingir ninguém pela cabeça”, e sim pelo coração. Ela conta que, durante o processo de escrita, deparou-se com uma página no Facebook, Eu, empregada doméstica. “Aí eu vi que estamos na Idade Média. Eu li a história de uma mulher que aprendeu a fazer cocô num pote de sorvete, porque a casa só tinha um banheiro e ela não podia usá-lo. São relatos comoventes e não são únicos. Tem pessoas trabalhando só para comer, é escravidão. E não estou falando dos recantos do Brasil, estou falando de São Paulo. Talher separado, copo, comida separada é praxe no Brasil. Tem que lavar o prato da empregada no tanque… Coisas que não fazem sentido nenhum. Essa pessoa mete a mão na sua comida! Por que ela não pode lavar o prato na pia? Ela não pode dividir a bucha?! É uma coisa muito louca”, questiona, agitada.

Manuela conta que adoraria que um personagem seu conseguisse mobilizar algo como a criação de uma lei que obrigue que funcionários possam usar os banheiros das casas em que trabalham —no Brasil, empresas têm obrigação de fornecer isso, espaços domésticos, não. “Essa é uma das minhas pretensões. Como a novela toca nessa questão de classe, eu só estou querendo que a gente se olhe. Isso, para mim, é bem importante: a dramaturgia tem uma função, a de fazer a gente exercitar nosso elástico moral, essa malha imaginária que nos ajuda a reagir”.

Ela também fala das relações raciais. Em Amor de Mãe, a personagem mais rica é interpretada por Taís Araújo. “E existe uma tentação de explicar porque a minha única protagonista negra é a mais rica. Mas eu não vou explicar. Porque o nosso vício pede uma explicação, e eu quero quebrar esse vício. A Érica Januza [outra atriz negra] é uma tenista, e até meus colaboradores sugeriram explicar que ela participou de um projeto de uma ONG, porque tênis é um esporte de rico. Não, gente, vamos naturalizar!”, argumenta.

Culpa e finais felizes

Manuela acredita que, com a mãe, nasce a culpa. “É foda. Eu tenho um suavizante por ser baiana, né? A prateleira da culpa é pouquinho menor na nossa loja e não dá para colocar muita coisa [risos]. Mas a mãe é o elemento mais central e mais desvalorizado, no sentido de que é tão garantido, sabe? Se ela não dorme por dez noites, é porque ‘mãe é mãe’. Aí o pai troca uma fralda e as pessoas se jogam pelo chão: ‘Ai, gente, ele troca fralda!’, imita com voz aguda e animada. Sim, ele troca fralda, é normal. Você, mãe, resolve tudo, não tem uma palma, ninguém levanta uma sobrancelha por isso. Eu tenho muita vontade de fazer uma ode a essa mãe, quero bater palma e falar ‘vocês são demais!’ [diz, enquanto bate palmas]. E eu me incluo nisso, porque eu boto minha filha para dormir todo dia, escrevendo uma novela das nove. Levo pra escola, dou jantar… E esse esforço significa não dormir. Ser mãe é muito isso, seja fazendo novela das nove ou sendo funcionária na casa de alguém”, desabafa.

Ela diz que não quer escrever uma novela de 6.000 páginas para que as pessoas fiquem ricas e casem no final. “Eu acho que o final feliz é a coisa mais subversiva que existe, mas na tragédia grega, no film noir, as pessoas já foram felizes com coisas muito mais profundas do que a alegria. Ou a riqueza ou o casamento. Quero que, no fim, pessoas fiquem felizes na novela com outras coisas, com outras formas de amor, que é outra das coisas mais subversivas que existem atualmente”.

 

Fonte: EL PAÍS

Depressão pós-parto

Nove meses de expectativa não é pouco! Quantos cenários já foram imaginados?

O bebê nascendo, o bebê mamando, o quartinho, as roupinhas, a primeira palavra, o primeiro passo, as fotinhos, enfim, todos os momentos que estão por vir alimentam as expectativas da mãe.

A bolsa rompe, o trabalho de parto começa…Vish! É um stress que só. Mas o bebe acaba nascendo e a emoção é grande: finalmente todos as fantasias maternas vão se realizar.

Só que em 80% dos casos acaba não sendo assim. Por diversas razões.

Durante a gravidez, além das altas expectativas,  também ocorre um pico nos hormônios, principalmente no estrogênio e na progesterona, que se associam ao humor. Assim que a mãe dá a luz, esses níveis despencam e podem causar uma tristeza fisiológica na mulher, chamada de Baby Blues.

Essa tristeza costuma aparecer alguns dias depois do parto e dura no máximo 15 dias. A mulher é tomada por uma sensação de melancolia e desânimo, acompanhados de um certo cansaço e frustração. Mas nada que atrapalhe sua vontade de viver, seus interesses e seus cuidados com o bebê.

Além das questões fisiológicas também tem a questão da privação de sono e da mudança da rotina, que podem dar uma balançada no humor!

Depois de duas semanas, a compensação de hormônios retorna, a mãe se adapta à nova rotina e ao novo ser que a acompanha, e tudo volta ao normal. O problema é quando essa tal tristeza vai aparecendo gradativamente, até que em um mês ou em até seis meses após o parto, ela se torna um fardo na vida da mulher.

Aí já é motivo de preocupação. A mãe sente um desânimo descomunal, que bagunça a sua rotina, rouba seus interesses e a afasta de todos, inclusive do seu filho. Nessa ocasião, o motivo é a depressão pós-parto.

 Segundo revelam as estatísticas americanas, a depressão pós-parto acomete em torno de 10% a 15% das mulheres.

Mulheres que já tiveram depressão em algum momento da vida apresentam grandes chances de ter depressão-pós parto, mesmo que já tiverem tratado. Inclusive, se a depressão ocorreu logo após o nascimento do primeiro filho, a chance de ter novamente após o nascimento do segundo filho é de 50%.

Infelizmente, muitas mães não bola para o que estão sentindo, muito menos as pessoas à sua volta. E isso não deve acontecer. A depressão pós-parto tem a mesma gravidade que uma depressão comum e vai muito além da relação de mãe e filho. Ela afeta todas as esferas da vida da mulher.

Tratamento

São indicados alguns antidepressivos específicos que passam menos para o leite materno e o esquema é discutido com a mulher. Uma das sugestões é desprezar o leite colhido algumas horas depois de tomada a medicação, aquele em que os componentes da droga estão mais concentrados, e oferecer o colhido mais tarde. Isso diminui a exposição da criança ao antidepressivo e permite utilizá-lo durante o aleitamento.

 O tratamento medicamentoso é sempre fundamental. Embora algumas depressões desapareçam espontaneamente, uma porcentagem significativa se cronifica. E tem mais: se não for tratado, o episódio agudo pode deixar um resíduo que se confunde com a distimia, uma forma de depressão mais leve, crônica, que interfere na capacidade de raciocínio e no desempenho funcional. Muitas vezes, essa depressão contínua é considerada um traço da personalidade da mulher e nenhuma providencia efetiva é posta em prática.

Como a depressão em geral tem múltiplos fatores determinantes, isto é, não é provocada só por condições biológicas, mas tem fatores sociais e familiares envolvidos, a psicoterapia individual ajuda a mulher a lidar melhor com o problema e a descobrir que tem um potencial que precisa ser estimulado.

Psicose Puerperal

 Depressão pós-parto e psicose puerperal são quadros muito diferentes. Felizmente, os casos de psicose são raros. A prevalência é de um caso para cada cem mil nascimentos.

O início da psicose puerperal é precoce. Durante a primeira semana depois do parto, a mulher perde o contato com a realidade e começa a acreditar em coisas que não existem, a ouvir vozes, a ter a sensação de incorporações com entidades, delírios e crenças irracionais.

Fonte

Sobre amamentar em público

A Organização Mundial da Saúde afirma que a amamentação é essencial para o bebê durante seus primeiros seis meses de vida.  A UNICEF avaliou 123 países e concluiu que 95% dos bebês do mundo são amamentados. Existem leis em diversos países que protegem as mães que amamentam e proíbem a sua discriminação, mas ainda assim o ato de amamentar ainda constrange as mulheres e incomoda quem está por perto.

É constrangedor

A marca de sutiã Milx realizou uma pesquisa com mil homens e mulheres  e descobriu que uma em cada três pessoas entrevistadas se sentiram constrangidas ou tiveram uma parceira que se sentiu assim ao amamentar em público.

Enquanto nos Estados Unidos, na Noruega, Suécia e na Finlândia o ato de amamentar em público é bem aceito, na França e no País de Gales já não é bem assim. Principalmente porque as próprias mulheres ainda sentem medo do julgamento.

É crime

Há lugares que amamentar em público é considerado ilegal! Na Arábia Saudita é proibido expor os seios em público, mesmo que for para amamentar, pois desrespeita a religião islâmica. Ironicamente, lá as mulheres são incentivadas a amamentar o bebê até os dois anos de idade.

É vulgar

Infelizmente, amamentar ainda é confundido como um ato de vulgaridade, de exposição, e como citado anteriormente, como ato de colocar os seios para fora. Inclusive, muitas mulheres, antes de serem mães, também enxergavam a amamentação em público de forma negativa. Até terem um filho e perceberem que não é uma mera vontade se mostrar e sim uma necessidade de alimentar o seu bebê na hora que ele sente fome.

Outro fator que colabora para o preconceito é a visão que a sociedade ainda tem sobre a mulher como objeto sexual. Os peitos então, nem se fala! Não é a toa que são censurados o tempo todo, ao contrário dos mamilos masculinos.

É ameaçador

A perspectiva conservadora sufoca mais ainda quando as mulheres conquistam liberdades que nunca tiveram, como a de amamentar em público. Uma mera necessidade humana se torna um ato de resistência perante a uma sociedade que sempre privou o feminino de tudo. Ver as mulheres usufruindo de direitos sequer cogitados anos atrás, é considerado uma ameaça, um sinal de que dia após dia, novos espaços serão tomados por elas (por nós).

É íntimo

A divergência entre privado e público também fala alto. As pessoas enxergam a amamentação como um ato privado, como ir ao banheiro, se despir, tomar banho, tira caquinha do nariz.

Desconstrução do preconceito

No fim, é tudo uma mera construção social e o segredo é educar a todos sobre o assunto. Mostrar que é normal, é natural, é humano. As mulheres não estão querendo provocar ninguém ao colocar ao expor os seios por alguns segundos, que é o tempo que o bebê demora para começar a sugar.

Movimentos como a Semana Mundial de Amamentação (WBW), de 1 a 7 de agosto, promovidos pela Aliança Mundial para Ação em Amamentação, que fica na Malásia, estão trabalhando para se opor a essa concepção, com o objetivo de proteger, promover e apoiar a amamentação, tornando-a menos um momento privado e mais uma função biológica e natural que não se limita a um lugar particular.

No ano passado, como parte da WBW, quase 23 mil mulheres em 28 países diferentes participaram do Global Big Latch On, um evento de amamentação simultânea em público fundado na Nova Zelândia em 2005.

A licença de maternidade acabou! E agora?

Todos esses meses, juntinho do bebê 24h por dia, 7 dias por semana! Mas agora chegou a hora de voltar a trabalhar, acompanhada de culpa, medo, ansiedade, preocupação e mais um turbilhão de perguntas: Como vou me separar do bebê? Será que ele vai aguentar ficar longe de mim? E se ele se machucar? E se eu perder algum momento especial?

Por incrível que pareça, a separação temporária entre mãe e filho costuma ser pior para as mães! Além do apego materno, também há todas aquelas comparações com outras famílias e a pressão de ser uma mãe perfeita,100% presente e que dá conta de tudo. No entanto, a realidade mostra que toda essa construção de maternidade é uma mera expectativa.

A ansiedade que toma conta da mãe na hora do doloroso “tchau” influencia a criança, que pode passar mal, ter dores de cabeça, taquicardia e até mesmo se isolar.

Vamos passar algumas dicas de adaptação para tornar esses momentos o menos dolorosos possíveis.

Adaptação do bebê

Com quem deixar o bebê?

Essa é uma decisão pessoal e que deve ser tomada com tempo! Não adianta deixar para decidir na última hora. Durante a gestação, você já pode pesquisar, conversar com outras mulheres, pensar em pessoas de confiança, até mesmo em creches. É essencial que você escolha alguém ou algum lugar que você acredita e confia completamente.

Como preparar a criança?

É interessante ficar um pouco longe da criança antes mesmo da licença acabar. Escolha alguns dias para fazer atividades longe do bebê e o deixe com alguém de confiança ou em uma creche. Assim, tanto você, quanto ele já vão se acostumando com a nova rotina e a mudança não acontece de forma abrupta.

O bebê está chorando, e agora?

Saiba que é normal a criança começar a chorar nos momentos de despedida e está tudo bem. Tente conversar com ela, acalmá-la e passar segurança. Deixe claro que você vai voltar. E o mais importante:

Não saia escondida

Uma hora ou outra, seu filho vai perceber que você desapereceu e vai pensar que foi abandonado. Dê tchau de forma segura e sem chororô. Com o tempo ele vai perceber que você sempre volta e vai se acostumar.

Outros comportamentos que são normais nesse período é a falta de fome e de sono. Qualquer ser humano que passe por mudanças acaba se sentindo mais ansioso e, consequentemente, há um desequilíbrio no funcionamento do corpo, que eventualmente se normalizam. E melhor, preparam o bebê para lidar com a separação de forma mais saudável e madura.

Amamentação

A amamentação também pode continuar tranquilamente. Durante a semana, enquanto você estiver longe do bebê, ordenhe seu leite e entregue-o para quem for cuidar dele.

Mães, respirem fundo

Como lidar com a culpa de “deixar” o bebê com outra pessoa?

Se pergunte:

Eu preciso voltar a trabalhar?

Eu quero voltar a trabalhar?

Tome consciência dos seus sentimentos e vontades, isso vai te ajudar a se sentir menos culpada.

Aceite que no início vai ser sofrido, mas acredite que vai ser bom para ambos a longo prazo.

Com o tempo, você retoma sua rotina e percebe que está tudo bem com o seu filhote.

Também é interessante levar uma fotinho do bebê para o trabalho ou até mesmo ligar para ele de vez em quando. Mas não deixe isso se tornar excessivo.

Por fim, converse com outras mães, pesquise, você não está sozinha! Milhares de mulheres passam por isso e tem muito a compartilhar

Fontes: Macete de Mãe e Gazeta do Povo

Xô, ansiedade!

É importante saber que, em mulheres com menos de 35 anos, o período médio para engravidar é de um ano. Já em mulheres acima dos 35, é de seis meses.

Este período, seguido de sucessivas tentativas, é inundado de ansiedade e estresse. Enquanto o bebê não vem, a angustia de possivelmente nunca tê-lo permanece firme e forte.

Infelizmente, o estado emocional tem muita relação com a fertilidade, e, consequentemente, gera um efeito dominó:

-O estresse diminui a capacidade reprodutiva de ambos os sexos.

-A dificuldade de engravidar gera frustração, ansiedade e depressão.

-A ansiedade pode alterar o ciclo menstrual da mulher, influenciando na ovulação, e assim, na capacidade de conseguir uma gestação.

No entanto, é necessário ter certeza de que o único “problema” é o tempo a geração de angustias que ele causa. O recomendado é realizar exames para eliminar alternativas que envolvam doenças, como a endometriose e inflamações pélvicas.

Quando o assunto é gravidez, não há como generalizar. Cada caso é um caso, e deve sempre ser acompanhado por um médico. É preciso ter em mente que as mulheres não tem a mesma facilidade para engravidar. Umas demoram mais e outras menos, e isso é completamente normal.

Independente de tudo, a calma sempre deve estar presente. Praticar exercícios físicos é um bom começo para aliviar o estresse.

Maternidade no Netflix

Maternidade é uma palavra muito usada, mas pouco entendida. Suposições, não faltam! Até de quem nunca foi mãe.

Maternidade pode ser um dos momentos mais profundos e complexos na vida de uma mulher, e até por isso, acaba sendo um pouco solitário e confuso. Não existem cursos e nem preparações suficientes para se tornar mãe. Assim que o bebê nasce, também nasce uma nova mulher, uma mãe.

Maternidade vai muito além de criar um bebê. É também se redescobrir, se adaptar às mudanças e lidar com um turbilhão de emoções (e choros).

Que tal escutar o que outras mulheres, que já passaram por isso, tem a falar? Cada uma com suas experiências, algumas únicas e muitas similares entre si. Enxergar que você não está sozinha e que não há regras a serem seguidas é o começo para se sentir mais mãe, do seu jeitinho.

Então segue uma lista filmes, séries e documentários no Netflix sobre maternidade.

Amy Schumer Growing

Em um monólogo ao mesmo tempo indecente e sincero, a comediante Amy Schumer fala sobre seu novo casamento, crescimento pessoal, gravidez e os conselhos equivocados de sua mãe. Em frente ao público de uma casa de shows em Chicago, Amy desabafa sobre as alegrias e as dificuldades de ser uma mulher profissional, esposa e mãe no século 21.

Turma do Peito

A série aborda a vida de Audrey, uma jovem mãe que está cansada das noites mal dormidas e das preocupações constantes com seu bebê de apenas dois meses. Determinada a não ter uma vida baseada apenas na maternidade, ela busca apoio em um grupo de suporte para pais. Lá, ela conhece outras mães que também estão passando por dificuldades na criação dos filhos.

Supermães

A série acompanha o dia a dia de Kate, Anne, Jenny e Frankie, quatro mulheres que se conheceram em um grupo de mães superexigentes. Com o fim da licença-maternidade, as amigas precisam encarar a volta ao trabalho. Juntas, elas aprendem a conciliar filhos, carreira e vida amorosa, vivendo na agitada cidade de Toronto.

O começo da Vida

Baseada em avanços da tecnologia e da neurociência, a série faz uma análise aprofundada dos primeiros 1000 dias de um recém-nascido, tempo considerado crucial para o desenvolvimento saudável da criança, tanto na infância quanto na vida adulta. Com filmagens em nove países, incluindo o Brasil, os episódios abordam a importância do cuidado dos pais nos primeiros anos dos filhos.

Perfeita é a Mãe

Amy é uma executiva de sucesso, mas sofre tentando equilibrar seu tempo entre o emprego e a criação dos filhos. Estressada com as tarefas domésticas, ela decide mudar drasticamente sua rotina, lutando contra os padrões impostos pela Associação de Pais e Professores da escola de seus filhos. Para isso, ela conta com a ajuda de Carla e Kiki, outras duas mães que também estão exaustas.

Mãe não é tudo igual

A Revista AzMina publicou em 2016 uma reportagem riquíssima sobre a maternidade em diversas tribos indígenas. Já faz alguns aninhos, mas é muito interessante (e importante) conhecer mais sobre a cultura indígena e perceber o quanto ela tem a agregar. Indígena ou não, mãe não é tudo igual! O espirito materno é puro instinto, não tem lei. Tem escolhas, identificação e respeito. Tanto da mãe, quanto do filho.

Leia mais relatos e veja entrevistas aqui!

Agora, vamos para uma palhinha da reportagem.

Na Tribo Tapayuna, no Mato Grosso, as mães carregam a criança no colo praticamente o dia todo. Elas usam uma espécie de tipóia para sustentar seus filhos (as) e permitir que eles mamem quando tiverem vontade. E assim, elas continuam seus afazeres: fazer artesanato, tirar roupa do varal…Tudo que conseguirem fazer com a criança no peito.

Já as crianças da tribo Kaingang, mamam no peito de mais de uma mãe, e o quanto quiserem. Tem algumas crianças param de mamar com menos de um ano enquanto outras mamam até os 6 anos, conta a antropóloga Joziléia Daniza.

Nesta tribo, o desenvolvimento e a necessidade da criança é respeitado. Mamar em mais de um peito se tornou necessário desde que as mães passaram a trabalhar fora, em fábricas da região. Tudo para manter o bebê alimentado. E o ciúme? Até existe, mas são relações muito distintas.

“Você sabe que é importante para o seu filho que a avó leve ele para tomar banho, que outras mãe deem comida, que ele se relacione com diversos irmãos…Porque isso é um apoio. Uma criança Kaingang não fica sem pai, nem mãe. Ela vai ter pai e mãe, embora seus pais biológicos muitas vezes não estejam com ela”, diz a antropóloga.

A amplitude das relações de parentesco entre muitos grupos indígenas, permite que as crianças recebam atenção e cuidados de diversas pessoas e que desenvolvam autonomia desde pequenas. Em uma casa Kaigang, por exemplo, o núcleo familiar é formado pela “mãe velha”, como se fosse uma matriarca, e uma rede de mulheres: filhas, noras, netas e agregadas.

“Essas mulheres se cuidam e se apoiam. Temos uma relação de parentesco vai além do sangue, é uma relação de afinidade” – complementa Joziléia.

Os Tapayuana, por exemplo, usam a mesma palavra para denominar “pai” e “tio”, como se ambos fossem pai da criança.

Desmame

A autonomia vem mais cedo para as crianças indígenas, independente da idade do desmame. Geralmente, entre um e dois anos, a criança já começa a comer sozinha, ir para o rio com outras crianças, cuidar dos irmãos mais novos e ajudar nas tarefas.

Parto na tribo Dessana

Quando a cólica chega avisando a vinda do bebê, a mulher toma um remédio para aumentar ainda mais a dor e a parteira é chamada. Muitas vezes, os remadores (sempre homens) também  são convocados para “arrumar” a posição do bebê dentro do útero por meio de uma oração. Em um parto na tribo Dessana, sempre haverá a parteira, os rezadores, os pajés, curandeiros e os líderes espirituais.

O homem é o combo da força espiritual e física.

“Especialmente no parto normal, em casa, a gente precisa da força do homem. Porque é ele que vai segurar a gente. Na hora de dar a luz, a gente fica completamente sem força, sem nada. Então precisa do homem pra te segurar, pra manter você alerta ali. E da força do homem. Porque a gente tem o nosso parto sentada. Então o homem tem que ficar segurando a gente firme mesmo” – Gisele Fontes, da Aldeia Dessana.

Jornalismo de peito aberto

O Mamilos é um podcast sobre o mundo contemporâneo, apresentado pelas maravilhosas Cris Bartis e Juliana Wallauer. Elas abordam temas polêmicos (por isso o nome “Mamilos”) relacionados à política, relacionamentos, questões sociais, e principalmente, sobre a mulher. Sempre acompanhadas de convidados experts no assunto referente a cada episódio.

Teve um, em especial, sobre puerpério. Uma das pautas mais pedidas pelas ouvintes nos últimos tempos.

“Puerpério é o nome dado ao período pós-parto, que tem uma duração aproximada de três à dez meses, nos quais a mulher vivencia uma série de adaptações físicas e emocionais. É também nesse período que ela se depara com o confronto entre as expectativas construídas durante a gestação e a realidade trazida pela chegada do bebê.”

É neste momento em que ocorre as transformações mais intensas: o útero que estava 150 vezes maior começa a voltar ao seu tamanho normal, as cólicas são corriqueiras, ainda mais os sangramentos. Sabe o que mais? Também tem incontinência urinária, inchaço na região vaginal, o aumento das mamas e a dor que avisa a chegada do leito. Fora as mudanças além do corpo, relacionadas à cabeça, à carreira, à vida sexual, vida social, e por aí vai. O que tiver que mudar, vai mudar.

Toda essa metamorfose é intensificada pela solidão da mãe. Muitas delas se sentem só, carregando um filho e uma bagagem de mudanças que acontecem fora de seu controle. Por mais que toda grávida saiba que nada será como antes, é sempre uma novidade quando, de fato, tudo passa a ser diferente. Cada mãe tem o seu processo individual, que nunca será vivido por mais ninguém, nem por outras mães.

Este episódio aborda todas essas questões e muito mais: sobre ser mãe solo, sobre ter um companheiro/companheira durante o puerpério, sobre a relação com as avós e a família no geral. Sobre a relação da mãe com ela mesma, como mulher, como um ser humano que continua existindo além da função materna.

Tanto as apresentadoras, quanto as suas convidadas Helen Ramos (criadora do canal Cel Mother) e Juliana Gil (psicóloga trabalhadora do SUS), passaram pelo puerpério e cada uma é convidada a compartilhar suas experiências, que são as mais diversas e ricas.

Mães, vocês não estão sozinhas! A intensidade e as mudanças do puerpério são inevitáveis, mas entender melhor o processo é a chave para levá-lo de forma mais tranquila, mais positiva e ao seu favor.

 

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Contrações no puerpério

As famosas contrações uterinas são responsáveis por diversas funções no corpo da mulher.

Quando uma gravidez se inicia, o útero se expande para que o bebê possa crescer tranquilamente.

O bebê cresceu e está pronto para nascer, e agora?

Agora, o trabalho de parto começa e as contrações uterinas dilatam ainda mais o útero, abrindo passagem para o neném sair. Após o nascimento, elas continuam trabalhando firmes e fortes para expulsar a placenta naturalmente.

Já durante o puerpério, a responsabilidade das contrações é ajudar o útero a voltar para o seu tamanho original. A amamentação é uma coadjuvante importantíssima nesta tarefa, porque ela libera o hormônio ocitocina que é responsável pelas contrações e por estimular a recuperação do útero.

Os vasos sanguíneos também se beneficiam deste processo: a contração sela os vasos e impede que ocorra uma hemorragia.

Todas as mães passam por isso,  mas as mulheres que estão tendo o seu primeiro filho sofrem um pouco menos. As dores são similares à cólicas menstruais e podem durar até uma semana. Se o incômodo permanecer por mais tempo, consulte um ginecologista.

Um romance chamado Maternidade

Ser ou não ser mãe? Parece uma pergunta simples, mas poucas mulheres fazem. Segundo a escritora Sheila Heti, maioria das mulheres tem medo de se fazer essa pergunta. Refletir sobre a resposta traz culpa à elas.

A sociedade cobra um grande “sim, quero ser mãe!”, sem levar em consideração as vontades pessoais das mulheres. Dizer não à maternidade é visto como uma atitude egoísta e exige infinitas justificações. “Mas por que você não quer ter filhos?”

“Ninguém pergunta a alguém que tem filhos por que teve, mas se você não tem, precisa responder por que não teve”, diz a escritora.

O livro “Maternidade”, foi a forma que Sheila encontrou para abrir um espaço de discussão e reflexão interior sobre os dilemas da mulher moderna. A questão principal não é ser ou não ser mãe, e sim ter a autonomia e a coragem de se perguntar isso sem ter medo de aceitar a sua própria resposta. Para responder a si mesma, é necessário se isolar de tudo e escutar a sua voz interior, a sua intuição. É avaliar os seu valores de vida, as suas vontades, sonhos e desejos, é se desprender do que a sociedade exige de você. É dizer para si mesma que você não é culpada.

Este livro surgiu para tirar as mulheres do inconsciente, para retirar a pergunta do campo retórico e torná-la subjetiva e pessoal. O mais interessante de todo esse universo é que tem muitas mulheres que nem a resposta tem.

A escritora, então, faz novas perguntas que devem anteceder a questão de ser ou não ser mãe.

“Por que eu não sei responder esta pergunta?”

“Quais são as forças que me impedem de saber?”

Decidir não mãe ainda é uma atitude muito corajosa e pouco representada. Esta decisão é sempre rebatida com a resposta “você vai se arrepender”.

Arrependimentos são imprevisíveis. Mulheres que decidiram ser mãe também podem se arrepender. Mas Sheila abre novo campo de reflexão: qual o problema de se arrepender?

“Não há como ter 100% certeza de nada, porque há sempre uma perda em qualquer decisão que é tomada.”

E não há como deixar de lado o que é vendido para as mulheres sobre maternidade, que é a sensação de se sentir completa.

No entanto, realidade diz o contrário: 98% das mães não se sentem completas com um filho.

O livro não é contra ter filhos. Ele é contra a pressão em cima das mulheres perante  à decisão de ter filhos. Dar à luz transforma a vida da mãe por completo, do corpo à rotina. Até mesmo as relações, profissionais e pessoais. Então é ela que tem que decidir, é ela que deve refletir se é ter um filho que ela deseja. Ou se a outras vontades mais importantes. Pensar em si mesma não é egoísmo, é revolucionário.

Registrar para advertir: parteiras

Maria dos Prazeres de Souza tem 80 anos e realiza partos desde os 17 anos, assim como sua mãe e sua avó faziam. E ela tem mãos de anjo: já auxiliou mais de 5 mil partos sem nenhuma morte.

É difícil perceber a importância de parteiras quando se mora em uma cidade repleta de hospitais. Mas estas mulheres são rainhas em lugares longe de tudo e de todos. E é por causa delas que as mães dão à luz a um bebê vivo e continuam vivas. No entanto, este ofício está ameaçado pela expansão das casas de saúde. Como forma de se adaptar, muitas delas se tornam enfermeiras e carregam as suas práticas tradicionais consigo.

Alerta através da arte

As antropólogas Júlia Morim e Sumaia Vieira, a psicóloga Dan Gayoso e o fotógrafo Eduardo Queiroga, se juntaram para registrar a vida e o trabalho dessas rainhas, para que suas histórias originadas do sertão chegam no urbano que chamem atenção.

Esta união deu a luz ao livro Cordão, que retrata o cotidiano das parteiras através de fotografias  e relatos pessoais. As mulheres aparecem caminhando por paisagens áridas, abastecendo fogões a lenha, descansando em redes e participando de cerimônias religiosas. O livro abrange muito mais do que “partos”. Ele mergulha de cabeça na vida destas pessoas para contar as suas histórias que carregam tradição.

“Meu objeto não era o nascimento. Queria entender quem são as parteiras e como vivem. Elas têm outras profissões e são donas de casa. Via de regra, não recebem nada por acompanhar os partos, mas se tornam líderes em suas comunidades, desempenhando, muitas vezes, os papéis de juíza, psicóloga e assistente social entre as famílias”, revela o Fotógrafo.

Para estas mulheres, ser parteira é uma missão, é um dom divino que foi lhes dado para salvar vidas. Elas respeitam o tempo de cada mãe, as escutam e decidem em conjunto o momento certo.

“Elas estão à frente de seu tempo, várias já têm mais de 80 anos, e praticam a sororidade desde muito antes de o termo virar moda. Elas superam o cansaço de uma rotina exaustiva e contrariam a opinião dos maridos para ajudar outras mulheres nesse momento de vulnerabilidade”, conta a Antropóloga Julia.

Como o conhecimento das parteiras sempre foi transmitido oralmente, os registros escritos, fotográficos e audiovisuais recolhidos pelos pesquisadores estão sendo utilizados em um pedido oficial ao governo para que reconheça o ofício como patrimônio cultural nacional. Para as parteiras, a proposta é a valorização do trabalho de toda uma vida e, para a sociedade, um lembrete de que o cuidado e a atenção no atendimento às mulheres na hora do parto são valores que não podem ser perdidos com o tempo.

Fonte e fotos: Revista Crescer

É importante falar sobre amamentação

Amanhã começa o Agosto Dourado, dedicado à amamentação.

Neste mesmo mês, será lançado nas telonas do Brasil o filme De Peito Aberto, que retrata o ato de amamentar de forma verdadeira, crua, natural e poética.

Como tudo começou

Depois de passar por muitas dificuldades para amamentar sua filha Clara, hoje com 6 anos, a diretora Graziela Mantoanelli percebeu uma escassez de imagens que representassem e contassem a realidade do que é amamentar. O apoio que recebeu de outras mulheres, organizadas em redes, grupos no WhatsApp, Facebook e presenciais, foi fundamental para alcançar êxito ao amamentar sua filha. E foi de onde tirou forças para enfrentar o desafio de realizar este filme. 

O Filme

 De Peito Aberto é um filme sobre aleitamento materno e também sobre o período de vida mais rico e transformador para a criança, para a mãe e para quem quiser acompanhá-los e apoiá-los nesse imenso desafio. O filme fala sobre a realidade da mulher em uma das maiores metrópoles do mundo, em pleno século XXI. É um filme sobre a indústria do alimento e a indústria do cuidado com a pessoa humana, e que discute o efeito cultural, simbólico, mitológico da Ama de Leite no Brasil atual. Acima de tudo, é uma obra poética, um agradecimento tardio a essa figura ao mesmo tempo central e invisível em nossa sociedade, que é a mãe. 

O Contexto

Seis mães de diferentes realidades socioculturais são retratadas durante os primeiros 180 dias de vida dos seus bebês. Elas vivem o desafio de amamentar os seus filhos durante o período recomendado pela Organização Mundial de Saúde para prover aleitamento materno exclusivo. Da sala de parto, onde ocorrem as primeiras mamadas, até os seis meses de vida do bebê, quando as mães oferecem um depoimento final sobre essa jornada, o filme capta emoções, embates e questões como o papel da mulher na sociedade atual, a família em diversos modelos e configurações, a relação entre maternidade e trabalho, as políticas públicas para amamentação, os interesses privados por trás do desmame precoce, entre muitas outras questões.

A costura narrativa se dá pela observação cotidiana da diretora Graziela Mantoanelli e sua equipe, composta de mulheres e homens engajados com a luta pelo aleitamento materno. E por sua relação com o feminismo, com a busca de um novo lugar para a mulher na sociedade atual. Como testemunha ocular de todos os problemas e dificuldades que se tornam fatores de desistência de muitas mães em cumprir a recomendação mínima da OMS, segue atrás de opiniões de especialistas e outras mães para problematizar o assunto. Suas reflexões são contextualizadas com imagens do intenso deslocamento pela cidade de São Paulo. Uma observação participativa, reflexiva, performática e poética sobre o tema. O resultado do processo é a transformação, o surgimento de novas realidades e possibilidades, tanto para as mães retratadas no filme, como para as gerações futuras, sensibilizadas para o poder do aleitamento como alimento, afeto e como cultura de vida.

Fonte: De Peito Aberto

Síncope durante gravidez traz riscos para mãe e feto

Um estudo realizado por um grupo de pesquisadores canadenses associa uma síncope que acomete as mulheres grávidas, causando um maior risco para mãe e feto. Os resultados foram publicados em maio deste ano no American Heart Association Journal.

Foram examinadas as tendências temporais, o tempo e a frequência, assim como os resultados neonatais e maternos adversos ocorridos no primeiro ano pós-parto entre as mulheres com síncope durante a gravidez.
A síncope, especialmente quando ocorre durante o primeiro trimestre, pode estar associada a taxas mais altas de resultados adversos, incluindo partos prematuros, anomalias congênitas e aumento da incidência de arritmias cardíacas e síncope no primeiro ano pós-parto.

Metodologia

Todas as gestantes com idade gestacional entre 15 e 43 semanas que tiveram filhos nascidos vivos entre 1º de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2014 no Alberta Health Care Insurance e seus filhos foram incluídos no estudo. As mulheres com síncope durante a gravidez foram identificadas como aquelas que têm uma Classificação Internacional de Doenças, Nona Revisão (CID-9) código 780.2 ou Décima Revisão (CID-10) código R55 em qualquer campo de diagnóstico da sua internação, ambulatório ou consulta médica durante o período de gestação. Os códigos de síncope da CID-9 e CID-10 têm uma sensibilidade moderada de 63%, alta especificidade de 98% a 99% e um valor preditivo positivo de 83% a 95%

Das 481.930 gestações, 4.667 tiveram um episódio de síncope. A análise de regressão de Poisson encontrou um aumento de 5% / ano (razão de chances, 1,05; 95% CI, 1,04-1,06) na incidência de síncope ajustada por idade. No geral, 1506 (32,3%) dos episódios de síncope ocorreram primeiro no primeiro trimestre, 2058 (44,1%) no segundo trimestre e 1103 (23,6%) no terceiro trimestre; e 8% (n = 377) das gestações tiveram> 1 episódio de síncope. Em comparação com mulheres sem a síncope, as mulheres que apresentaram síncope eram mais jovens (idade <25 anos; 34,7% versus 20,8%; P <0,001) e primíparas (52,1% versus 42,4%; P <0,001).

A taxa de parto prematuro foi maior em gestações com síncope no primeiro trimestre (18,3%), em comparação com o segundo (15,8%) e terceiro trimestres (14,2%) e gestações sem síncope (15,0%; P <0,01). A incidência de anomalias congênitas entre crianças nascidas de gestações com múltiplos episódios de síncope foi significativamente maior (4,9%) em comparação com crianças de gestações sem síncope (2,9%; P <0,01). Dentro de um ano após o parto, as mulheres com síncope durante a gravidez tiveram maiores taxas de arritmias cardíacas e episódios de síncope do que as mulheres sem síncope durante a gravidez.

Causas e manifestações da síndrome

A síncope causa a perda repentina e transitória de consciência que ocorre como resultado da hipoperfusão cerebral global. É um problema clínico relativamente comum, apresentando uma distribuição bimodal, com a maior incidência ocorrendo entre as idades de 10 a 30 anos, e em pacientes com maiores de 65 anos. A causa mais comum da síncope em adolescentes e adultos jovens, incluindo mulheres em idade fértil, é a síndrome vasovagal, incluída no grupo das síncopes reflexas ou neurocardiogênicas.

A síncope pode ser uma manifestação de diversas condições clínicas que ocorrem em um espectro de gravidade, desde doenças cardíacas subjacentes, como arritmia, até condições benignas, como episódios vasovagais. Isso se reflete no prognóstico de estimativas de mortalidade em um ano que variam de 0% para síncope vasovagal até 30% no contexto de síncope cardíaca.

Além disso, tem sido demonstrado que existe uma associação significativa entre a síncope e a presença de doenças cardiovasculares. A grávida sofre várias alterações hemodinâmicas, incluindo resistência vascular sistêmica reduzida, aumento do volume sanguíneo e da frequência cardíaca, e hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo. Essas mudanças podem induzir a gestante a síncopar.

Atualmente, existem dados limitados sobre a incidência de síncope na gravidez. Além disso, o efeito de uma queda transitória da pressão arterial nos desfechos maternos e fetais não está bem descrito.
Dada essa escassez de evidências, os pesquisadores descreveram as tendências temporais na incidência de síncope durante a gravidez usando uma grande coorte contemporânea e baseada na população de mulheres em uma área geográfica definida com um sistema único de saúde com acesso universal.

Além disso, os resultados neonatais, incluindo as taxas de nascimento prematuro, pequeno para a idade gestacional (SGA), grande para a idade gestacional e anomalias congênitas foram examinados, em geral, e de acordo com o tempo (primeira ocorrência no primeiro, segundo ou terceiro trimestre), e número (≥1) de episódios de síncope durante a gravidez. A frequência de síncope e outros eventos cardiovasculares na mãe um ano após o parto também foi avaliada.

Fonte: Pebmed

Amamentar é bom demais para a mãe

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a amamentação como uma das práticas mais decisivas para o futuro da criança. Tanto é que recomenda o leite materno como alimentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida e, se possível, que ele continue fazendo parte do cardápio infantil até os 2 anos. Mas podemos dizer que é amamentando que se recebe.

Estudos populacionais de peso, como os liderados pelo epidemiologista Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (RS), comprovam que, além de reforçar o vínculo com a cria, dar de mamar mexe com o corpo de um jeito especial: ele fica mais protegido contra uma penca de ameaças, entre elas a hipertensão e o câncer de mama.

Um bem poderoso e gratuito como esse devia ser popular, não? Pois os índices de aleitamento materno ainda deixam a desejar. No Brasil, a OMS aponta que menos de quatro em cada dez nenês de até 5 meses só mamam no peito — a média global, também ruim, oscila entre 20 e 40% das crianças.

Para os entendidos, há uma combinação de fatores por trás disso. “Mas a falta de apoio para a mãe, seja da família, do parceiro ou dos próprios profissionais, encabeça a lista”, afirma Elsa Giugliani, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo a médica, é preciso conscientizar melhor toda a sociedade sobre o valor da amamentação.

Tem outro motivo que faz tanta gente negligenciar ou abandonar a prática. Amamentar não é só botar o bebê no peito e pronto. Sem orientação, o ritual pode acabar em frustração. Criança que não pega o peito, seios doloridos, chororô na hora do mamar…

“Geralmente são coisas pequenas, que, uma vez corrigidas, não impedem mais a amamentação”, tranquiliza Antonio Lages, vice-presidente da Comissão de Aleitamento da Federação Brasileira das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A recompensa a quem supera os entraves é generosa. Para o filho… e para a mãe.

Vida sob menos pressão

A pressão aqui é aquela dentro dos vasos sanguíneos. Quando ela dispara e se mantém no alto, já viu: é hipertensão na certa, um mal dos mais prevalentes no Brasil e diretamente associado a infartos e AVCs.

Pois amamentar chega a reduzir o risco de essa encrenca aparecer até 30 anos depois do parto, como mostra uma grande revisão assinada pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Os cientistas notaram que dar de mamar por pelo menos um mês já bastava para ter uma ligeira proteção contra a elevação futura da pressão.

Uma das hipóteses para explicar esse efeito de longo prazo é a interferência do aleitamento no metabolismo materno. Quanto mais tempo ele durar, melhor para as artérias.

Em defesa das mamas

O elo não poderia ser mais direto. O fato de nunca ter amamentado constitui, por si só, um fator de risco para o câncer de mama.

Dar o leite ao bebê é bem-vindo porque reduz a concentração de estrogênio em circulação, e esse hormônio pode virar combustível para o tipo mais comum de tumor na mama. O aleitamento também faz a glândula mamária ceder terreno, no futuro, a tecido gorduroso, o que diminui espaço para o câncer aparecer.

Tumores de ovário e endométrio (no útero) também aparecem menos entre quem já amamentou.

Sangue na doçura certa

O impacto hormonal da amamentação rende proteção extra contra o diabetes tipo 2. Substâncias liberadas nessa fase agem no pâncreas, glândula que produz insulina, o hormônio que regula o açúcar no sangue. Fora que a fabricação de leite demanda muita glicose do corpo da mãe, o que evita excessos dando sopa no sangue.

Mesmo mulheres que tiveram diabetes gestacional enfrentam um menor risco de ver a doença instalada de vez caso deem de mamar.

Recuperação a jato

O aleitamento acelera a reabilitação após o parto. A ocitocina, hormônio que estimula a produção de leite, também instiga a contração do útero, colaborando para que o órgão volte ao tamanho normal mais rápido e eliminando eventuais resquícios da gestação.

Isso é importante especialmente para quem passou por cesárea, porque não é raro que, com o procedimento, o útero apresente certa fraqueza muscular. Com a contração constante, a região se recupera sob menor risco de sangramentos.

Nervos de aço

Um estudo publicado pela Associação Americana de Neurologia mostra que amamentar por ao menos 15 meses, mesmo que acumulados entre diferentes gestações, reduziria em 53% a incidência de esclerose múltipla, distúrbio autoimune que afeta o sistema nervoso e para o qual não existe cura.

Para quem já tem a doença, marcada por fadiga, dificuldades de locomoção e déficit de visão, as crises podem se tornar menos frequentes.

Com uns quilos a menos

Dar de mamar tende a ajudar a retomar o peso normal depois da gravidez: ora, o aleitamento exclusivo propicia um incremento de até 900 calorias no gasto energético diário.

Mas é preciso ficar esperta com um mecanismo de compensação: torrando mais calorias, a fome pode vir com tudo depois. Por isso, a despeito do peso, vale a pena cuidar do menu e fazer atividade física.

Depressão? Aqui não

Pesquisas indicam que amamentar diminui a propensão à depressão pós-parto. Provavelmente porque a tal da ocitocina influencia, lá no cérebro, a atividade de neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar.

O fortalecimento do vínculo mãe-filho também contribui para isso. Tanto é que, nos casos em que o aleitamento é malsucedido, o risco de o transtorno aparecer aumenta.

E os bebês?

São tantos, mas tantos, os benefícios comprovados da amamentação para o bebê, que fica mais interessante explicar de onde vem esse poder do que listar os perrengues que ela ajuda a evitar.

O leite materno tem a composição ideal de nutrientes para o sistema digestivo em amadurecimento e a proporção exata de proteínas, gorduras, vitaminas e até anticorpos. Estimula, assim, o desenvolvimento do cérebro e ensina o corpo a se defender dos perigos.

É um alimento tão sob demanda que o conteúdo do leite da manhã difere do da noite. Quando a amamentação rola como manda o figurino, o bebê fica menos exposto, ao longo da vida, a obesidade, diabetes, alergias…

Fonte: Saúde Abril

Nota da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Aleitamento Materno da Febrasgo

A sulpirida é um antagonista dopaminérgico usado como antidepressivo e antipsicótico. Atua sobre receptores D2, D3 e D4 promovendo aumento dos níveis de prolactina sérica. Produtos contendo sulpirida têm sido utilizados “off-label” durante a lactação, para promover o aumento da produção de leite materno.

O valor clínico no aumento da oferta de leite promovido pela sulpirida é questionável. Revisão que analisou os estudos realizados para testar o efeito galactagogo da sulpirida descreveu várias falhas, como perda elevada da amostra, falta de registro sobre volume dos suplementos alimentares ofertados, avaliação apenas dos níveis de prolactina sérica, falta de informação sobre as técnicas de manejo da lactação, entre outras.

Nenhum galactagogo deve substituir a avaliação e o aconselhamento sobre os diversos fatores que podem afetar a produção de leite. Ainda não foi cientificamente demonstrado e é pouco provável que a sulpirida proporcione benefícios adicionais às mães com produção insuficiente de leite que recebam instruções corretas sobre uma boa técnica de amamentação e sobre a frequência das mamadas.

Há relato de eficácia da sulpirida sobre o placebo em mães com baixa produção de leite. Também é descrito ganho de peso maior nos bebês de mulheres tratadas com sulpirida até o 15º dia de vida, em comparação com placebo, mas sem diferença no ganho de peso entre os grupos nos períodos subsequentes.

Entre os princípios básicos para a prescrição de galactagogos está avaliar as contraindicações do medicamento a ser prescrito e informar à nutriz os possíveis efeitos adversos. Está demonstrado que a sulpirida é excretada no leite materno em quantidades bastante elevadas, acima do valor aceito de 10% da dose ajustada ao peso da lactante.

Deste modo, qualquer referência anterior sobre o uso de medicamentos contendo sulpirida como galactagogo deve ser atualizada e tal uso deve ser desconsiderado. Finalmente, informamos que, em conformidade com o que preconiza a Anvisa, as bulas dos produtos contendo sulpirida (Dogmatil®, Equilid® e Sulpan®) passaram a destacar a contraindicação do uso dessa substância durante a lactação, por ser excretada no leite materno, podendo induzir a eventos adversos na criança amamentada. A versão atualizada dessas bulas pode ser acessada através do bulário da Anvisa em: www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/index.asp

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anderson PO, Valdés V. A critical review of pharmaceutical galactagogues. Breastfeeding Med. 2007; 2:229-42.
Brodribb W. ABM Clinical Protocol #9: Use of galactogogues in initiating or augmenting maternal milk production, second revision 2018. Breastfeed Med. 2018;13:307-14.
Barguno JM, del Pozo E, Cruz M, Figueras J. Failure of maintained hyperprolactinemia to improve lactational performance in late puerperium. J Clin Endocrinol Metab. 1988;66:876-9.
Ylikorkala O, Kauppila A, Kivinen S, Viinikka L. Treatment of inadequate lactation with oral sulpiride and buccal oxytoxin. Obstet Gynecol. 1984;63:57-60.
The Academy of Breastfeeding Medicine. Use of galactogogues in initiating or augmenting maternal milk supply. New York: The Academy of Breastfeeding Medicine, Inc; 2004. Disponível em: http://www.bfmed.org/ace-files/protocol/prot-9galactogoguesEnglish.pdf.
Chaves RG, Lamounier JA, Santiago LB, Vieira GO. Uso de galactagogos na prática clínica para o manejo do aleitamento materno. Rev Med Minas Gerais 2008; 18(4 Supl 1): S146-S153
FEBRASGO. Amamentação. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2018. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, no. 6/Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno). Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/orientacoes-e-recomendacoes-febrasgo/item/646-amamentacao

Ministério da Saúde. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. 2ª ed. 2010. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/amamentacao_uso_medicamentos_2ed.pdf

Corintio Mariani Neto
Presidente da CNE de Aleitamento Materno da Febrasgo

Campanha Nacional de Vacinação contra gripe

Está prevista para o período entre 10 de abril e 31 de maio, a campanha de vacinação contra gripe. As gestantes estão entre as prioridades para o recebimento de imunização.

“Os sintomas da gripe na mulher grávida costumam ser mais preocupantes que do que acontece para outras pessoas em geral “, diz o presidente da Comissão Nacional Especializada de Vacinas da FEBRASGO, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, dr. Julio Cesar Teixeira.

Não há nenhuma contra indicação das vacinas para as gestantes, podendo ser aplicadas em qualquer período da gravidez, inclusive após o parto.

“Os anticorpos produzidos pela mãe são transferidos para o bebê e ele fica protegido. Os anticorpos também podem ser transferidos pelo leite no período da amamentação. Os bebês são mais vulneráveis então a vacinação na gravidez é muito importante porque a gripe durante a gestação tem maior risco de evolução grave”, explica o Dr. Júlio César.

Muitos dos casos críticos de gripe acontecem nas gestantes. Na mulher grávida, por ter seu sistema de defesa diminuído, a influenza evolui rapidamente e de forma mais grave, inclusive correndo risco de óbito.

O especialista adverte que a não vacinação das gestantes pode resultar na exposição da criança ao vírus da gripe após nascer e ainda sem os anticorpos protetores, além de as gestantes poderem apresentar um possível quadro de insuficiência respiratória, que costuma evoluir em torno de seis a doze horas. O mesmo vale para os indivíduos mais velhos acima de 60 anos e aos mais jovens com doenças crônicas.

A vacina está disponível no Sistema Único de Saúde, SUS, para grupos especiais, como as gestantes e nas clínicas privadas para mulheres de todas as idades. Protege por um ano, pois o vírus se modifica nesse período, sendo necessária a revacinação contra os novos que surgirem.

Dr. Júlio César reitera que a vacina não causa doença; é segura por possuir somente partículas do vírus e que por isso pode ser aplicada em grávidas em qualquer momento e até mesmo em pessoas com imunidade baixa, embora a proteção possa ser menor.

Fonte: Febrasgo

Como disputas ideológicas no país chegaram ao parto

Parto normal ou cesariana? A pergunta, que até há algum tempo podia ser simplesmente um debate familiar sobre a chegada de um bebê, se tornou para alguns setores da sociedade e até para políticos uma expressão de diferenças ideológicas entre liberais e conservadores.

No período eleitoral de 2018, sites de cada um destes espectros associaram a discussão sobre as vias de parto a orientações políticas e até a candidatos.

Na véspera do 2º turno da eleição presidencial, um texto publicado no portal Jornalistas Livres dizia: “Bolsonaro coloca em risco parto humanizado no Brasil”. O portal, que se define como uma “mídia alternativa em defesa da Democracia, da Cultura, dos Direitos Humanos e das Conquistas Sociais”, inclui em seu conteúdo tags como “#LulaLivre” (em referência ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba após condenação em segunda instância) e matérias favoráveis a líderes de esquerda, como “Posse de Nicolás Maduro recebe apoio em todo o mundo”.

Assinado por Maíra Libertad, enfermeira obstétrica do Coletivo de Parteiras, a postagem de 17 de outubro denunciava o risco de retrocesso, com a eleição de Bolsonaro, de políticas de governos petistas em prol da ampliação dos partos normais e redução no número de cesáreas.

Mas o texto de Libertad logo foi classificado uma semana depois como “fake news” por um outro portal, o Estudos Nacionais — este marcado por repetidos artigos contra o aborto e títulos como “É Jair, ou já era!” (fazendo referência ao presidente Jair Bolsonaro), “A verdadeira educação está fora das universidades brasileiras” e “Entidades de controle populacional mundial continuam investindo no Brasil”.

A postagem do Estudos Nacionais criticou o fato do nome de Bolsonaro ter sido citado no texto de Libertad sem que o candidato tivesse alguma vez se manifestado sobre o debate relativo às vias de parto: “Tratou-se de uma afirmação baseada em meras suposições”. Ainda segundo o portal, a publicação da enfermeira seria uma expressão de que “a defesa do parto humanizado é vista pela esquerda como parte de suas pautas”.

Este é apenas um dos textos publicado no Estudos Nacionais em que a defesa do parto humanizado é associado à esquerda.

A chamada humanização da gestação indica a busca por procedimentos, do pré-natal ao parto, que não sejam desrespeitosos e excessivamente artificiais para grávida, bebê e família. Com estas premissas, tanto partos normais quando cesarianas podem ser “humanizados”.

Mas essa tendência frequentemente vai ao encontro do clamor por alternativas à cesariana – uma cirurgia. Alguns grupos de ativistas e pesquisadores também reivindicam que o nascimento possa ser feito em outros lugares que não os hospitais, como a própria casa das famílias, e com a participação de outros profissionais da saúde que não necessariamente sejam médicos.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cesarianas podem salvar vidas de mulheres e bebês — mas apenas quando tecnicamente necessárias, como no caso de trabalho de parto prolongado, sofrimento fetal ou quando o bebê está numa posição anormal.

Representante de nova chapa do Cremerj diz que diretoria é ‘conservadora’

Em entrevista à BBC News Brasil, Libertad disse ter escrito que “Bolsonaro coloca em risco parto humanizado no Brasil” como diagnóstico de um contexto.

“No programa de governo do Bolsonaro, havia pouco material sobre a saúde e nenhuma menção à questão do parto. Não tínhamos certeza de que haveria retrocesso, mas tudo indicava que sim”, diz.

A enfermeira obstetra justifica essa percepção citando a aproximação da família Bolsonaro de nomes da área médica que têm defendido abertamente a limitação do aborto e criticado os movimentos pela humanização do parto.

É o caso do ginecologista Raphael Câmara, coordenador do Grupo de Trabalho Materno Infantil do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio). Ele esteve sob os holofotes em agosto, quando se colocou contrário à legalização do aborto em uma audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal), e já publicou diversos artigos questionando a defesa da redução de cesáreas.

Sua chapa no Cremerj também esteve representada em uma foto, publicada na coluna de Ancelmo Gois, do jornal O Globo, em que Flávio Bolsonaro (senador eleito pelo PSL e filho de Jair Bolsonaro) aparece ao lado de dois membros da nova diretoria fazendo o sinal de armas – marca da família Bolsonaro. A imagem, ambientada na cerimônia de posse da chapa, veio à tona em outubro.

Câmara disse não ter ido à cerimônia, mas afirmou à BBC News Brasil por telefone que a nova diretoria “foi eleita assumidamente com uma pauta mais conservadora”.

“A maioria das pessoas é de direita. Então, ideologicamente, estamos mais para o lado do Bolsonaro”, afirma o ginecologista, acrescentando ter votado e feito campanha por Bolsonaro.

Congresso internacional é alvo de nota de conselho

Câmara, em nome da nova diretoria, assinou por sua vez uma nota de repúdio ao conteúdo de palestras do 22º Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo). O congresso, o maior a nível internacional para esta especialidade, foi sediado no Rio em outubro.

Parte da programação, referente ao aborto e às vias de parto, foi acusada de parcialidade. “[O Cremerj repudia o congresso] por não dar um único espaço ao contraditório, defendendo a manutenção da legislação atual sobre o aborto (…) deixando claro que o congresso tomou posição ideológica num tema que deveria ser técnico”, diz a nota do conselho.

O texto também defende o “parto humanizado em hospital com médico” e clama pelo “bem-estar materno-fetal sem demonizar o obstetra”.

Em entrevista à BBC News Brasil, Câmara disse que a manifestação foi motivada por “centenas” de denúncias coletadas pela entidade.

“O que aconteceu foi que eles (a organização do congresso) escolhiam as maiores salas para falar do aborto”, disse Câmara, coordenador do Grupo de Trabalho Materno Infantil do conselho. “Deve-se debater o aborto, mas os dois lados deveriam ter direito a voz”.

Ele também aponta para a conexão entre as reivindicações pela humanização do parto e pelo aborto.

“Quem defende uma coisa, defende outra. Tanto que, no mundo do parto humanizado, aquelas pouquíssimas pessoas contrárias ao aborto são demonizadas”, disse Câmara por telefone, citando o nome de uma colega que deixaria de receber potenciais pacientes por, sendo contrária ao aborto, ser boicotada em grupos de grávidas e mães nas redes sociais.

A programação do congresso da Figo incluía palestras classificadas no site do evento em temas como “obstetrícia clínica”, “saúde sexual e direitos humanos”, “oncologia ginecológica” e “saúde fetal pré-natal”. O conteúdo foi definido por uma comissão científica formada por 13 especialistas de 12 países diferentes – um deles do Brasil, Marcos Felipe Silva de Sá, diretor científico na Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), entidade que mediou a nível local a produção do evento.

Parte da programação dedicou-se a abordar técnicas e debates sobre políticas referentes ao aborto. Havia palestras e oficinas com títulos como “Como o estigma do aborto impacta a todos nós” e “Aborto seguro: recomendações da OMS em abortos médicos”.

Também membro da Febrasgo, onde é diretor de Defesa e Valorização Profissional, Juvenal Barreto diz que não percebeu anormalidades ou conflitos no decorrer do congresso internacional.

Titular da diretoria da entidade, Barreto explica que a presença de palestras relativas ao aborto atende a demandas dos participantes, oriundos de vários países e com interesses técnicos.

“Um congresso internacional trata de assuntos dos mais diversos. O aborto é proibido no Brasil, mas liberado em outros países do mundo. Fala-se em um contexto mundial. Os participantes não vieram para o Brasil para discutir zika na gravidez, por exemplo”, afirmou por telefone à BBC News Brasil.

Segundo o representante da Febrasgo, a entidade, como representante local, não tem participação alguma na decisão de quem e quais assuntos serão apresentados. Ele também refuta a acusação de desequilíbrio na visibilidade dada ao tema do aborto.

“O tamanho das salas foi definido apenas por contingências operacionais. Não havia nenhuma intenção de ‘doutrinar’, como foi interpretado”, diz.

Sites conservadores monitoraram programação do congresso

Os fatos de haver participantes do mundo todo e de o congresso não tratar exclusivamente de temas brasileiros, no entanto, não impediu que sites e entidades contrárias ao aborto tomassem o evento como uma afronta. Ainda antes do congresso, que ocorreu entre 14 e 19 de outubro no centro de convenções RioCentro, o congresso da FIGO foi acompanhado de perto por sites conservadores, como o Estudos Nacionais, que vincularam interesses pró-aborto à discussão sobre a humanização do parto.

Um texto de 19 de outubro sobre o congresso, publicado no Estudos Nacionais, afirma, sem dar detalhes, que uma “tendência e reivindicação do parto humanizado tem sido incluída dentro da narrativa de ONGs que tradicionalmente lutam pela legalização do aborto”.

No mesmo portal, um outro texto daquele mês afirmou que um fator que une as duas pautas é o “conceito da autonomia e empoderamento feminino”.

Um outro site que analisou e criticou a programação do congresso da Figo foi o Aleteia, portal internacional patrocinado por fundações católicas e disponível em oito idiomas. Apenas a página no Facebook do site em português tem mais de 700 mil curtidas. O site traz como mote a frase “Vida plena com valor — Estilo de vida, plenitude e valores que permanecem” e seções como “histórias inspiradoras”, “espiritualidade” e “viagem e cultura”.

Um texto no site detalha e classifica as atividades do congresso como sendo uma orientação para “matar bebês” e denuncia interesses de ONGs, fundações e clínicas de abortos no evento.

Janaina Paschoal: ‘Obstinação pelo parto normal’

A nota da Cremerj foi, por sua vez, catapultada nas redes sociais pela deputada estadual eleita em São Paulo Janaina Paschoal (PSL). O posicionamento, publicado em 18 de outubro, foi multiplicado por Paschoal, no Twitter e no Facebook. Ela citou o que seria um “viés ideológico no Congresso da Figo”: “Ciência pressupõe diálogo, não monólogo!”

Escrevendo à BBC News Brasil por WhatsApp, a deputada estadual eleita por São Paulo afirmou que não é “contrária a nenhum tipo de parto” e que toda mulher deve escolher pela melhor opção, “sendo certo que o olhar médico não pode ser desprezado”.

“O que me importa é preservar a vida e a saúde de mãe e bebê. Insistir num parto normal, quando o quadro indica ser inviável, não é inteligente. Em uma audiência, eu ouvi uma médica testemunhar que o parto normal tem preferência, pois os alunos precisam aprender. O que é isso? As parturientes são cobaias?”, questionou.

Em agosto, Paschoal escreveu no Twitter que reivindicações pelo parto humanizado teriam enveredado para uma “obstinação pelo parto normal”, motivada pelo “mantra da epidemia de cesárea”.

Perguntada sobre casos ou dados de mulheres que teriam sido prejudicadas por tal “obstinação”, Paschoal afirmou que teve como base relatos aos quais teve acesso como advogada e durante a campanha, e também em conversas com o doutor Raphael Câmara.

Segundo o médico, ele e Paschoal se aproximaram em uma audiência pública no STF sobre a interrupção da gravidez, em agosto.

“O nosso grupo, contra o aborto, era bem menor. Então, acabamos ficamos bem próximos. O Magno Malta (senador não reeleito pelo Partido da República, próximo a Bolsonaro) também estava lá”, explicou.

Debate sobre taxa de cesarianas no Brasil

Câmara é autor de diversos artigos publicados na internet e em jornais onde questiona a validade científica, o financiamento e o “conflito de interesse ideológico” que permeia debates sobre abortos e cesáreas.

Ele põe sob suspeita, por exemplo, dados do número de abortos ilegais no Brasil. Os dados oficiais que existem são de abortos legais — segundo o Ministério da Saúde, em 2016 e 2017 eles foram da ordem anual de 1,6 mil.

Já sobre abortos clandestinos, por motivos óbvios — afinal, a interrupção da gravidez, com algumas exceções, é considerada crime —, não há dados consolidados. Câmara questiona a validade científica de dados levantados por estudos e ONGs que falam em centenas de milhares de abortos ilegais no país.

Ele também põe em dúvida os benefícios do parto normal e as metas internacionais para redução de cesarianas, apesar das orientações da Organização Mundial da Saúde.

Em 2015, a OMS publicou um posicionamento sobre tais metas, afirmando que, embora a comunidade acadêmica internacional tenha considerado nas últimas décadas a taxa ideal de cesáreas na faixa entre 10% e 15% dos partos, particularidades locais e questões metodológicas tornam difícil a definição de uma meta unificada.

Mas, naquele mesmo ano, a organização apontou no Brasil uma “verdadeira cultura da cesariana”, sendo o país um dos expoentes no mundo da “epidemia de cesarianas”. Dados do Ministério da Saúde mostram que, naquele ano, 55,5% dos partos feitos no país foram cesáreas e 44,5% partos normais.

Um estudo publicado no periódico The Lancet estimou que, em 2015, o percentual mundial de partos por cesárea foi bem menor que no Brasil: uma média de 21%.

A OMS coloca-se claramente pela necessidade de redução das cesáreas, afirmando que este procedimento “pode causar complicações significativas e às vezes permanentes, assim como sequelas ou morte” em mães e bebês.

Diz um documento de 2015 da instituição: “Os esforços devem se concentrar em garantir que cesáreas sejam feitas nos casos em que são necessárias, em vez de buscar atingir uma taxa específica de cesáreas”.

‘Não é sobre esquerda e direita, mas sobre direitos’

Presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras na Paraíba (Abenfo-PB), Waglânia Freitas diz que movimentos que lutam pela redução no número de cesáreas não anulam a importância deste tipo de parto e nem o desejo da parturiente.

Um congresso organizado pela Abenfo-PB foi citado no texto “Problemas e interesses do movimento pelo parto humanizado”, publicado no Estudos Nacionais, como um exemplo de uma “excessiva autonomia da mulher” que seria prejudicial ao bebê — nas entrelinhas, no caso de um aborto.

Segundo o portal, o principal tema do encontro na Paraíba teria sido a interrupção da gestação, ao lado da pauta do parto humanizado.

Para Freitas, entretanto, apontar estes como temas prioritários é uma maneira “descontextualizada” de falar do evento organizado pela Abenfo-PB, que também versou sobre outros assuntos.

“O movimento pela humanização do parto reconhece a importância da cesárea. Agradecemos a existência dessa tecnologia, ela salva vidas – quando indicada. Mas quando não é bem utilizada, ela põe em risco mães e bebês, matando ou deixando sequelas”, disse Freitas à BBC News Brasil por telefone. “Defendo que a mulher tenha direito ao seu corpo, à cesárea no horário que ela quiser. Mas ela precisa ter conhecimento sobre os riscos. Não entendo que seja algo ideológico, de esquerda ou de direita. É de direitos”.

A professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) diz que não viu situações atípicas no decorrer do evento, mas que percebe um aumento de ataques nas redes sociais contra a pauta da humanização do parto.

“Não podemos sair do contexto em que estamos. Temos uma polarização na qual existe uma linha política que nega e alija direitos; e outra que defende direitos conquistados historicamente”, diz Freitas, que diz defender pessoalmente as conquistas dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão.

Disputa entre categorias

Para além de interpretações sobre dados e políticas públicas que versam sobre o tema, outro assunto divisivo é o papel de diferentes categorias profissionais na gravidez e no parto.

Um post do Estudos Nacionais classifica o congresso da Figo como tendo um viés “antimédico”, parte de um contexto mais amplo que poderia desembocar em “uma definitiva luta de classes entre médico x paciente, médico x doula, médico x marido” durante a gravidez.

A nota do Cremerj menciona um contexto de “demonização” dos obstetras no evento.

À BBC News Brasil, Câmara disse que os obstetras são a “especialidade mais agredida” entre os médicos. Quando perguntado pela reportagem se há dados que comprovem isto, o ginecologista afirmou que isto ainda teria que ser levantado pelo conselho, mas que sua percepção se origina em casos que chegam à entidade.

“Não é violência obstétrica, mas violência contra o obstetra. Você acha que não tem obstetra safado? Claro que tem, como tem jornalista. Mas o termo ‘violência obstétrica’ nos impede de fazer qualquer coisa”, disse o ginecologista e diretor no Cremerj. “As enfermeiras e doulas querem este filão.”

O termo “violência obstétrica” tem sido usado por instituições como o Ministério da Saúde e a Fiocruz para designar práticas que desrespeitam a mulher durante a gravidez ou o parto. Ele se caracteriza, por exemplo, em situações como o uso desenfreado da ocitocina sintética para acelerar o parto vaginal, o que pode aumentar o risco de hemorragia; levar o bebê para longe da mãe após o nascimento; ou não deixar a parturiente comer ou beber, ou ainda ameaçá-la ou fazê-la alvo de chacotas.

Embora não cite diretamente o termo “violência obstétrica”, uma declaração da OMS de 2014 afirma que “no mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde”, o que configura um “quadro perturbador”.

Já neste ano, a organização publicou uma série de recomendações em relação ao parto. O documento afirma que a maioria dos nascimentos ocorre em situações em que não há fatores de risco para a mãe e o bebê, mas, no entanto, há uma “medicalização crescente dos processos de parto”.

“Isto tende a enfraquecer a capacidade da mulher de dar à luz e afeta de maneira negativa a sua experiência de parto. Ademais, o maior uso de intervenções no trabalho de parto sem indicações claras continua a ampliar a lacuna de saúde na equidade entre ambientes ricos e pobres em recursos”, diz o documento.

A organização tem por anos encorajado a participação de outros profissionais da saúde, como enfermeiras e parteiras, na gravidez — do pré-natal ao parto.

Para Waglânia Freitas, os temores corporativos da categoria médica não se sustentam diante de uma diminuição no volume de cesáreas. Para ela, o lugar dos médicos continua garantido neste cenário.

“Há um medo da categoria médica de perder espaço, mas eles têm um espaço garantido…. Qual é o espaço? É o da intervenção, da assistência àquele grupo de mulheres que estão na iminência de morrer ou adoecer”, diz.

Fonte: G1

5 perguntas sobre amamentação respondidas por duas especialistas

Entre 1º e 7 de agosto, comemora-se a Semana Mundial de Aleitamento Materno, que chega à sua 25a edição em 2017. Nas últimas décadas, a promoção do aleitamento se tornou uma preocupação crescente na área da saúde pública, mudando um paradigma que vinha desestimulando a amamentação em prol do leite industrializado.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo para os bebês até os 6 meses de idade. E a amamentação continuada até os 2 anos de vida do bebê.

A prática do aleitamento traz benefícios, inclusive a longo prazo, para a saúde da mãe e do bebê, para o desenvolvimento cognitivo da criança e até para a economia, reduzindo custos no tratamento de doenças como pneumonia, diarreia e asma e aumentando escolaridade e renda da população, segundo uma série de artigos de um grupo reconhecido de pesquisadores de várias partes do mundo, entre eles o brasileiro Cesar Gomes Victora, publicados na revista científica The Lancet.

Amamentar é difícil e requer diferentes tipos de apoio à mulher: a garantia do direito à licença-maternidade é uma delas. Também contam o acesso à informação, o direito de escolha e o apoio familiar.

O Nexo conversou com a nutricionista e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP Viviane Vieira, e com Claudia Medeiros, psicóloga, professora e pesquisadora do Curso de Obstetrícia e do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política da mesma universidade para responder a cinco questões sobre a importância da amamentação para a saúde, quais são os fatores que impedem mulheres de amamentar por um período mais longo e sobre a autonomia da mãe para decidir amamentar ou não por mais tempo:

Entre os benefícios da amamentação para mães e filhos (a curto e longo prazo), quais você destaca como centrais para a promoção da prática?

Viviane Vieira   Diminuição do risco de mortalidade infantil: o risco de mortalidade é menor entre crianças amamentadas pela diminuição da incidência de diarreia, doenças respiratórias, entre outras; formação de microbiota intestinal adequada: a presença de determinadas bactérias intestinais relacionadas à diminuição do risco de obesidade, melhor imunidade e menos processos alérgicos; crianças com melhor desenvolvimento cognitivo; prevenção de doenças na mulher, como câncer; fortalecimento do vínculo mãe-filho.

Qual é a recomendação padrão hoje dos profissionais de saúde com relação à amamentação?

Viviane Vieira Recomenda-se amamentação exclusiva (sem qualquer outro alimento ou líquido, mesmo água) até o 6o mês. É recomendado  que o aleitamento materno seja mantido até, pelo menos, os dois anos da criança.

Há um movimento de revalorização do aleitamento no Brasil? Se sim, como e por que isso surgiu?

Claudia Medeiros Estudos sobre a história do aleitamento materno indicam que foi na década de 1970 que a OMS [Organização Mundial da Saúde] e Unicef [Fundo das Nações Unidas para A Infância] buscaram mobilizar os atores do campo da saúde e sociedade em geral para o incentivo à amamentação. Um evento que marcou o período foi a publicação de um livro que denunciava o impacto da indústria de alimentos, fabricantes do leite em pó, na vida de crianças de países pobres, com resultados devastadores, especialmente para os bebês. O autor do livro “Baby Killer” (o inglês Mike Muller) mostrava como a ação da indústria alimentícia contribuía para o adoecimento e morte de muitos bebês.

O debate sobre o tema deu visibilidade à influência da indústria de alimentos no desmame precoce, conhecido como desmame comerciogênico. A discussão chegou ao Brasil e assumiu contornos próprios, envolvendo atores do campo da saúde, defensores dos direitos da criança e organizações da sociedade civil. Vale lembrar que a mortalidade infantil era bem alta no Brasil da década de 1970, com muitas mortes associadas à desnutrição e diarreia. Em 1979 ocorreram eventos importantes sobre o tema, promovidos pelo Ministério da Saúde em associação com outras instituições, criando assim as condições para que, em 1981, fosse criado o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno. A ação governamental tinha como foco a redução da mortalidade infantil.

Então, foi na década de 1980 que assistimos no Brasil uma grande mobilização pelo aleitamento materno. Estudiosos, gestores, profissionais de saúde e ativistas buscaram dar visibilidade aos estudos sobre a superioridade do leite materno em relação às fórmulas lácteas, sobre os benefícios físicos e emocionais para a saúde dos bebês e das mulheres. A Semana Mundial da Amamentação foi lançada em 1992.

Viviane Vieira Desde o final do século passado, políticas públicas pró-amamentação surgiram, como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança. O aumento da licença-maternidade também foi um incentivo, apesar de ainda ser insuficiente. A regulamentação da NBCAL [Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactantes e Crianças de Primeira Infância], que proíbe propagandas de fórmulas, bicos e chupetas, também foi uma grande conquista para a defesa da amamentação.

Quais são os principais obstáculos enfrentados hoje pelas mães para amamentar por mais tempo? As políticas de incentivo ao aleitamento levam em conta essas dificuldades?

Claudia Medeiros A promoção e incentivo do aleitamento materno ocorre por meio de várias ações. As mulheres que realizam pré-natal no SUS devem receber orientação nas consultas. Há uma Caderneta da Gestante que é distribuída nas Unidades Básicas de Saúde e contém informações sobre aleitamento materno e direitos das mulheres no pós-parto. Também nas maternidades, as mulheres recebem orientação sobre amamentação. As mulheres que amamentam têm direito à dispensa de uma hora por dia ou dois períodos de meia hora para amamentar o bebê, até que ele complete seis meses de vida. Mas, é claro que os bebês não mamam apenas duas vezes por dia, então são orientadas para que um pouco antes da volta ao trabalho comecem a retirar o leite para deixar congelado e ter quantidade suficiente para que possa ser oferecido ao bebê. Depois, é recomendado que retirem diariamente o leite e deixar para o bebê.

Mas é claro que existem dificuldades de várias ordens. Por exemplo, a dispensa de uma hora para amamentar é melhor que nada, mas é insuficiente. Para orientar uma mulher trabalhadora a armazenar o leite (retirar o próprio leite e congelar ou manter o leite refrigerado), é preciso saber se ela tem geladeira em casa, se consegue pagar as contas de luz, se tem alguém para cuidar do bebê capaz de descongelar o leite corretamente.

Para manter o aleitamento exclusivo até os seis meses a mulher tem que estar disponível para alimentar o bebê em todos os lugares e em uma sociedade onde as mamas são sexualmente valorizadas, é difícil para algumas mulheres amamentar em público. Para outras, o difícil é lidar com uma sociedade que aceita a exibição das mamas das mulheres no Carnaval e é hostil quando vê mulheres amamentando em público.

Viviane Vieira São cinco pontos: condições inadequadas de trabalho materno (mulheres que precisam voltar precocemente ao trabalho ou com condições desfavoráveis — como sem local de ordenha — amamentam menos), orientação inadequada de profissionais da saúde (infelizmente, muitos profissionais acabam desestimulando a amamentação), falta de apoio familiar (mulheres sobrecarregadas e sem apoio também tendem a amamentar menos), mídia abusiva (mesmo existindo regulamentação, a influência da indústria ainda interfere bastante e de forma negativa no aleitamento materno), creches que não apoiam amamentação (isso ainda é bastante comum, pressionando mulheres a desmamar).

É possível equilibrar a necessidade de ampliar a duração do aleitamento e a autonomia das mulheres para decidir sobre o próprio corpo?

Claudia Medeiros Quanto à discussão sobre ampliação da amamentação, até os dois anos ou mais, e mesmo sobre a amamentação nos primeiros seis meses de vida, considero que não podemos nos esquecer de que quem amamenta é a mulher e ela que deve decidir se vai amamentar e por quanto tempo.

Para que possa fazer uma escolha informada é preciso ter acesso à informação, saber sobre os benefícios da amamentação para a própria saúde e para a saúde do bebê. Estamos falando de autonomia. É uma discussão em que alguns podem questionar sobre o direito da criança à amamentação, mas como quem produz o leite é a mulher, é ela quem deve decidir o que fará com o próprio corpo.

Fonte: Nexo

5 mitos sobre os cuidados com recém-nascidos

Quando nasce um bebê, nascem também os palpites. Todo mundo tem sempre uma dica, conselho ou recomendação sobre os cuidados com o pequeno, gerando uma ansiedade e insegurança nos pais, principalmente nos de primeira viagem. Nesse sentido, os recém-nascidos são os alvos preferidos de uma série de mitos, alguns difundidos de geração em geração, outros, fruto de uma falta de conhecimento sobre o assunto. A lista é bem extensa, mas abaixo você pode conferir 5 dos principais mitos sobre os cuidados com recém-nascidos.

1. Não pode dar muito colo. Vicia!

Esse é um dos principais conselhos que os pais recebem quando têm um bebê. No entanto, a verdade é bem outra. Recém-nascidos precisam muito de colo, é uma necessidade básica para eles, tanto quanto a alimentação. Vale lembrar que eles estavam há pouco tempo no útero, confortáveis, protegidos, livres de sensações, como fome, sono e frio. Agora, no mundo externo, eles têm que enfrentar tudo isso, e só encontram consolo e aconchego no que consideram o lar deles: o colo da mãe, principalmente. É no colo dela que eles se reencontram com o cheiro, as batidas do coração, a voz tão conhecida da vida intrauterina.

Por isso não economize no colo. Só vai fazer bem.

2. Recém-nascidos precisam beber um pouco de água

Bebês pequenos têm todo alimento que precisam no leite materno. Além de altamente nutritivo, ele também hidrata. Enquanto os pequenos estão em amamentação exclusiva não há necessidade de dar água, nem nenhum outro alimento ou bebida para eles.

3. Bebês sentem muito frio

Apesar de ser verdade que bebês pequenos sintam mais frio do que os adultos, isso não significa que eles precisem de três casacos em um dia típico de verão. A recomendação dos especialistas é de colocar uma peça a mais neles, ou seja, se os pais estão com uma camiseta manga curta, o bebê deve estar com uma versão manga longa ou um casaquinho leve. Vale conferir a temperatura na barriga, no peito ou nas mãos para verificar se estão frias, isso pode ser indicativo de que o bebê precisa de mais roupa.

O excesso de agasalhos no pequeno pode resultar em muito suor e até brotoejas e o bebê pode ficar irritado justamente por que está com calor.

4. Muito choro é sinal de cólica

Nem sempre o excesso de choro é sinal de que o bebê está com cólica. O choro é o canal de comunicação dos pequenos, e eles fazem isso por inúmeros motivos: frio, calor, cansaço, solidão. A cólica nos bebês ainda é algo pouco estudado, pois é difícil qualificar o que eles sentem. Alguns estudiosos, inclusive, acreditam que a cólica é um problema da civilização ocidental, principalmente por que os ocidentais tendem a deixar os pequenos muito tempo longe dos pais, no berço, por exemplo.

A falta de contato pode gerar uma série de inseguranças no bebê e eles podem expressar isso chorando.

5 . Bebê precisa de chupeta

Definitivamente não. Eles não precisam de chupeta. A chupeta foi um subterfúgio usado por muitas gerações para compensar a intensa necessidade de sucção que os bebês têm. Sim, eles precisam sugar, mas isso deve ser suprido pela amamentação em livre demanda, de preferência. A chupeta é um meio artificial, que pode causar problemas dentários, de respiração, na fala, na mastigação e também atrapalhar o processo de dar de mamar, principalmente, no início. Além de todas essas questões, posteriormente é muito complicado fazer a criança se desvencilhar desse objeto, pois ela cria um vínculo emocional. Se puder, evite ao máximo a chupeta. Ela não é necessária.

Fonte: Greenme

Grávidas sofrem mais com temperaturas elevadas do verão

As altas temperaturas do verão costumam causar incômodos para a maioria das pessoas que circulam pelo sol forte. Por estar mais sensível, as gestantes sofrem um pouco mais com as indisposições causadas pelo calor excessivo, principalmente as que já estão com aquele barrigão dos meses finais de gravidez.

O ginecologista e obstetra Claudio Basbaum, membro do Corpo Clínico do Hospital São Luiz em São Paulo, destaca que o motivo da sensação é a quantidade de hormônios livres no organismo da gestante e que o principal sintoma durante o verão é o inchaço, principalmente nos pés e nas pernas, além da queda de pressão.

Para diminuir o mal-estar, tomar alguns cuidados são importantes:

– Usar o protetor solar diariamente;

– Comer alimentos mais leves como frutas e saladas;

– Hidratar-se bem. Consumir ao menos 2 litros de água por dia;

– Utilizar roupas com tecidos leves;

– Tomar banhos mornos ou frios durante o período;

Além disso, assim como em toda a vida, neste período, as mulheres devem ter total atenção com a higiene íntima já que há um aumento na transpiração, o que propicia aos fungos e bactérias um ambiente adequado para crescerem. “O recomendado é que sejam utilizados apenas água e sabonetes neutros na lavagem vaginal”, completa o especialista.

Fonte: Terra