Efeito do estresse materno sobre o bebê ainda é incerto.
Que o estresse faz mal para a saúde já é algo de conhecimento geral. O que pouco se sabe é se os efeitos negativos poderiam ter início antes mesmo de a pessoa nascer. Estudos mostram que o estresse materno durante a gestação pode ter impacto direto no desenvolvimento do bebê, mas a afirmação ainda não é um consenso no mundo médico.
Uma pesquisa da Escola de Farmácia da Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel) realizou experimentos com ratas de laboratório. Os filhotes daquelas que haviam sido submetidas a situações de estresse tinham a capacidade de aprendizado, atenção e memória prejudicada. Tinham, também, mais sintomas de ansiedade e depressão.
Efeito semelhante destacou um levantamento do Imperial College, de Londres (Inglaterra). Reunindo dados de estudos independentes sobre o assunto, a pesquisa apontou que esses mesmos problemas podem acontecer nos seres humanos.
Ambos os estudos apontam o aumento do nível de cortisol como a principal hipótese da causa do problema. Esse hormônio, responsável pela resposta ao estresse, estaria presente tanto no sangue da mãe, quanto no líquido amniótico, que envolve o bebê. Embora não se saiba exatamente como, a maior concentração desse hormônio teria impacto no desenvolvimento neurológico da criança.
Outro estudo, publicado na Ultrasound Obstetric Gynecol, indicou a relação entre a diminuição do fluxo da placenta e os altos níveis desse hormônio. “O estudo, porém, não conseguiu relacionar o estresse psicológico e os níveis de cortisol, uma vez que outros fatores da vida da gestante, como obesidade e hipertensão, não eram separados”, explica Renata Di Sessa, ginecologista e obstetra do Hospital Santa Catarina, de São Paulo.
O aumento do cortisol eleva também a chance de a pessoa desenvolver hipertensão grave e diabetes. Por conta disso, e dos maiores riscos de distúrbios endocrinológicos e alterações de glicemia, a mulher que sofre com muito estresse durante a gestação apresenta ainda maior risco de aborto.
Além disso, o estresse pode aumentar o risco das infecções urinarias de repetição e do trabalho de parto prematuro. “E, o que é muito importante: dificuldade na amamentação, o que pode levar a mãe até a desistir desse cuidado extremamente necessário para a nutrição e a defesa imunológica do recém-nascido”, menciona a médica.
Mas, de acordo com Renata, de uma forma geral os estudos que ligam estresse materno a problemas do bebê ainda não podem ser considerados conclusivos. “Penso que ainda há muito que ser estudado. São necessários mais estudos que comprovem tudo isso”, diz Renata.
Alterações genéticas
Uma pesquisa da Universidade de Konstanz, na Alemanha, publicada na revista científica Translational Psychiatry, foi feita com 25 mulheres que sofreram ameaças de agressão de seus parceiros durante a gestação e seus filhos. Segundo o estudo, os filhos dessas mães seriam mais sensíveis ao estresse, reagindo mais impulsivamente. Eles também teriam mais dificuldade para lidar com suas emoções.
O estudo aponta ainda que alguns desses filhos teriam uma alteração no gene receptor de glucocorticoide, responsável por regular a resposta hormonal do organismo ao estresse.