Mulheres de 60 a 90 anos falam sobre sexualidade, juventude e liberdade

Muitos acontecimentos transformaram a vida da mulher brasileira nos últimos 90 anos; Beatriz Custódio que o diga. Pela idade, ela viveu a conquista do direito ao voto em 1934, a chegada do anticoncepcional em 1960, a sanção da lei do divórcio em 1977, a lei Maria da Penha em 2006 e a lei do feminicídio em 2015 – isso só para citar os mais conhecidos.

Embora reconheça os avanços, ela acha que, em alguns aspectos, são um tanto exagerados. “Era tudo muito familiar, muito puro. Hoje é uma anarquia que a gente nem entende mais nada.”

Essa é a percepção dela sobre a diferença de comportamento entre as mulheres de hoje e da época em que era mais jovem. Essa “liberdade exagerada” dos dias atuais é um ponto em comum às quatro mulheres com quem o a reportagem conversou para este Dia Internacional da Mulher, a mais jovem delas com 67 anos de idade. Ao mesmo tempo, é nessa fase da vida que todas se dizem mais livres para fazer o que quiserem, quando quiserem e com quem quiserem.

Diferente do que se vê na sociedade, principalmente em redes sociais, a experiência dos anos vividos lhes presentearam com sensatez. “A gente não pode criticar, porque são momentos que você vive e você vai procurar viver do jeito que puder. Hoje, eu não tenho nem condições, mas criticar o que nas pessoas?”, emenda Beatriz no auge de seus 89 anos. Ela se considera uma mulher feliz atualmente e a justificativa é simples e saudosa: “tive uma infância saudável”.

Linda Buono também tem lá suas opiniões, mas não critica, porque acha que cada um tem de viver do jeito que quiser. “Esse negócio de mulher com mulher eu fico meio assim, mas aceito porque a vida é delas e eu não tenho nada a ver com isso. É que eu sou velha, a liberdade ficou bem aberta mesmo, não é como antigamente. Estranho, mas não sou contra, a vida é de cada um”, diz e por diversas vezes questiona se suas respostas estão certas.

Para ela, ser mulher nessa fase da vida é “excelente”. Linda só lamenta a perna direita que passou por quatro cirurgias após uma queda, a faz caminhar com dificuldade e a impede de realizar atividades fora de casa. “Sei que sou velha, mas se eu tivesse a perna boa, seria a mesma de quando eu tinha 20 anos. Mas eu me sinto muito bem com meus 84 anos.”

Esse estar bem com a idade não é só percepção delas, está comprovado na pesquisa O Brasil 60+. Para 51,1% das duas mil pessoas entrevistadas, entre homens e mulheres, ter passado dos 60 anos é viver como em qualquer outra idade. Além disso, 30,8% consideram que é nessa fase que estão mais livres para fazer o que quiserem.

“(Ser mulher nessa fase) é uma coisa maravilhosa, porque aos 76 anos você não tem mais a preocupação de ser bonita ou de estar dentro da moda. Eu gosto de estar bem comigo mesma, de estar livre para vestir o que eu gosto, de não seguir o que é ditado”, afirma Sylvette Laniado, uma mulher que, desde os 14 anos morando no Brasil, não perdeu o sotaque característico de quem é estrangeiro – do Egito, no caso dela.

Interessada por assuntos diversos, como finanças, geografia e games (ela faz aulas de programação de jogos, inclusive), Sylvette considera que o direito ao voto foi uma das maiores conquistas das mulheres. “Foi a primeira vez que a mulher não se sentiu objeto, se sentiu um ser humano completo.” Mas outra conquista moderna lhe parece mais vantajosa. “A conquista de quem criou o ‘modess’. Você já imaginou aqueles panos que tínhamos que lavar antigamente? Era horrível”, conta, entre risadas, ao falar sobre o absorvente íntimo descartável que só chegou ao Brasil na década de 1930.

De lá para cá, a liberdade das mulheres alcançou outros âmbitos e no que diz respeito a comportamento, por exemplo, está “muito liberal” hoje em dia, segundo Regina Franco Caporici, de 67 anos. “Antes era uma juventude mais sadia. Hoje eu falo: ‘gente, vocês não viveram nada do que o mundo proporcionou de coisas boas’, mas cada fase é uma fase. Vamos em frente, porque as coisas tendem a mudar mais e eu quero ver mais mudanças.”

Sexualidade após os 60 anos

Sem pudores, essas quatro mulheres falam (quase) abertamente sobre sexo e desejos em uma fase da vida na qual a sociedade vê pessoas dessexualizadas. Conforme pesquisa sobre o perfil dos 60+, sexualidade não é um tabu entre esse público, mas os participantes admitem que tiveram de se reinventar para entender a dinâmica da sociedade atual.

“Não sei se é se reinventar. A gente, como mulher, sabe até onde vai nossa sexualidade e essa coisa de ter 50, 60 anos é a mesma coisa. Quando a pessoa passar (pela fase), vai ver que é a mesma coisa”, diz Regina. “É até mais prazeroso porque você não tem aquelas preocupações que tinha de ‘ah, eu tenho que estar preparada’. A liberdade sexual é tratada, após os 60, com mais carinho, com mais suavidade.”

Sylvette concorda. “A sexualidade continua também aos 76, ela pode ser transformada. Não é mais aquele fogo dos 20, 30 [anos], aquele ímpeto, mas ela toma uma forma mais gostosa. Se você estiver vivendo com uma pessoa durante muito tempo, conhece os gostos do outro. É uma coisa que, entre as duas pessoas, não faz diferença, é importante, faz parte da vida e permanece”, diz.

Demonstrando a liberdade que diz sempre ter tido, ela questiona: “O que impede que eu tenha sexo? Por que não? A gente sente, tem a mesma vontade”. A resposta vem de Linda, um tanto envergonhada e com resquícios de privação. “Até quando meu marido funcionou, não foi tabu, foi tudo normal e bom. Agora depois de velho, vixe Maria… (risos) Mas já sou velha, não preciso mais disso”, afirma e admite que “intimidade existe” com o marido que tem mal de Alzheimer.

Beatriz, cujo marido morreu há dois anos, tende a relembrar o passado quando o assunto é liberdade sexual. Ela é exemplo de como, de fato, os tempos são outros. “Eu fui solteira, conheci meu marido, naquele tempo era vestido branco, grinalda, tudo muito certinho. Acertamos casamento, tudo, sem nada de sexo, nem falar disso falava.”

Em um ponto, todas concordam: depois dos 60 anos, importa muito mais a qualidade do sexo do que a quantidade. “Carinho, afeição e toque”, diz Sylvette. “Mais diálogo e carinho do que o sexo em si. As carícias vêm automaticamente, mas o sexo não é mais prioridade”, afirma Regina.

Feministas?

“Eu prefiro ser feminina”, declara Regina, que diz não saber até que ponto o feminismo é bom ou ruim para as mulheres. Mãe de três homens e avó de um jovem de 15 anos, ela teve o último filho aos 41 anos, com o segundo marido – de quem se separou -, e ignorou as críticas de quem a chamava de “doida” por ser mãe ‘velha’.

No trabalho, comandava uma equipe de 16 homens, sempre foi respeitada e por vezes pegava estrada em caminhão. Viúva do primeiro marido, ela teve de ir à luta para dar uma vida com mais conforto aos filhos.

Nesse quesito, apesar do relato, Sylvete não se considera feminista. “Acho que nunca fui dessas mulheres, que fui feminista, porque eu sempre trabalhei, sempre lutei e tentei conservar dentro de mim também o meu lar particular”. Conforme a conversa seguiu para o preconceito contra as mulheres, ela reconsiderou: “De certa forma, sou feminista, sim, sempre fui à luta pela liberdade, não admito o machismo”.

Beatriz não entende bem o termo, mas conta que desde jovem fazia serviços que muitos homens não faziam. Hoje, acha errado que elas ganhem menos do que eles exercendo a mesma função e considera qualquer serviço apto a uma mulher. “Se a gente consegue fazer, por que não?”

Fonte: Istoé

“Não nos podemos sentar no sofá à espera que o desejo apareça”

Para o presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual (WAS), Pedro Nobre, é um mito dizer que “o desejo sexual vem espontaneamente”, assim como que os homens estão sempre prontos para o sexo. Essa crença de “macho” até lhes pode causar alguns problemas. E quando não há desejo? Há que criar estímulos eróticos e até fantasias sexuais e pensamentos positivos numa relação, responde. Estes são alguns dos temas abordados naquele que classifica como o “primeiro doutoramento em Portugal e único na Europa” em Sexualidade, na Universidade do Porto. E que conta com especialistas nas áreas de sexologia clínica, do género e identidades sexuais, educação sexual, medicina sexual, e saúde sexual e reprodutiva.

O também director do SexLab da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto diz que “existe uma necessidade crescente de formação avançada e especializada na área da sexualidade”. Estes doutorandos poderão depois investigar e intervir nas várias dimensões da sexualidade e “promover a saúde sexual que é uma necessidade básica de todos, mas a que tem sido dada pouca atenção”, alerta.

É um mito dizer que o homem tem sempre desejo sexual?
Tradicionalmente os homens referem ter mais desejo sexual do que as mulheres. A grande maioria dos estudos mostra isso. No entanto, estamos sempre a falar de estudos que dependem da resposta das próprias pessoas (e por isso sempre subjectivas). É verdade que os homens têm mais testosterona (hormona relacionada com o desejo) e que, segundo as teorias evolucionistas, é fácil explicar por motivos reprodutivos um maior desejo nos homens comparativamente às mulheres. Mas também é importante perceber que a diversidade é a “norma”. Ou seja, há entre os homens e entre as mulheres uma grande diversidade, e por isso há muitas mulheres com desejo sexual elevado (e maior do que muitos homens) e vice-versa. Isto cria um problema acrescido a muitos homens, uma vez que a crença de que estes devem estar sempre prontos e ter actividade sexual sempre que possível é muito central e definidora da masculinidade.

Quer dizer que este mito pode causar graves problemas no homem, no seu desempenho sexual?
Para um homem que se identifica com esta crença, será muito difícil reconhecer abertamente quando o seu desejo não é tão elevado como seria suposto, e também lidar com a “pressão” de se comparar com o mito da masculinidade/infalibilidade sexual. Por isso, também tradicionalmente existem muito mais mulheres a “queixarem-se” de baixo desejo comparativamente aos homens.

Nos dias de hoje, quem tem mais vontade? Eles ou elas, porquê?
Curiosamente e, apesar de historicamente os homens relatarem mais desejo sexual, cada vez mais vemos homens a queixarem-se de problemas de desejo e a procurarem ajuda. Os estudos mais recentes mostram uma tendência clara para este aumento, curiosamente mais visível em países ditos desenvolvidos e mais equitativos em termos de igualdade de género. O que pode significar uma menor adesão às crenças de masculinidade por parte dos homens e maior capacidade de reconhecer o baixo desejo. Outro aspecto muito importante é a discrepância do desejo nos casais. Isto tem sido estudado e significa que, muitas vezes, o mais importante não é se o desejo é alto ou baixo, mas o nível de compatibilidade no seio de um casal. Podemos ter casais em que ambos têm baixo desejo e que isso é vivenciado como não problemático e adaptativo. E depois podemos ter casos onde o problema não é o baixo nível de desejo, mas o facto de um dos membros ter muito mais desejo do que o outro e isto pode acontecer quer a homens quer a mulheres. Nestes casos, muitas vezes isto é vivido com grande angústia e o problema não é o baixo ou elevado desejo em cada um, mas sim a compatibilidade no desejo.

Quando isso acontece, o que é que os casais podem fazer?
Nestes casos, a comunicação sexual é fundamental numa relação. Reconhecer que o desejo é muito diferente é um ponto de partida e depois procurar “negociar” estratégias para que ambos possam ter satisfeitos os seus desejos é a via mais frutífera. Obviamente isto está longe de ser fácil para muitos casais, mas pensar que se resolve sem investimento, partilha e comunicação/negociação, é um mito. E as nossas crenças sobre a sexualidade, o papel tradicional do homem (como activo) e da mulher (como passiva), acabam, muitas vezes, por não ajudar.

Existem segredos para ter uma vida sexual gratificante numa relação amorosa de longa duração?
Não existem segredos nem receitas iguais para todos, uma vez que a forma como cada um vive a sexualidade é muito própria e a diversidade é a norma. Curiosamente, a questão da diversidade nos comportamentos, preferências e fantasias sexuais foi uma das principais conclusões do histórico estudo conduzido por Kinsey nos anos 40 e 50 do século XX, nos Estados Unidos da América. No entanto, há aspectos importantes que devem ser tidos em conta. Alguns estudos, sobre o que melhor prediz a satisfação sexual, sugerem que mais do que medir se o pénis tem uma erecção de cinco, dez ou 20 centímetros ou estar preocupado com o tamanho do pénis, ou com a aparência física e o desempenho sexual – e isto são preocupações de muitos homens e mulheres –, aquilo que parece determinar mais a satisfação sexual das pessoas são os pensamentos sexuais e as emoções positivas com que vivem as experiências sexuais.

Defende, então, nos seus estudos que a parte cognitiva é mais importante?
Os estudos mostram isso claramente. Se uma mulher ou homem estiver sobretudo centrado no tamanho do pénis ou das ancas, ou no que quer que seja relacionado com a imagem corporal ou desempenho, dificilmente vai ter uma experiência sexual prazerosa e satisfatória, estejam com quem estiverem. Se não estivermos atentos e focados nas pistas e estímulos eróticos e no prazer – o que pode ser através de pensamentos ou fantasias –, dificilmente teremos uma experiência sexual satisfatória.

Alguns destes dados resultam de estudos que realizam no laboratório SexLab?
Sim, e que mostram que, independentemente da idade, da condição física e da duração da relação, o mais importante para explicar a resposta sexual e mesmo o desejo sexual é a forma como a pessoa vivencia em termos de pensamentos sexuais e emoções positivas a própria experiência sexual. Portanto, se queremos ter uma vida sexual mais satisfatória, temos de criar condições para aumentar a nossa capacidade para focar a atenção em estímulos eróticos e emoções positivas no decorrer de uma relação.

Que tipo de estratégias é que os casais podem adoptar?
As estratégias podem depender de pessoa para pessoa, mas implicam criar condições para ter uma experiência sexual gratificante e prazerosa com o nosso parceiro ou parceira. E também depende, em grande medida, da forma como numa relação ambos os parceiros partilham desejos semelhantes ou estão abertos para partilhar os desejos e preferências do outro. Ou seja, a comunicação sexual e a capacidade de integrar e aceitar as preferências do parceiro também são fundamentais.

Como é que o podem fazer?
Não há nenhuma dica simples, porque aquilo que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Mas se quiserem ter uma vida sexual prazerosa e satisfatória têm de investir, ter tempo, e motivação. Existe um mito de que o desejo é sempre espontâneo e que todos devemos ter desejo para nos envolvermos sexualmente. E muitos homens e sobretudo mulheres (muitas vezes em relações de longa duração) se queixam que o seu desejo já não é o mesmo do que quando começaram a relação. E muitos acham que isto significa o fim da relação ou é um grave problema que deve ser tratado (incluindo com medicação). No entanto, e retirando casos mais extremos onde existem problemas médicos (doenças endócrinas que diminuem o desejo), na maior parte das situações o que temos é uma diminuição do desejo espontâneo que ocorre na maior parte dos casais ao longo do tempo.

O que fazer?
A boa notícia é que mesmo quando o desejo espontâneo é baixo todos nós temos capacidade para responder e ter desejo perante situações e estímulos eróticos. A isto chamamos desejo responsivo, o que implica estar disponível e motivado para nos envolvermos sexualmente e quando a situação se proporciona termos uma resposta sexual e também desejo sexual. Mas é preciso criar condições e um contexto erótico, onde haja estímulos que nos façam ter prazer e aumentem a nossa vontade e isso tudo facilita a resposta sexual e o desejo de continuarmos a envolver-nos sexualmente.

Porque é que refere que o desejo espontâneo é um mito?
Há desejo espontâneo, sim. Mas pensar que temos de esperar pelo desejo espontâneo para ter uma vida sexual satisfatória é o início de algo que não vai correr bem. Por exemplo, quando estamos numa relação estável há dez anos e já não estamos na fase da paixão, da descoberta, onde tudo tem um carácter mais erotizado, o desejo sexual espontâneo (sobretudo pelo parceiro/a) não surge tão frequentemente. Menos ainda, quando se tem filhos, tarefas exigentes, se sai tarde do trabalho, e temos cansaço acumulado. Seja que tipo de relação for (homossexual, heterossexual ou até poliamorosa), a grande questão é que as pessoas têm de criar momentos e isso significa pensar nisso, estabelecer prioridades na agenda: um dia, uma tarde ou noite para poder estar com os parceiros para criar condições para que haja envolvimento sexual, o prazer possa surgir e o desejo também.

Defende, então, que se deve investir na vida sexual.
Imaginemos que temos um jantar romântico ou outra coisa, e depois disso sentamo-nos no sofá e o desejo não vem. Não é assim. Não nos podemos sentar no sofá à espera que o desejo apareça, porque a probabilidade é volátil. A pessoa tem de investir e isso depende de cada um e pode ser através de fantasias, de estímulos visuais ou auditivos, de uma carícia, um toque ou através de mil e um pormenores. Mas é preciso investir. Normalmente, as pessoas sabem o que o outro gosta e o que o faz sentir mais desejado. Se isso for feito, o desejo acaba por vir.

É possível ter uma relação onde a parte sexual não existe?
Sim. É mais difícil obviamente, mas há pessoas para quem a vida sexual é menos importante do que para outras. O prazer sexual é fundamental para a grande maioria das pessoas, mas há, por exemplo, pessoas que se identificam como assexuais e que preferem viver uma vida saudável e satisfatória sem vida sexual (e existem estudos que o demonstram). Quem somos nós para as rotular como patológicas?

Fonte: Público

Ministro da Saúde defende educação sexual nas escolas

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu, no último dia 08, a educação sexual nas escolas. “Acho que tem que fazer, não dá para não fazer”, disse à Agência Brasil. A pergunta foi feita após cerimônia de assinatura de parceria entre ministérios para prevenção da gravidez na adolescência.

Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de gravidez na adolescência no Brasil é de cerca de 56 adolescentes a cada grupo de 1 mil. Número maior que a taxa internacional, que é de cerca de 49 a cada 1 mil. Segundo a pasta, embora esse número esteja alto, houve, entre 2010 e 2017, redução de 13% de bebês de mães adolescentes. Meninas negras representam a maior proporção entre essas mães: 19,7% pardas e 15,3% pretas, seguindo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o ministro da Saúde, a educação tem um papel importante na redução desses indicadores. Ele disse que a gravidez está relacionada ao abandono escolar, que, por sua vez, leva a um aumento da mortalidade infantil. “A evasão escolar é problema para a saúde pública”, disse.

Saúde na Escola

Também presente na cerimônia, o ministro da Educação, Ricardo Vélez, disse que o programa Saúde na Escola poderá ser atualizado. “No contexto do Ministério da Educação, temos as pautas de formação, de educação de nossos adolescentes, [que] serão mantidas. No entanto, no contexto desse acordo, veremos o que será necessário atualizar. No momento ficam as pautas conforme estão estabelecidas e, em diálogo, sobretudo, com as famílias”.

Vélez acrescentou que serão levados em consideração “novas demandas da sociedade e novos conhecimentos científicos que sempre estão aparecendo”.

O Programa Saúde na Escola foi instituído em 2007 com o objetivo de levar às escolas públicas ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, para enfrentar vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens. Entre as ações do programa estão a promoção da saúde sexual e da saúde reprodutiva, em conformidade com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Parceria

No dia 08, os Ministérios da Saúde, da Mulher, Família e Direitos Humanos, da Educação e da Cidadania assinaram parceria para traçar ações conjuntas até 2022 para reduzir a gravidez precoce.

Dentre os objetivos estão promover apoio profissional qualificado em prevenção à gravidez na adolescência, ampliar e qualificar o acesso da população adolescente aos serviços de atenção básica, fomentar ações educativas voltadas para adolescentes, famílias, sociedade civil e toda a comunidade. Além disso, estão entre os objetivos disseminar informações sobre o cenário brasileiro de gravidez na adolescência e avaliações que gerem evidências de melhores práticas para subsidiar o aperfeiçoamento das ações públicas sobre o tema.

A carta de compromisso foi assinada no âmbito da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, estipulada do dia 1º de fevereiro até esta sexta-feira. A semana foi instituída pela Lei 13.798/2019, uma das primeiras sancionadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Fonte: Exame

Sexualidade é assunto para ser conversado desde a infância, garante psicólogo

Por Rita Lisauskas

Nos últimos anos, poucos assuntos ‘apanharam’ tanto nas redes sociais e nos grupos de Whats App quanto a educação sexual nas escolas. Mês passado, recebi pelo celular uma reportagem sobre o afastamento de uma professora que ensinou aos seus alunos adolescentes sobre o uso de preservativos masculinos e femininos. A matéria, compartilhada à exaustão, trazia o seguinte comentário: “os bons costumes da família brasileira estão sendo denegridos pelos educadores!”.

Falar sobre sexualidade em sala de aula é recomendação dos parâmetros curriculares de ciências do Ministério da Educação, o MEC, além de fazer parte da orientação técnica internacional sobre Educação em Sexualidade da UNESCO, que aponta que a educação sexual nas escolas deve servir para que os jovens façam “escolhas saudáveis e respeitáveis sobre relacionamentos, sexo e reprodução”. Mas o Brasil parece estar na contramão desse entendimento. Mês passado o presidente eleito, Jair Bolsonaro, declarou publicamente ser contra a abordagem dessa questão pelas instituições de ensino. “Quem ensina sexo para a criança é o papai e a mamãe. Escola é lugar de aprender física, matemática, química. Fazer com que no futuro tenhamos um bom empregado, um bom patrão e um bom liberal”, afirmou.

Mas quem estuda o assunto garante que a escola tem sim papel fundamental nessa discussão. O mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade Federal da Bahia, Anderson Chalhub, afirma que criança tem o direito a espaços de conversa sobre sexualidade dentro de casa e também nas escolas. Chalhub também ressalta o papel fundamental das instituições de ensino em um mundo onde a maioria dos casos de pedofilia acontece dentro de casa. “Muitas vezes a violência sexual acontece quando a criança não tem um espaço de conversa sobre isso, não é ensinada que o corpo é dela, então não tem a mínima noção da violência sexual. Ela acha que está recebendo um cuidado quando está sendo, na verdade, violentada”, explica.

Blog: Como é que você esse movimento de deixar de falar sobre sexualidade nas escolas?

Anderson: Falar sobre sexualidade e desenvolvimento infantil e dos adolescentes é uma necessidade, porque a criança já nasce em um corpo que sente prazer. E aí é bom a gente fazer uma distinção entre sexo e sexualidade, porque o sexo traz o erótico, a erotização do corpo de uma pessoa com o de outra pessoa, algo que acontece muito na adolescência e na idade adulta, mas na infância a gente fala de um corpo sexualizado, um corpo que é erógeno, que sente prazer. Eu considero que se você orienta esse prazer com psico-educação, em um ambiente que possa propiciar uma conversa sobre a sexualidade, inclusive com as crianças, assim elas ficam situadas no que podem fazer quando esse corpo começa a se erotizar. Sexualidade é do humano e isso não depende da idade. E se ela faz parte do ser humano, por que não falar sobre a sexualidade desde a infância?

Blog: E como puxar essa conversa?

Anderson: Hoje a gente tem uma literatura muito bacana para crianças, que fala não só de como as crianças são concebidas, algo que ainda é um tabu, que muitas vezes passa por uma dificuldade do adulto, que prefere fantasiar sem trazer verdade a essa criança durante essa conversa. Geralmente conta-se que a criança foi trazida por uma cegonha ou que foi gerada de uma sementinha que o pai planta na mãe. Eu considero que a partir de uma determinada idade, por volta de 5 anos, já é possível falar de sexualidade com as crianças e isso a ajuda a se situar no mundo. Mas quando a gente trata isso como um tabu e enche de moralidade esse momento de descoberta, ela vai castrando esse corpo, impedindo esse corpo de sentir. Se não houver um espaço para se conversar sobre isso, debater sobre isso, ela pode deixar de sentir esse corpo no mundo. Essa é uma necessidade muito grande não só nas escolas, mas inicialmente as famílias precisam falar mais sobre isso.

Blog: Como a gente abordaria esse assunto com as crianças a partir dos 5 anos?

Anderson: Existem histórias que podem ser contadas às crianças com a ajuda de livros infantis (veja no final dessa matéria uma lista de livros indicados pelo psicólogo). Essa é uma ideia bacana, contar uma historinha e depois bater um papo sobre o que a criança sentiu, como ela percebeu aquilo, como ela ouviu a história, abrindo-se assim um espaço de conversação nessa família. A gente tem que parar de pensar que uma criança de 5 anos não tem compreensão sobre as coisas, ainda mais essa geração que está aí, que nessa idade já chega com uma série de “por quês”, tem questionamentos sobre o que acontece no mundo, o que acontece com ela e com os outros. E se a gente fica fantasiando para a criança, a gente a empurra para um lugar além da realidade. Não que a fantasia não seja algo importante, não é isso, mas a gente não pode confundir fantasia com mentira, entende?

Blog: Se essas histórias não contam a história da cegonha e da ‘sementinha’, como abordam o assunto?

Anderson: Elas explicam para a criança como é um corpo infantil e um corpo adulto, as diferenças anatômicas entre um e outro, a diferença entre os sexos, o que o menino tem, o que a menina tem, o que o menino sente, o que a menina sente. Por que não falar disso? Isso não erotiza a criança. O que erotiza a criança é o pudor do adulto. A criança tem a possibilidade de perguntar se ela tiver um espaço para ouvir e falar sobre isso. Na minha infância eu aprendi que tinha nascido graças a uma ‘sementinha’ e isso para mim, durante um tempo, foi algo muito complicado, porque eu ficava procurando em mim uma semente, igual a das plantas, sem ter noção de como surgiu uma pessoa dali. A gente pode contar para as crianças que elas nasceram a partir da junção de duas células, de uma forma lúdica, porém real.

Blog: Quais são os ganhos de falar sobre sexualidade com as crianças?

Anderson: Nesse processo ela começa a ter noção dos limites do seu corpo no contato com outras pessoas, com estranhos. Ela precisa ser ensinada que o corpo é uma propriedade dela e que pessoas estranhas não podem tocá-la. É importante que a família dê segurança para a criança na exploração desse corpo para que ela saiba quem pode tocá-lo. Se a criança ou o adolescente não conhece seu próprio corpo, se não há uma conversa sobre ele, qualquer pessoa pode se apropriar desse corpo. Muitas vezes a violência sexual acontece quando criança não tem um espaço de conversa sobre isso, não entende que o corpo é dela, então a criança não tem a mínima noção da violência sexual, achando que está recebendo um cuidado quando está sendo, na verdade, violentada.

Blog: Em um contexto que a gente sabe que a maioria dos casos de pedofilia acontece dentro da família (segundo o Ministério da Saúde, a maioria dos casos de violência sexual é cometida por parentes da criança e do adolescente ), qual a importância, na sua opinião, da escola também falar sobre sexualidade?

Anderson: A escola é o primeiro centro de diagnóstico dos problemas que podem acontecer no desenvolvimento da criança. Não só os sexuais, mas também de maus tratos e violência. Eu acho importante que a escola seja um centro de proteção mesmo. Inclusive em termos de prevenção. E é importante, cada vez mais, entender a família na escola, para que a instituição seja mais hábil e tenha mais competências de identificar os casos de violência que ocorrem na família e de encontrar alguém confiável, que se una à escola, para salvar essa criança. Isso é uma necessidade. Por isso precisa haver espaço para se falar disso na escola. Agora, precisa haver uma formação desses atores sociais, algo que eu acho que ainda é bastante deficitário no Brasil. Os professores não sabem o que fazer com a sexualidade das crianças, parece que entram em pânico extremo quando a criança mostra que o corpo dela já sente prazer. Se não há um corpo docente para conscientizar e abrir um espaço de debate com as famílias sobre isso, se não for feita uma parceria, a escola constrói algo que a família na sequência destrói. O caminho não é jogar a peteca de um para o outro, tem que haver um processo de continuidade, para que a criança se sinta segura nos dois ambientes.

Blog: Quais outras questões desse contexto deveriam ser discutidas pelas escolas, nas sua opinião?

Anderson: Uma das maiores formas de perpetrar violência a uma criança é não dar escolha a ela. Por que se contar apenas histórias em que o final feliz, por exemplo, é entre um príncipe e uma princesa que foram felizes para sempre? Por que não apresentar outras possibilidades como a de um final feliz entre um príncipe e outro príncipe? Uma princesa com outra princesa? Quando se dá uma possibilidade só para uma criança você está imprimindo violência. Porque ela entende que só existe um caminho na vida. A gente precisa mostrar que existem outros tipos de família que pode ser diferente do que a que ela tem em casa, por exemplo. Existem famílias homoparentais, com dois pais ou duas mães, monoparentais, com apenas a mãe ou o pai e por aí vai.

Blog: Esse tipo de discussão ajuda a combater o preconceito?

Anderson: Sem dúvida. Precisamos ter debates e espaços para isso. Por que existem tantos casos de bullying nas escolas, em todas as escolas? Por que hoje temos casos com mais violência? Porque não existe discussão sobre tolerância e respeito às diferenças.

Blog: A gente discutiu até agora sobre o caminho ideal a ser trilhado quando o assunto é discutir sexualidade com crianças e adolescentes. Mas estamos caminhando para o oposto disso, de se tirar as discussões sobre sexualidade de dentro das escolas. Qual seria o impacto disso, no seu ponto de vista?

Anderson: Eu estou desesperançoso, muito triste e muito preocupado com o que está por vir. A gente pode dar um passo para trás em tudo o que se conquistou como direito ao longo de tantos anos como democracia. Educação e saúde andam juntas, estão no mesmo patamar e se conectam profundamente. Eu acredito que os espaços de resistência, formados por famílias conscientes, escolas politizadas, podem ser um contra-modelo do que vai se apresentar daqui para diante. As crianças têm direito a um espaço de discussão. Se o tabu sobre conversas sobre sexualidade for sendo incentivado, automaticamente vão aumentar os índices de doenças sexualmente transmissíveis, o uso de camisinha e de anti-contraceptivos cairá. Só existe processo de conscientização se ele for feito através da educação. Se não puder existir um espaço de debate, se não se puder falar sobre isso, estamos falando de opressão, de violência e, automaticamente, as pessoas começarão a adoecer.

Lista de livros sugeridos pelo mestre em psicologia Anderson Chalhub:

Sexo não é bicho-papão, de Marcos Ribeiro
Mamãe, como eu nasci, de Marcos Ribeiro
De onde viemos?, de Peter Mayle Artur Robins
Mamãe botou um ovo!, de Babette Cole
Como eu fui feito?, de Yvette Lodge

Fonte: Estadão

Fundo de População da ONU defende educação sexual para evitar gravidez na adolescência

No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre dez e 19 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada três mulheres casadas com idades entre 20 e 24 anos, uma se casou antes de completar a maioridade.

Para discutir esses e outros desafios brasileiros em saúde sexual e reprodutiva, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) participou na sexta-feira (7), em São Paulo, de um simpósio sobre planejamento familiar.

No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre dez e 19 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada três mulheres casadas com idades entre 20 e 24 anos, uma se casou antes de completar a maioridade. Para discutir esses e outros desafios brasileiros em saúde sexual e reprodutiva, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) participou na sexta-feira (7), em São Paulo, de um simpósio sobre planejamento familiar.

Presente no evento, a oficial de programa do UNFPA no Brasil, Anna Cunha, ressaltou que são necessárias ações direcionadas à prevenção da gravidez não intencional na adolescência. Essas estratégias, apontou a especialista, devem incluir a educação em gênero e sexualidade, englobando a oferta de recursos educacionais.

“O empoderamento de meninas e adolescentes e a corresponsabilidade masculina, para que possam tomar decisões voluntárias, informadas e responsáveis, devem incluir o acesso a insumos de saúde reprodutiva, como preservativos e contraceptivos, e a oferta de serviços de saúde de qualidade e acolhedores para adolescentes, respeitando aspectos como privacidade, confidencialidade e autonomia”, completou a oficial.

Realizado pelo Hospital e Maternidade Vila Nova Cachoeirinha (HMEC), o simpósio reuniu cerca de 70 profissionais de saúde, entre gestores e residentes, para discutir programas de planejamento reprodutivo e de promoção da autonomia. O objetivo do encontro era capacitar esses trabalhadores que lidam com adolescentes, além de garantir serviços de saúde capazes de dar aos jovens mais oportunidades para realizar seus projetos de vida.

No Brasil, a educação e a renda impactam diretamente nas taxas de fecundidade. As condições socioeconômicas também refletem no acesso a informações e a serviços de saúde sexual e planejamento da vida reprodutiva.

A doutora Cristina Guazzeli, professora da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), discutiu as diferenças entre os métodos anticoncepcionais atualmente disponíveis. Além disso, abordou as vantagens da utilização dos anticoncepcionais de longa duração entre adolescentes e alguns desafios que têm dificultado sua implementação no Brasil.

Albertina Duarte, responsável pelo programa de saúde do adolescente da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, apresentou dados sobre gravidez no Brasil, principalmente da unidade federativa onde atua. A gestora expôs as boas práticas de atuação do estado com foco no empoderamento e na construção de habilidades como aspecto fundamental para evitar a gravidez na adolescência ou uma segunda gestação não intencional.

Fonte: ONU

A sexualidade adolescente

Por Vera Iaconelli

Um curioso movimento pendular aparece quando se trata de pensar a sexualidade adolescente. Ora os jovens são tidos como indefesos e correndo riscos diante da educação sexual, ora são protagonistas de orgias sem precedentes. Daquele que não sabe nada sobre sexo para aquele que está promovendo bacanais, resta perguntar de quem falamos afinal.

As pesquisas mostram que a maioria dos jovens brasileiros começa sua vida sexual entre 13 e 17 anos, mal informada, desprevenida para doenças e para gravidezes. Essa é a informação palpável e bem documentada com a qual devemos nos preocupar para começo de conversa. Ela nos indica que temos que abordar o assunto na infância, informando e cuidando para que eles não tenham experiências emocionais traumáticas, doenças venéreas ou bebês indesejados. Historicamente, os pais têm se atrapalhado bastante na hora de falar sobre sexualidade com os filhos, seja porque têm dificuldade de reconhecer a mudança de fase das crianças, seja porque têm questões com a própria sexualidade, seja porque temem despertar o que acreditam que não estaria lá por si só.

A última ideia é curiosa, pois há muito Freud revelou que a sexualidade está presente desde a primeira mamada, pois somos seres sensuais por excelência. Peço desculpas à ministra Damares se Freud soa ousado demais para ela, faz só 113 anos que ele nos tirou do obscurantismo puritano. Não tirou a todos, claro.

Coetzee, em “Desonra” (2000), dirá que o sujeito, mesmo nas piores condições de sobrevivência, não pode ser condenado por “se agarrar (…) ao seu lugar no doce banquete dos sentidos”. Comer, respirar, movimentar-se, falar, ouvir, sentir o sol na pele, rezar são experiências de prazer corporal que nos alimentam tanto ou mais do que os nutrientes que ingerimos. Temos fome de que, se não da própria experiência de reconhecer-nos vivos em cada um de nossos atos? A sexualidade está em toda experiência humana, não há nada de obsceno nisso, apenas somos seres desejosos e desejantes que têm no corpo uma fonte inesgotável de prazer.

O ato sexual em si, devido a sua intensidade e as suas consequências, requer que ofereçamos informações e recursos para que os jovens tomem decisões menos afoitas e menos desprotegidas. Ajudá-los a lidar com a autoestima, com a autoimagem, a emancipar-se da pressão do grupo e, também, a acessar métodos contraceptivos e contra DST é o único caminho para protegê-los.

A viseira de burro, que serve para acreditar que o que está fora da vista não existe, prova sua ineficiência diuturnamente das formas mais catastróficas.

Quanto às orgias adolescentes que estariam migrando dos bailes funk para as casas de classe média alta, como bem apontou Mariliz Pereira Jorge, cabem algumas considerações. Elas revelam a busca por alguma forma de prazer que escape à caretice dos mais velhos, que tentam domesticar a sexualidade do jovem trazendo o antigo motel para o quarto dos filhos. Como transgredir se hoje o sexo está sob controle e bênção dentro da casa dos pais? Longe de fazer uma crítica moralista, trata-se de apontar para a emancipação que a vida sexual deveria antever.

Moral da história: jovens transam desde muito cedo, sem informação e sem proteção, pais permitam ou não. Ignorar ou exaltar a sexualidade adolescente nos impede de escutar os jovens e oferecer-lhes educação apropriada —é preciso encará-la sem hesitação.

Fonte: Folha de S. Paulo

Com que idade descobrimos nossa orientação sexual?

Com qual idade nós descobrimos nossa orientação sexual? Será que uma criança de 9 anos tem idade suficiente para saber qual sua preferência?

Nesta semana, a BBC publicou a história de Jamel Myles, um menino de 9 anos que cometeu suicídio nos Estados Unidos por sofrer bullying depois de revelar a colegas de escola que era gay. O caso ocorreu em Denver, no Colorado.

Leia Rochelle Pierce, mãe do garoto, disse que ele havia contado a ela sobre sua sexualidade há algumas semanas. Segundo Pierce, o garoto estava “orgulhoso” de sua orientação.

A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, entrevistou dois psicólogos especializados em sexualidade para saber se é possível determinar com qual idade as crianças descobrem sua orientação sexual.

Os entrevistados são a psicóloga Asia Eaton, doutora em psicologia social e estudos de gênero e professora da Universidade Internacional da Flórida; e Clinton W. Anderson, diretor da Oficina de Assuntos LGBT da Associação de Psicólogos dos Estados Unidos.

BBC News – Com qual idade uma pessoa conhece sua orientação sexual? Há diferentes versões sobre isso ou é um tema de consenso entre especialistas?

Asia Eaton – Há estudos que revelam que os adultos de minorias sexuais experimentaram sua primeira atração sexual por pessoas do mesmo sexo por volta dos 8 ou 9 anos, mas outros pesquisadores dizem que esse desejo só desperta perto dos 11 anos. Há uma variedade de pesquisas sobre qual seria a média de idade.

É uma pergunta difícil, porque há uma diferença entre orientação e identidade sexual. A orientação sexual geralmente se refere ao sexo ou aos sexos pelo qual ou pelos quais a pessoa sente atração. Já a identidade sexual se refere à percepção de gênero sexual que a pessoa tem de si própria.

Ambas são dinâmicas e podem mudar ao longo do tempo de acordo com o contexto.

A verdade é que a gente tem essas experiências dentro de uma ampla faixa de idade. Alguém poderia ter sua primeira experiência de atração sexual desde os seis até os 16. Ou nunca.

Em média, os jovens de hoje passam a se dizer LGBTQ durante o ensino médio, o que é muito mais cedo que as gerações passadas. Isso ocorre principalmente porque hoje existem maior consciência e aceitação social das pessoas LGBTQ.

Clinton W. Anderson – Esse é um assunto ainda em pesquisa, entre outras razões, porque o gênero e a sexualidade são aspectos da psicologia que refletem as interações entre biologia e contexto sociocultural. Então, à medida que mudam a cultura e a sociedade, o gênero e a sexualidade também estão sujeitos a mudanças.

Certamente há indivíduos que podem experimentar atração sexual aos 9 anos ou antes, mas é pouco provável que com essa idade eles tenham capacidade cognitiva e emocional para compreender completamente o que significa orientação sexual.

Não há uma idade específica em que se espera que todas as pessoas se deem conta de sua orientação ou identidade sexuais. Há algumas pessoas com sexualidade fluida e que podem descobrir no futuro uma orientação diferente.

Para a maioria das pessoas, a orientação sexual – dado que se trata fundamentalmente de relações românticas e sexuais – tende a se desenvolver na adolescência. O gênero, por outro lado, se desenvolve na infância.

BBC News – Até que ponto os pais – e a sociedade em geral – podem influenciar o que as crianças pensam sobre sua própria sexualidade?

Asia Eaton – As pesquisas revelam que a maioria dos jovens LGBTQ dizem que, quando eram pequenos, eram chamados de “mulherzinha” ou “sapatão”, de forma depreciativa.

Todos os jovens que saem do armário correm o risco de sofrer preconceito, discriminação ou violência em suas escolas, locais de trabalho, comunidades religiosas e sociais.

Felizmente, pesquisas revelam que a família, amigos e a escola que apoiam os jovens são pontos importantes para diminuir os impactos negativos dessas experiências.

Os pais têm uma oportunidade poderosa e única para apoiar o desenvolvimento saudável da identidade de seus filhos e também as experiências deles com seus companheiros.

Clinton W. Anderson – A aceitação da diversidade e da identidade sexual é muito importante para a comunidade LGBTQ e para o bem-estar de seus membros.

Uma pesquisa concluiu que a rejeição dos pais está altamente associada a problemas de saúde mental e comportamental. Por outro lado, a aceitação está ligada a resultados melhores nesse sentido.

Essa aceitação dos pais pode proporcionar certa proteção, mas outras instituições com presença de crianças, como escolas e esportes, também podem ter efeitos muito positivos ou negativos, em caso de rechaço ao comportamento de uma criança.

Garantir que essas instituições sejam ambientes seguros e propícios para todas as crianças é muito importante para o sucesso da criança na escola e o bem-estar emocional das crianças.

Empoderamento e direitos sexuais pautam congresso de ginecologia e obstetrícia em SP

A campanha Ela Decide, focada no empoderamento de jovens e mulheres, foi apresentada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no dia 24/08 durante o 23º Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, na capital paulista.

O evento, realizado pela Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP), contou com a presença de profissionais da saúde, médicos e médicas, e adolescentes de várias regiões do estado.

Ao todo, cerca de 150 pessoas tiveram a oportunidade de ampliar o entendimento sobre os desafios específicos das e dos jovens no campo da saúde sexual e dos direitos reprodutivos.

A campanha Ela Decide, focada no empoderamento de jovens e mulheres, foi apresentada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) na sexta-feira (24) durante o 23º Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, na capital paulista.

O evento, realizado pela Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP), contou com a presença de profissionais da saúde, médicos e médicas, e adolescentes de várias regiões do estado.

Ao todo, cerca de 150 pessoas tiveram a oportunidade de ampliar o entendimento sobre os desafios específicos das e dos jovens no campo da saúde sexual e dos direitos reprodutivos.

Entre os presentes, cerca de 100 eram jovens e adolescentes de projetos sociais de São Paulo e Campinas.

As especialistas discutiram temas como início da vida sexual, relacionamento com os pais, namoros, infecções sexualmente transmissíveis, contracepção, saúde e direitos. No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de mãe com idade entre 10 e 19 anos.

Segundo Anna Cunha, o evento teve como objetivo falar sobre os direitos e cuidados com as mulheres para que elas sejam respeitadas e possam fazer valer as decisões sobre sua sexualidade e seu futuro.

Os vídeos da campanha, estrelados pelas atrizes Juliana Alves, Bella Piero, por Gabi Oliveira e pela também youtuber Juliana Tolezano, a JoutJout, foram apresentados no encontro.

Gabi Oliveira ressaltou a importância da comunicação com os jovens. “Os adolescentes já têm uma linguagem diferente da minha. Hoje, em uma notícia, as pessoas só leem os títulos e isso é um grande desafio, tanto para uma campanha como para o universo da Medicina, que precisa se adaptar à nova juventude”.

Mais informações sobre a campanha estão disponíveis no site eladecide.org.

Fonte: ONU

As quatro perguntas mais frequentes sobre sexo

Mesmo em constantes conquistas de independência financeira, igualdade de gênero e outros, falar sobre sexo ainda é desconfortável para muitas mulheres, um verdadeiro tabu. Graças a essa repressão, algumas dúvidas podem surgir e arruinar os momentos de prazer por falta de informação.

 1. Por que não consigo chegar no orgasmo?

Existem diversos fatores que explicam o motivo de muitas mulheres não sentirem o prazer do orgasmo. Um deles é no ciclo menstrual, nos dias da TPM e na ovulação por causa da tensão que a fase causa. Tente chegar lá entre a semana da menstruação e semana seguinte, nesse período os hormônios estarão em alta.

O psicológico da mulher conta muito para ter o orgasmo, pois esse momento é movido pela mente e corpo atinge a excitação máxima. Se existir algum tipo de medo, insegurança, falta de vontade ou baixa autoestima será empecilho para chegar ao orgasmo.

Além disso, se a mulher toma remédios controlados como antidepressivos podem afetar o libido.

2. Por que tenho pouca lubrificação?

Muitos acreditam que é falta de desejo sexual, mas não é bem assim. A lubrificação acontece por meio das preliminares que é todo o envolvimento antes da atividade sexual efetiva e o corpo passa por preparações para o sexo.

A dopamina que é produzida na relação faz com que o coração bata mais forte e o sangue corra mais rápido nas veias que gera acúmulo de sangue nos órgãos genitais liberando a lubrificação na vagina. Ou seja, se não tiver as preliminares não haverá lubrificação necessária. Por isso, é tão importante e necessário.

3. Não tenho vontade de fazer sexo. Como posso reacender a chama?

A falta de apetite sexual é um dos maiores tabus. Muitas mulheres fazem sexo por obrigação, sem vontade, e isso pode causar ainda mais repúdio ao ato. Existem algumas hipóteses como o medo, traumas, insegurança, doenças como depressão. Então, deve-se fazer a autoanálise para saber o que leva a perda da libido e usar de artifícios para que possa reacender a chama.

Entretanto, existem fatores hormonais que podem causar isso. Os anticoncepcionais podem ser responsável pela falta de libido, porque o estrogênio combinado com a progesterona que são componentes na maioria das pílulas, injeções, adesivos e anéis intravaginais, inibem a produção hormonal ovariana, e com isso a produção dos hormônios androgênios (masculinos) fica mais baixo , diminuindo a libido

Outro caso é quando a mulher tem filho e está no período da amamentação o corpo produz a prolactina, o hormônio que é responsável pela produção de leite diminuindo o apetite sexual.

O fator emocional ainda é o mais importante, ou seja, o bom relacionamento do casal, tranquilidade, sedução, namoros com muitas preliminares, deixar um pouco o lado maternal e assumir o da amante, enfim são vários fatores importantes para aumentar a libido

4. E o famoso ponto G? Onde ele está?

O ponto G não é um órgão aparente e sempre surge a dúvida sobre a real existência. Pois bem, a princípio ele fica na parte superior da vagina, próximo a entrada e quando o corpo da mulher recebe estímulos e se excita o ponto G incha e recebe os estímulos. Mas não vale se prender a ele. Existem outros lugares a ser explorado que também dão prazer a mulher, como o clitóris. O que vale realmente é a mulher se sentir à vontade na relação sexual.

Fonte: Destak Jornal

Dor na “Hora H” deve ser avaliada por seu ginecologista

A dor durante a relação sexual não é normal e deve ter sua causa investigada. A endometriose é uma das causas. Geralmente, a queixa inicial é apenas um incômodo e a mulher pode achar que vai passar. Mas com o passar do tempo, esse incômodo começa a ser de dor, que poder ser progressivo. Em estágios avançados, ela torna impossível a relação sexual do casal.

De onde vem esta dor quando causada pela endometriose? O local mais comum onde a endometriose é encontrada chama-se ligamento útero-sacro (fica atrás do útero, em íntimo contato com a vagina). Nesses locais ocorre um processo inflamatório, que deixa e região fibrosa e dolorida, podendo até formar nódulos nesse local. E é por isso que a mulher com esse tipo de endometriose sente dor quando tem relação sexual.

Outra situação na vida da mulher que pode interferir na relação sexual é o uso prolongado de alguns anticoncepcionais que diminuem a lubrificação vaginal e a libido. A lubrificação é um processo natural do corpo feminino quando a mulher se excita. Quando excitada, ocorre um aumento da concentração de sangue na vagina, o que estimula a secreção de muco através das glândulas do colo uterino e da mucosa vaginal e que ajudam na penetração. Quando existem distúrbios hormonais pode haver diminuição da capacidade de lubrificação. Assim, sem lubrificação, o contato entre o pênis e a vagina provocará dores para a mulher durante a relação sexual.

Há ainda casos de processos infecciosos, com ou sem secreção, que levam a dores no ato sexual. Por esta razão, ao menor desconforto na hora do sexo, procure marcar uma consulta com seu ginecologista. Ele fará o diagnóstico e indicará o melhor tratamento.

Fonte: Febrasgo

Disfunções sexuais no climatério têm tratamento

A sexualidade feminina é muito caprichosa e multifacetada, abraçando componentes fisiológicos, psicológicos e interpessoais. Nesse contexto é relevante o papel das diferenças individuais, dos fatores sócioculturais, da aprendizagem e da idade.

1 Em uma parte significativa das mulheres ocorre a chamada disfunção sexual. Esse termo é utilizado para definir distúrbios sexuais, que provoquem sofrimento, que incluem o transtorno do orgasmo feminino, o transtorno do interesse/excitação sexual feminina e o transtorno da dor gênito-pélvica/penetração. 2 A disfunção sexual de curta duração pode provocar frustração e angústia, além de dor, em alguns casos. Quando crônica, essa disfunção de ordem sexual pode levar à ansiedade e a depressão, prejudicando relacionamentos ou criando problemas em diferentes áreas da vida da mulher 3,4 . As queixas sexuais são prevalentes durante toda a vida reprodutiva, mas durante o climatério as mulheres podem ficar mais vulneráveis à disfunção sexual feminina (DSF) devido à interação de vários fatores4 . Durante a transição menopausal e a menopausa ocorrem alterações hormonais que provocam diferentes efeitos nos órgãos genitais e no sistema nervoso central5 . Tudo isso sem contar os fatores físicos, psicológicos, sociais e relativos ao parceiro sexual, que influenciam a função sexual4,6 . As alterações hormonais, de fato, podem influenciar direta ou indiretamente a função sexual feminina5 . Os estrogênios são particularmente importantes na manutenção do tecido genital saudável. Além disso, a atrofia vulvo-vaginal causada pela deficiência de estrogênio na pós-menopausa leva ao afinamento do epitélio vaginal, à perda de elasticidade, ao aumento do PH vaginal, à redução da lubrificação e a alterações na sensação genital, assim como ao ressecamento vaginal e à dispareunia, sintomas muito comuns nessa fase7 . A atrofia vaginal tem um impacto significativo sobre o funcionamento sexual e pode afetar todos os domínios da função sexual, incluindo o desejo sexual8 .

O efeito das mudanças urogenitais da menopausa nas alterações da função sexual é bem conhecido. Em um estudo com 1858 mulheres com média etária de 58 anos, Kingsberg e cols verificaram que muitas mulheres sofrem silenciosamente com dispareunia (dor durante o ato sexual), principalmente por acreditarem que a atrofia vulvovaginal (VVA), como o problema é oficialmente conhecido, era apenas uma parte natural do envelhecimento e algo com que tinham que conviver. Essa condição VVA está relacionada ao afinamento e enfraquecimento dos tecidos vaginais devido a diminuição do estrogênio após a menopausa.9 Vários estudos estimam que aproximadamente cinquenta por cento das mulheres pós-menopáusicas sofrem com sintomas vulvovaginais relacionados, incluindo secura vaginal, irritação, dor durante a relação sexual e problemas com a micção9,10. Sintomas de VVA impactam na capacidade de alcançar o prazer sexual (75%), no relacionamento com parceiros (67%) e na espontaneidade sexual (66%). Apesar de 71% das participantes serem sexualmente ativas, houve diminuição de desejo sexual em dois terços dessas mulheres em consequência da atrofia vulvovaginal. 10

Com toda esta dor e desconforto era comum acreditar que as mulheres estariam procurando avidamente por ajuda para aliviar esses sintomas. Mas pesquisas recentes nos Estados Unidos e na Europa constataram que as mulheres frequentemente não relatam seus sintomas e, por consequência, não recebem tratamento. Há uma tremenda falta de comunicação em relação à questão do desconforto vaginal. A condição é usualmente “subdiagnosticada e subtratada” em mulheres mais velhas, graças a uma falta de comunicação entre médicos e suas pacientes na pós-menopausa.9,10

No estudo de Kingsberg e cols apenas 7% das mulheres usavam terapias prescritas para VVA (terapias de estrogênio local ou medicamento oral de moduladores seletivos do receptor de estrogênio), 18% eram ex-usuárias de terapias prescritas de VVA, 25% usavam inadequadamente o tratamento e 50% nunca tinham sido tratadas. A maior parte das mulheres (81%) não estava ciente de que a VVA é uma condição médica. Das mulheres que nunca utilizaram tratamento, 72% nunca tinham discutido seus sintomas com um profissional de saúde.10

Efeitos sistêmicos do climatério na função sexual
Além dos problemas urogenitais, durante a peri ou pós-menopausa, os efeitos sistêmicos da deficiência estrogênica podem piorar a função sexual nas mulheres11. Entre esses efeitos sistêmicos se encontram os sintomas vasomotores, a insônia, as alterações do humor e os sentimentos negativos que muitas vezes surgem12 .

Embora não se tenha uma exata compreensão do seu papel na sexualidade feminina, os andrógenos, produzidos na glândula adrenal e ovários, parecem ter importância no interesse e na excitação sexual13 . O nível de andrógenos circulantes declina gradualmente com a idade devido a uma redução da produção adrenal: os andrógenos circulantes em uma mulher de quarenta anos são a metade do que é encontrado numa de vinte14 .

A queda na produção hormonal, que afeta os receptores em vários sistemas do corpo, provoca, portanto, consequências na função sexual que variam de efeitos na função cognitiva à resposta genital local. Quando há uma queda abrupta na produção desses hormônios, como na menopausa cirúrgica ou quimioterapia, o efeito adverso na função sexual, especialmente no desejo sexual, é ainda mais significativo15 .

O desejo sexual hipoativo (DSH), ou seja, a redução desse desejo, foi o problema sexual mais prevalente identificado em estudo populacional em mulheres brasileiras de meiaidade, seguido pela disfunção da excitação e do orgasmo. O estudo identificou o DSH em aproximadamente 60% dessas mulheres e uma prevalência maior com o aumento da idade16. Registro de 1574 pacientes citou que 67,5% das mulheres estavam frequentemente ou sempre angustiadas pela falta de desejo sexual. Menos da metade dessas mulheres procuraram cuidados ou assistência profissional para seu DSH. Das que aceitaram tratamento hormonal, 7,6% estavam na pré-menopausa e 23,7% eram mulheres na pós-menopausa. Entre os motivos apontados para a falta de procura por cuidados se encontravam a falsa noção que diminuição do desejo sexual é uma parte inevitável do envelhecimento e o pressuposto de que não existe nenhum tratamento para as disfunções sexuais femininas. 17

Outros fatores da disfunção sexual
Existem evidências de que a função sexual é influenciada por fatores psicossociais, incluindo a qualidade do relacionamento interpessoal, o suporte social, o bem estar emocional, as doenças crônicas e a depressão 18, assim como a ausência de parceiro ou parceiro com problemas de saúde19 . No entanto, entre todos os fatores que afetam o desejo sexual feminino, o envelhecimento parece ser o mais significativo20. Além disso, as doenças crônicas, que aparecem com o envelhecimento e os tratamentos relacionados, podem afetar direta ou indiretamente a função sexual feminina, pela diminuição dos níveis dos esteróides sexuais, inervação e perfusão dos órgãos genitais femininos21. Não obstante, algumas mulheres pós-menopausa relatam um aumento na satisfação sexual. Isto pode ser devido a diminuição da ansiedade associada ao medo de gravidez. Além disso, nessa fase, muitas têm menos responsabilidades de criação dos filhos, permitindo-lhes relaxar e desfrutar de intimidade com seus parceiros.

Em relação ao parceiro sexual, estudos indicam a associação entre grau de intimidade emocional com o parceiro e satisfação sexual. Por outro lado, problemas sexuais do parceiro podem ter efeitos adversos na função sexual feminina. Assim problemas de disfunção erétil, por exemplo, podem levar à diminuição do desejo feminino. 22

No entanto, constatou-se que no decorrer do envelhecimento observou-se mudança na forma de expressão da sexualidade, assim como diminuição da frequência da atividade sexual, mas a satisfação sexual pode permanecer para a maioria das que continuam sexualmente ativas23 .

CONCLUSÃO
O conhecimento dos fatores que interferem na sexualidade feminina no climatério é de suma importância, uma vez que existem várias possibilidades de tratamento para os sintomas climatéricos. De maneira especial, deve-se considerar a relevância da atrofia vulvovaginal, não só pelos sintomas locais, mas como desencadeadora de distúrbios nos outros domínios da função sexual.

Referências
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8. Santoro N, Komi J. Prevalence and impact of vaginal symptoms among postmenopausal women. J Sex Med 2009;6:2133-42.
9. Kingsberg SA, Krychman M, Graham S, Bernick B, Mirkin S. The Women’s EMPOWER Survey: Identifying Women’s Perceptions on Vulvar and Vaginal Atrophy and Its Treatment. J Sex Med. 2017 Feb 12. pii: S1743-6095(17)30058- 9
10. Palacios S, Cancelo MJ, Castelo Branco C, Llaneza P, Molero F, Borrego RS. Vulvar and vaginal atrophy as viewed by the Spanish REVIVE participants: symptoms, management and treatment perceptions. Climacteric. 2017 ; 20(1):55-61.
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19. Gott M, Hinchliff S.. How important is sex in later life? The views of older people. Soc Sci Med 2003;56:1617-28.
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Fonte: Febrasgo

Desejo sexual hipoativo

A sexualidade feminina está ligada a inúmeros fatores, cujo exercício pode, desde que insatisfatório, levar a frustrações também no relacionamento com o parceiro de modo mais amplo, que vai além da esfera exclusivamente sexual.

Hoje vamos abordar um problema frequente entre as mulheres, a falta de desejo ou libido, que os médicos chamam de desejo sexual hipoativo. Esta queixa é tida como a forma mais comum de disfunção sexual entre mulheres de todas as idades, com números que podem alcançar até um terço delas entre 18 e 59 anos no nosso meio.

Contrariamente à crença popular, os especialistas afirmam que a frequência de relações sexuais não tem relação com o desejo ou mesmo com a satisfação sexual pois não há um número de relações sexuais considerado “normal” e as variações são individuais ou até para cada casal, inclusive variando ao longo de anos de relacionamento. O importante é que ambos estejam satisfeitos com o desempenho e frequência.

Por outro lado quando uma mulher experimenta diminuição significativa no desejo e isto é frustrante para ela e interfere no seu relacionamento sexual e conjugal, estamos diante de uma mulher que precisa ser ouvida orientada e eventualmente tratada, com diagnóstico de desejo sexual hipoativo.

O importante nestes casos é investigar a origem do problema, seja ele físico ou psicológico para orientação do tratamento mais adequado. Além das questões sociais como estresse e cansaço em atividades profissionais desgastantes, traumas e medos por relacionamentos anteriores ruins e até agressivos (estupro ou abusos sexuais), insatisfação com sua imagem corporal, conflitos no próprio relacionamento com o parceiro, uso de drogas, álcool, fumo e medicamentos podem afetar o desejo. Não podemos esquecer que algumas doenças também podem interferir com o desejo e devem ser avaliadas por um médico.

O exercício adequado e satisfatório da sexualidade é importante na qualidade de vida e é neste sentido que a SOGESP levanta a problemática e incentiva, não só que as mulheres consultem um ginecologista mas também esclareçam suas dúvidas e discutam abertamente com ele seus problemas sexuais.

Fonte: Sogesp

Mulher e sexualidade

Há muito tempo, a sexualidade é assunto tratado com ponderação e restrição no universo das mulheres. Se em determinados momentos, a figura sexual feminina foi divinizada — pelo poder de dar à luz –, em outros, vigorou uma visão menos romantizada, segundo a qual o prazer sexual era reservado ao homem. À mulher, restava o sexo como um meio para cumprir seu papel na perpetuação da espécie.

Tal visão machista isolava a mulher de uma função natural do corpo, o prazer, para focá-la tão somente na maternidade. Aquelas que se aventuravam a usufruir desse sentimento ficavam mal faladas. Uma espécie de punição moral.

Por consequência, um dos únicos temas discutidos mais abertamente e abordados com menos preconceito são os métodos de contracepção. Como não servem ao prazer e, sim, à prevenção, preocupar-se com as formas de não engravidar passou a ser tarefa quase que exclusiva das mulheres.

A NOVA GERAÇÃO DE ANTICONCEPCIONAIS

Apesar de as mulheres terem hoje maior representatividade social e assumirem múltiplos papéis como chefes de família, profissionais e mães, ainda carregam praticamente sozinhas o fardo do controle da natalidade. Em maio de 2012, a pílula anticoncepcional completou 50 anos e é possível notar que a evolução das tecnologias contraceptivas caminhou na mesma direção das preferências e dos comportamentos femininos de determinadas épocas.

Segundo pesquisa realizada pelo Ibope, as mulheres da geração Y (nascidas após 1965) tendem a buscar métodos anticoncepcionais que se encaixem melhor em sua rotina movimentada e se casem com suas prioridades atuais mais centradas na vida profissional. Por isso, elas procuram opções que exijam intervenções mais esporádicas, deem pouco trabalho e tenham menos efeitos colaterais.

A Dra. Cristina Guazelli, professora adjunta do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, explica que as pílulas anticoncepcionais, compostas de estrogênio e progesterona (hormônios que impedem a ovulação), evoluíram e passaram a ter carga hormonal menor que as antigas, mantendo a mesma eficácia.

Foram adicionados, também, hormônios com efeito diurético — que minimizam o inchaço próprio da menstruação — e outros capazes de melhorar a textura do cabelo, suavizar problemas de pele, como a acne, e aliviar a irritabilidade e a cólica, sintomas comuns da TPM (Tensão Pré-Menstrual), amenizando algumas das principais queixas femininas.

Opções envolvendo tecnologias mais avançadas permitem intervalo maior entre uma dose e outra, diminuindo, assim, o risco de esquecimento. Esse é o caso dos anéis anticoncepcionais de silicone, introduzidos no canal vaginal no primeiro dia da menstruação e substituídos a cada sete dias, dos adesivos contraceptivos, que podem ser colados no braço, costas ou virilha também no primeiro dia da menstruação e trocados uma vez por semana e das injeções aplicadas mensalmente.

Para as mulheres que não querem engravidar num futuro próximo, Dra. Carmita Abdo, professora de psiquiatria e coordenadora de estudos em sexualidade da USP, sugere métodos mais estáveis, como o DIU. “Apesar de não ser uma opção nova, ainda dura mais que as versões modernas. Sua remoção é mais trabalhosa e necessita de intervenção médica, mas oferece conforto e evita o esquecimento”, explica.

CONTRADIÇÕES DA EVOLUÇÃO

Quando descobriu que estava grávida pela segunda vez, a cabeleireira Maria Ivone dos Santos decidiu que, após o nascimento da sua caçula, não teria mais filhos. Na época, com apenas 26 anos e sem muito acesso à informação, por sugestão do seu ginecologista, a jovem optou pela laqueadura, um método de esterilização em que são rompidos os ligamentos das tubas uterinas, canal onde o óvulo e espermatozoide se encontram.

O processo é reversível e as tubas podem ser ligadas novamente, mas nesses casos as chances de engravidar caem cerca de 30%. Naquele momento, o procedimento parecia a melhor opção para Maria Ivone. Ela não esperava, porém, que com um novo casamento o desejo de engravidar ressurgisse.

“Queria ter novamente um filho, mas seria um trabalho muito grande passar pela cirurgia de reversão em troca de uma probabilidade bem pequena de engravidar. Assim, acabei desistindo da ideia”, confessa Maria Ivone.

Hoje, com 42 anos, a pernambucana se completa com o papel de avó e acredita que teria tomado uma decisão diferente na época, caso seu ginecologista tivesse mostrado outras opções de contracepção tão eficientes quanto a laqueadura, entretanto com maior chance de reversão.

Para a Dra. Carmita, as pacientes escolhem métodos mais antigos, porque acreditam que os novos não se encaixam no seu perfil, já que muitos médicos nem sequer os sugerem. “Os ginecologistas devem exercer um papel mais ativo na informação sobre métodos contraceptivos, de forma a atender as atuais necessidades das mulheres brasileiras”, afirma.

Confirmando essa hipótese, dados do Ibope mostram que, apesar de terem mais acesso a informações, as mulheres mais jovens acabam optando por contraceptivos mais antigos. Uma vez que não têm conhecimento dos métodos mais novos, 68% dos pacientes continuam escolhendo as pílulas hormonais, enquanto apenas 28% escolhem a injeção.

Além da falta de conhecimento, há ainda a desconfiança em alguns novos medicamentos: 24% das entrevistadas não confiam na eficácia dos adesivos e 12% na do anel vaginal. Dra. Cristina explica que esse é um grande equívoco, já que os métodos mais novos são tão ou mais eficientes que os tradicionais. “O anel, por exemplo, evita a gravidez mesmo com taxas hormonais menores que as da pílula, pois o canal vaginal tem capacidade de absorção muito maior que a via oral” .

HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO

Engana-se quem acredita que os métodos contraceptivos são criações recentes. Apesar de ser um assunto controverso para algumas culturas e religiões, os procedimentos de controle da natalidade já eram estudados desde a época da Grécia e Egito antigos.

Os primeiros métodos foram descobertos e registrados pelo pai da medicina, Hipócrates de Quíos, entre os anos de 460 a.C. e 377 a.C., na Grécia. O filósofo descobriu que a semente de cenoura selvagem tinha eficácia contraceptiva.

A utilização de técnicas anticoncepcionais passou a ser tão frequente no cotidiano daquela época que o historiador Políbio registrou queda na natalidade na região do Mediterrâneo no século II a.C.

Fonte: www.drauziovarella.com.br

Os problemas sexuais da menopausa — e como enfrentá-los bem

Com o aumento da sobrevida, nós, mulheres, temos a expectativa de viver um terço de nossa vida na pós- menopausa, privadas da produção fisiológica de hormônios sexuais, o que acarreta mudanças em vários aspectos: físico, orgânico, psicológico – e na sexualidade. A compreensão sobre a saúde sexual nessa fase significa um passo importante para manter a qualidade de vida.

Embora a maioria das mulheres experimente algumas mudanças na função sexual à medida que amadurece, a menopausa e o envelhecimento certamente não sinalizam o fim da vida sexual de uma mulher.

Diferenças culturais devem ser observadas e consideradas. Cito como exemplo um estudo que comparou presença e intensidade de sintomas da menopausa em mulheres americanas, simplesmente versus descendentes de índios maias e concluiu que estas praticamente não sentem alterações e são valorizadas e homenageadas como sábias em sua comunidade, encontrando por isso razões para uma vida plena e feliz.

Sem pensar em reprodução efetivamente, a sexualidade no ser humano desperta prazer e afetividade; tanto homens como mulheres sentem-se valorizados quando seu desejo se encontra em atividade, em qualquer fase da vida. Temos hoje conhecimento suficiente e recursos de tratamento disponíveis para ajudar as mulheres a se adaptarem a essas mudanças; no entanto, muitos profissionais de saúde não abordam as questões da esfera sexual, que fazem parte da saúde feminina em qualquer idade. Um recente estudo americano analisou especificamente se, e como as mulheres procuram ajuda de profissionais para seus problemas sexuais. Envolvendo mais de 3000 mulheres em diferentes idades com queixas preocupantes de desejo sexual, excitação e / ou orgasmo, o estudo evidenciou que apenas um terço dessas mulheres procurou ajuda profissional para seu problema sexual; outro dado importante é que dessa parcela, em 80% dos casos, foi a mulher, e não o médico, que iniciou a discussão sobre o problema. Embora não haja dados brasileiros sobre esse tema, nossos números podem ser parecidos ou piores, é certo que as mulheres brasileiras não têm sua saúde sexual tratada de forma adequada pelos sistemas de saúde.

Os sintomas mais comuns são dificuldades nas fases de desejo, excitação, problemas para atingir orgasmo, ressecamento vaginal e dor à penetração causados pela atrofia. Questões importantes também se referem ao parceiro que, especialmente no que se refere à problemas de manutenção da ereção e controle da ejaculação.

Além das questões diretamente relacionadas à sexualidade, outras devem ser analisadas e corrigidas pois comprometem a qualidade de vida, tais como incontinência urinária, ondas de calor, doenças crônicas, insônia, fadiga, alterações de humor, autoestima baixa, síndrome do “ninho vazio”, problemas de relacionamento conjugal etc.
Embora muito incômodos, os problemas sexuais durante a menopausa têm solução, e há várias estratégias e tratamentos para superá-los, que incluem desde exercícios físicos diários e alimentação saudável, medidas de ajuda para melhor entendimento dessa fase da vida, aconselhamento sexual com ou sem seu parceiro.

O tratamento hormonal como recurso terapêutico viável retoma seu crescimento, após pouco mais de uma década da publicaçāo de famoso estudo americano, o WHI, que demonstrou riscos para seu uso. Na atualidade os hormônios podem ser utilizados em baixas doses, por menor tempo. Existem produtos bioidênticos derivados do estrógeno, progesterona e testosterona, respeitando as contraindicações (trombose, epilepsia, câncer, hormônio dependente, hepatopatias).
Os hormônios podem ser usados por várias vias — oral, transdérmica, injetável, por implante subcutâneo e dispositivos intrauterinos. É importante também a reposição tópica por meio do uso de cremes vaginais com hormônios.

Por fim, hoje podemos contar com procedimentos como o laser e a radiofrequência, que induzem a produção de colágeno na vulva e vagina devolvendo elasticidade, lubrificação e proteção local.

O importante é que as mulheres na fase do climatério estejam cientes sobre as mudanças e soluções possíveis. Consulte seu médico, pois essa é mais uma fase importante da vida que merece ser vivida com plenitude.

Por: Marianne Pinotti

Fonte: Veja

Os clichês sobre o orgasmo feminino derrubados pela ciência

Costuma ser mais comum ler sobre o orgasmo das mulheres em revistas femininas do que receber informações dos cientistas, mas aos poucos os pesquisadores estão começando a estudá-lo mais – e suas conclusões geralmente contradizem as das publicações populares.

Parte do problema, dizem os especialistas, é porque o corpo da mulher tem sido bem menos estudado que o masculino e também é – de longe – bem menos compreendido.

Exemplo disso é o caso de Callista Wilson, uma estilista que mora em San Francisco, nos Estados Unidos.

“Eu chamo de círculo de fogo. Parecia que tinha um círculo de fogo no meio das pernas e essa era uma sensação constante – era uma queimação, um comichão e, então, durante o sexo ou mesmo com um absorvente interno era como se uma faca de churrasco estivesse me cortando, era muito doloroso.”
Ela teve essa sensação pela primeira vez quando tentou usar um absorvente interno, aos 12 anos. E apenas aos 20 anos finalmente foi a uma médica.

‘Deve ser coisa da sua cabeça’
“Ela (a médica) pareceu muito cética que algo pudesse estar errado”, lembra Callista.

“E disse: ‘você parece perfeitamente normal, por isso recomendo que procure um terapeuta para falar sobre o que está causando esta dor. Deve ser coisa da sua cabeça’.”

E se passaram mais 10 anos até que Callista tivesse um diagnóstico.

Os problemas sexuais nesse período atingiram cada aspecto da sua vida, conta ela, causando desde depressão até o fim do seu relacionamento amoroso.

Finalmente, depois de ir a 20 médicos, ela chegou ao consultório de Andrew Goldstein, diretor do Center for Vulvovaginal Disorders (Centro de Transtornos Vulvovaginais, em inglês), em Washington.

O médico disse que ela havia nascido com 30 vezes mais terminações nervosas na entrada da vagina – o que significava que quando o local era tocado ela sentia dores fortes, como se estivesse sofrendo queimaduras.

A solução foi uma cirurgia que removeu parte da área ao redor da abertura vaginal, procedimento que retira as terminações nervosas hipersensíveis.

Depois disso, Callista soube pela primeira vez o que era fazer sexo sem dor.

A importância do nervo pudendo
O problema da estilista, chamado de vestibulodinia ou vestibulite vulvar, não é comum. Mas uma coisa os pesquisadores entenderam recentemente: o sistema nervoso pélvico varia imensamente de uma mulher para outra.

Quando a ginecologista Deborah Coady, de Nova York, começou a estudar o assunto, verificou que os nervos na região genital masculina eram totalmente mapeados – mas não existia informação sobre os das mulheres.

A médica formou uma equipe com cirurgiões especializados e começou a trabalhar no assunto.

Conseguiu resultados interessantes.

“Aprendemos que provavelmente não existem duas pessoas parecidas quando se trata de ramificação do nervo pudendo”, diz Coady.

Esse nervo tem três ramos que atravessam a região pélvica de homens e mulheres.

“A maneira como as ramificações (do nervo) passam pelo corpo leva a diferenças na sexualidade, ou seja, a sensibilidade de certas áreas vai variar de mulher para mulher”.

O nervo pudendo é o mais importante quando se fala em orgasmos. É ele que liga os órgãos genitais às mensagens cerebrais de toque, pressão e atividade sexual.

Coady também descobriu que cada mulher tem um número diferente de terminações nervosas em cada uma das cinco zonas erógenas da área genital – clitóris, entrada da vagina, colo do útero, ânus e períneo.

“Isso explica por que algumas mulheres são mais sensíveis na área do clitóris e outras na entrada da vagina”, observa.

Esta é uma das razões pelas quais as informações genéricas sobre sexo existentes nas revistas femininas geralmente são inúteis.

“Cinquenta por cento das leitoras podem sentir o que a revista diz”, destaca a médica.

“Mas há um outro grupo que, por causa da sua anatomia e do fato de que os nervos variam em todos nós, talvez não respondam como os artigos das revistas dizem”.

Medição da excitação feminina
Um outro grande mito foi derrubado por Cindy Meston, do Laboratório de Orgasmo da Universidade do Texas em Austin.

Quando pensamos em laboratório, a primeira imagem que vem à cabeça são várias superfícies brancas, luzes fortes e microscópios. Mas o dela é bem diferente.

As pessoas que participam dos estudos de Meston sentam num sofá reclinável de couro vermelho, diante de uma TV, e assistem a vídeos pornográficos.

Da sala ao lado, a especialista monitora o batimento cardíaco e o fluxo de sangue nos seus genitais por meio de uma fotopletismografia vaginal, um exame não invasivo que mede e registra as modificações de volume de uma parte do corpo, órgão ou membro decorrentes de fenômenos circulatórios.

Nele, um dispositivo com cinco centímetros de comprimento e no formato de um absorvente interno é inserido na vagina da paciente.

Quando acionado, ele emite uma luz. Ao medirem a luz que é refletida de volta, os cientistas são capazes de dizer quanto sangue está circulando no tecido vaginal – e, consequentemente, o nível de excitação da mulher.

Os resultados dos estudos de Meston derrubam vários clichês.

Mulheres excitadas antes do sexo
“Durante anos nos disseram: ‘tome um banho de banheira, se acalme, escute música relaxante, faça exercícios de respiração, relaxe antes do sexo”, diz a médica.

“Mas minha pesquisa mostra o oposto: na verdade o que se deseja são mulheres animadas.”

“Então você pode dar uma volta no quarteirão correndo do seu parceiro, ou ver um filme de terror com ele, se divertir numa montanha-russa ou assistir a uma boa comédia. Se você estiver rindo, vai haver uma compreensível resposta de ativação simpática.”

Meston se refere ao sistema nervoso simpático, responsável pelas contrações musculares inconscientes, que nos deixa alertas, preparados para voar ou lutar.

Ela descobriu que se esse sistema for ativado antes do sexo, ajudará as mulheres a reagirem mais intensa e rapidamente.

O que acontece com os homens é quase o oposto. Por isso, durante anos considerou-se que as mulheres funcionavam da mesma forma que eles, mas o trabalho de Meston mostrou que isso era um erro.

Falta de conhecimento sobre a sexualidade feminina
Andrew Goldstein também percebeu desde seus tempos de estudante que o corpo e a sexualidade femininas eram insuficientemente compreendidos.

“Completei a residência em obstetrícia e ginecologia com uma carga horária de 20 mil horas”, lembra.

“Assisti a uma palestra de 45 minutos sobre a função sexual feminina. Posso dizer que tudo o que foi dito durante aqueles 45 minutos estava completamente errado.”

O médico continua: “Qualquer problema sexual feminino recebe menos atenção do que qualquer disfunção sexual nos homens. Vejo claramente que é uma questão de diferentes padrões de avaliação”.

“Infelizmente é óbvio que se os homens têm disfunção sexual, problemas de ereção, você também consegue vê-los, (ao passo que) mulheres são estigmatizadas se têm alguma disfunção”. Dizem que tudo está na cabeça delas.

Meston diz que é difícil conseguir verba para pesquisar o prazer sexual delas – o orgasmo feminino não é visto como um “problema social suficientemente importante”, explica.

Ela também percebe uma desaprovação puritana das instituições médicas nesta área de estudo.

Pesquisadores enfrentam preconceitos
“Existem muitos críticos conservadores que não querem que verbas federais sejam destinadas a pesquisas sexuais. Como pesquisador você precisa então ser um pouco criativo”, afirma.

“Já me disseram claramente para tirar o ‘sexo’ do meu projeto. Eu ouvi: ‘Você pode falar sobre bem-estar ou satisfação conjugal, mas falar sobre excitação sexual ou orgasmo é o fim da linha e reduzirá suas chances de conseguir patrocínio’.”

Certa vez, ela foi convidada a dar uma palestra para um grupo de acadêmicos aposentados, mas foi “desconvidada” quando informou o assunto: sexualidade das mulheres.

“Houve imensa resistência e rejeição porque estávamos falando sobre o prazer sexual feminino”, disse.

“Fiquei horrorizada e ofendida. Na verdade, fiquei deprimida. Eu achava que pelo menos já tínhamos passado desse ponto.”

E como Callista Wilson se sente ao saber da dificuldade das pesquisas que conseguiram acabar com a dor que a incomodou por tantos anos?

“A gente nasce de uma vagina, por que não sabemos mais sobre elas?”, pergunta.

“Por que não nos preocupamos mais com isso? Por que não se investe mais no assunto? Isso ajudaria homens e mulheres a terem mais pesquisas, financiamento e mais conversas sobre o assunto. Isso só beneficiaria todo mundo”, conclui.

Fonte: BBC Brasil