Como conversar sobre primeira menstruação com as meninas
A puberdade é um período de intensas mudanças, e, para as meninas, uma das grandes expectativas é a menarca, nome técnico para a primeira menstruação.
Viver essa expectativa pode gerar um misto de emoções – positivas e negativas – tanto na menina quanto no meio familiar. Criar um ambiente de diálogo é ferramenta-chave para facilitar este processo e incentivar a construção de uma boa relação da menina com o ciclo menstrual.
Mas como fornecer boas informações?
Como e em quais momentos falar sobre isso?
O que é a menstruação
A menstruação é um sangramento que acontece, em geral, mensalmente. Ela é um período com duração de 3 a 6 dias, que faz parte do ciclo menstrual.
A menstruação marca o início do ciclo menstrual, quando ocorre uma queda hormonal e o endométrio, que é o tecido que reveste o útero por dentro, descama, saindo na forma de sangue pela vagina.
Durante a puberdade, o cérebro e os ovários das meninas começam a produzir hormônios. Esses hormônios estimulam as mudanças corporais, o amadurecimento dos óvulos e a multiplicação do endométrio, até acarretarem nos primeiros ciclos menstruais.
Um ciclo menstrual é todo o período entre uma menstruação e outra, durando cerca de 23 a 35 dias. Em algum momento do ciclo menstrual, ocorre a ovulação (liberação do óvulo) e, entre 10 e 16 dias depois, inicia a menstruação, começando um novo ciclo.
Durante a adolescência, nem sempre os primeiros ciclos são regulares e ovulatórios, mas ocorrem sangramentos de qualquer forma. Esse primeiro sangramento chama-se menarca, e geralmente acontece entre os 10 e 14 anos de idade.
Anos antes, alguns sinais começam a aparecer, como o aumento da secreção vaginal (completamente normal e saudável), o início do crescimento dos seios e o aparecimento de pelos nas axilas e na região do púbis.
Quando falar sobre?
Ainda que a menarca ocorra entre 10 e 14 anos, o ideal é conversar sobre antes dela acontecer.
Dessa forma, a menina pode se preparar aos poucos, entender que é um processo fisiológico natural e saber o que fazer quando menstruar pela primeira vez.
Facilmente encontramos mulheres adultas que até hoje guardam traumas em relação às suas menarcas justamente porque não sabiam o que estava acontecendo e a quem pedir ajuda. Por isso é tão importante que possamos quebrar esse ciclo de tabus.
Logo, quanto antes se falar sobre menstruação, melhor. É importante que o assunto seja natural, e que se reforce a menstruação como um evento positivo, de que o corpo está funcionando de forma saudável. Portanto, não reforçar “apelidos” com sentido negativo, como “monstra”, nem falar que rolar de dor durante a menstruação é normal – porque não é e não deveria ser.
“Mas acho muito nova…”
É preciso considerar que as meninas que têm contato com mulheres adultas que menstruam e/ou que vivem em regiões urbanas e frequentam regularmente a escola geralmente sabem o que é a menstruação desde pequenas. Ou, ao menos, já têm alguma noção.
É comum ouvirmos histórias de crianças com 3, 4 ou 5 anos de idade que viram a mãe, a irmã, a tia ou a prima menstruadas e perguntaram se elas estavam machucadas, já que sangrar, para uma criança, geralmente está relacionado a um ferimento e a dor.
Neste momento, não é preciso dar uma explicação científica sobre funcionamento hormonal e descamação do endométrio, pois uma criança muito nova sequer tem cognição para entender isso.
Dê informações simples, proporcionais e objetivas às curiosidades da criança: diga que não dói, que acontece com as mulheres mais velhas e que significa que o corpo delas está saudável e funcionando bem. Simples assim.
Se a criança já tiver alguma noção sobre gravidez – e que mulheres fazem bebês dentro de suas barrigas -, dá para explicar que a menstruação é um aviso de que ela está sem bebê naquele mês, por exemplo.
O processo vai ser contínuo. Não é preciso ter um roteiro e dar todo que é tipo de informação em uma só conversa. Ofereça o que pode ser útil à menina, se mostre aberta. Leia sobre a menstruação, tire dúvidas sobre o processo e mostre segurança e confiança para conversar, respeitando o espaço e a intimidade que você tem com ela. Compartilhe sua experiência também!
Menstruou! E agora?
Crianças, quando menstruam, continuam crianças. Não viram “moças” ou “mulheres” imediatamente.
O processo de mudança de mentalidade característico da puberdade e do adolescer – passar de criança para adulta – vai acontecer no seu tempo. Não acontece de um dia pro outro, com uma mudança total, e nem acontece em decorrência da menstruação.
Em alguns momentos, a menina pode apresentar um comportamento considerado mais “infantil” e, em outros, mais “adolescente”. Isso é normal!
Essas mudanças não estão diretamente relacionadas a menarca, então não se pode pressionar a menina a agir de forma diferente ou abrir mão de comportamentos considerados infantis (como brincar, por exemplo) apenas porque menstruou.
Alguns pontos práticos e muito importantes de se ter em mente caso esteja lidando com uma menina que menstruou pela primeira vez:
1) Respeite a privacidade dela. Se a menina pedir para não contar a mais ninguém por enquanto, seja família, amigos ou vizinhos, respeite. Quando reconhecemos a menstruação como algo natural e corriqueiro, pode ser uma novidade pequena para nós, mas para ela é uma informação nova a se lidar e que requer novos hábitos a se adotar, por mais preparada que esteja. Busque ter empatia com ela neste momento.
2) Parabenize-a, diga que está feliz por ela estar saudável e crescendo. Ofereça ajuda e dê dicas práticas: se ela for usar os protetores descartáveis primeiro (absorventes), oriente sobre os tamanhos, a retirar de tantas em tantas horas, enrolar e colocar no lixo (jamais no vaso sanitário), a reforçar a lavagem das calcinhas e manter a rotina de higiene normal, etc…
3) Não precisa necessariamente levá-la ao ginecologista apenas porque menstruou pela primeira vez. A não ser que, claro, a menina expresse este desejo ou tenha queixas (dores fortes, fluxo muito intenso, ardência ou coceira, etc). Menstruar é tão fisiológico quanto respirar e fazer a digestão. Da mesma forma que pouquíssimas pessoas considerariam levar os filhos meninos a um urologista durante a puberdade sem queixas ou problemas, apenas por estarem crescendo, não há porque forçar uma consulta a um(a) médico(a) especialista em sistema sexual e reprodutor feminino se não há razões para isto.
Em resumo…
É preciso criar uma rede de conversa que forneça confiança e segurança para a criança-adolescente desde cedo. Podemos dizer que este é o grande segredo.
Este cuidado precisa estar em todo lugar: na família, na escola, na saúde pública. Todas(os) temos o direito de crescer de forma saudável, com conhecimento básico sobre nosso próprio corpo e com respeito a ele. E é nisso que esperamos colaborar! 🙂
E a sua experiência, como foi? Teve espaços de conversa antes da sua primeira menstruação?