Sobrecarga atinge mulheres durante a quarentena deixando-as por um fio

Acordar, preparar o café da manhã da família e a lancheira das crianças, lavar a louça, encaminhar os filhos para a escola, ir para o trabalho, encerrar o expediente, voltar para casa, cuidar da janta e da limpeza do lar, colocar os meninos para dormir; E, no dia seguinte, a maratona começa de novo. A rotina de muitas brasileiras, que já era intensa antes da pandemia de coronavírus num cenário em que as atividades domésticas e familiares se concentram desigualmente sobre as mulheres, ficou pior.

Com a crise mundial da doença, os filhos não podem mais frequentar creche ou escola. Para as mães que não tiveram como aderir ao teletrabalho, esse é um grave problema, pois não têm estrutura adequada para deixar os filhos e ir ao serviço. Mesmo para as que estão em home office, a situação é problemática, pois conciliar mais gente em casa, o cuidado com os filhos (e, às vezes, auxiliá-los em atividades escolares a distância no caso dos que estudam em colégios particulares) e o expediente é complicado.

Em boa parte dos lares, elas não contam com um companheiro ou outra pessoa com quem podem compartilhar tarefas e aliviar o peso dessas atividades não remuneradas. Até mesmo quando há um cônjuge na residência, a carga de serviço doméstico tende a ficar concentrada nas mulheres. O confinamento colocou uma lente de aumento na desigualdade de gênero e na sobrecarga que atinge a vida das trabalhadoras, mães ou não.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, mostram que as mulheres realizam serviços domésticos durante 18,5 horas por semana, em comparação com 10,3 horas semanais gastas pelos homens. Isso tudo antes do cenário da pandemia, que coloca mais crianças e pessoas em casa, demandando mais cuidados. No momento atual, a carga de atividades de casa deve estar bem maior.

Lares com chefia feminina

Segundo a pesquisa Mulheres chefes de família no Brasil: avanços e desafios, o número de famílias brasileiras chefiadas por mulheres era de 28,9 milhões, em 2015, ano dos últimos dados. Cera de 15,3% das formações familiares são representadas por mães solo ou viúvas e 5,5 milhões de crianças no Brasil não têm o nome do pai na certidão de nascimento.

Reflexões da ONU

A preocupação com o aumento da desigualdade durante a pandemia fez a Organização das Nações Unidas (ONU) lançar uma cartilha sobre os direitos das mulheres em meio à crise. O folheto ;Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe; coloca em pauta questões como a garantia do acesso a serviços e cuidados de saúde sexual e reprodutiva, trabalho não-remunerado, violência doméstica, entre outros assuntos. O objetivo é alertar as autoridades sobre o impacto da pandemia na vida das mulheres e garantir a dimensão de gênero nas medidas tomadas durante a crise. Para conferir a cartilha, acesse o link: bit.ly/2Krre0a.