O nada que pode ser tudo
O universo pode parecer um grande espaço vazio a olho nu, mas as pessoas que o estudam de pertinho apontam o contrário. Aliás, ninguém foi capaz de apontar ou medir exatamente o que existe por lá.
O ser humano tem o costume de classificar como “inexistente” e como “vazio” tudo aquilo que ele não enxerga e não toca, tudo aquilo do que ele não conhece. Mas a realidade vai além da nossa mera percepção, que formada a partir de aprendizados, hábitos e experiências pelas quais passamos desde que estamos dentro do útero.
A junção de toda essa cultura que nos constitui como indivíduos é chamada de personalidade. O pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, a apelidou carinhosamente de “ego”.
Se ego é igual a personalidade, logo, ego também é igual a eu? Sim e não.
Segundo Jung, o self é o nosso verdadeiro eu. Verdadeiro mesmo! Que é inerente do ser humano, e precede qualquer influência externa, mesmo que não haja consciência de sua presença. O self é o centro organizador da mente, como se fosse a semente uma árvore.
É a partir do self que o ego se origina. E assim que deve ser, pois o ego é o responsável por nos adaptarmos à vida em sociedade e por nos motivar a concluir nossos objetivos mundanos, como diploma, trabalho, bens materiais, relacionamentos, etc.
Após todas essas conquistas, o ego passa a se aproximar do self. Esta aproximação acontece aos pouquinhos e é chamada de metanoia. Na metanoia, o indivíduo inicia uma busca interior de autoconhecimento para descobrir seu verdadeiro propósito de vida.
No entanto, esta aproximação não é tão simples, pois estamos acostumados a nunca estar satisfeitos com o que conquistamos. Passamos o tempo todo tentando preencher os vazios com qualquer coisa que apareça na nossa frente, pois nos incomodamos demais com a sensação de incertezas, e de faltas. O cérebro se incomoda, na verdade.
E é por isso que o ser humano se entedia tão fácil, mas ao mesmo tempo, morre de medo do desconhecido, do incerto. O principal poder do desconhecido é acabar com a zona de conforto, que até então era muito bem quista. Territórios inexplorados não são muito bem vistos e nem respeitados pela sociedade. É mais fácil seguir o caminho que todo mundo segue.
Para chegar ao self é preciso se despir do ego e se esvaziar todos os preenchimentos cotidianos. Questione sobre seus costumes, hábitos, preconceitos e opiniões que você agregou durante a vida por meio de suas experiências sociais, profissionais e familiares.
Cada paradigma quebrado é um passo dado para chegar no self. Esse caminho pode durar muitos anos e até uma vida inteira. Depende da sua disposição para lutar batalhas internas e descobrir verdades obscuras sobre si mesmo.
O que é inevitável é a eterna sensação de vazio. Eterna pelo menos enquanto não tivermos consciência do nosso próprio self, que jamais poderá ser completamente tapado. Afinal, ele faz parte da nossa essência.
Assim como o universo, o self é desconhecido e por isso se apresenta como a sensação de vazio, vazio existencial. Quanto menos buracos você tapar, mais espaço você terá para se conhecer, de verdade.
“Sentir o self sempre é uma morte para o ego” – Jung.