Efeitos da quarentena
Após 2 meses de distanciamento social, estamos aqui, tentando entender o que significa esta pandemia e tentando lidar com os efeitos que ela está trazendo ao nosso cotidiano.
Do ponto de vista da doença, o distanciamento social é necessário para que todas as pessoas não fiquem doentes ao mesmo tempo. Um preço caro a ser pago, mas necessário para que nosso sistema de saúde, que habitualmente já trabalha no limite, não entre em colapso; tradução da falta de investimentos, a longo prazo, na área da saúde. Se os hospitais tivessem melhor condição de absorver os casos mais graves, não seria necessária uma restrição tão intensa.
Esta semana saiu uma estatística, baseada em projeções, onde neste período, 50 mil casos de câncer deixaram de ser diagnosticados e 70% dos procedimentos cirúrgicos, de menor urgência, foram adiados ou tratados temporariamente de maneira alternativa. Isso tudo para diminuir o risco de complicações cirúrgicas e de evolução desfavorável em caso de contaminação pelo “coronavírus” e com a finalidade de desocupar as vagas de UTI, para ficarem disponíveis para os possíveis casos da COVID -19.
Não podemos esquecer de todas as doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, que tiveram seu tratamento interrompido ou com alguma dificuldade de acompanhamento, os transtornos de saúde mental como depressão e ansiedade, que sofreram interrupção de acompanhamento psicológico e mesmo de medicação e até mesmo os casos de aumento de violência doméstica, que estão em torno de 40% superiores. Qual o impacto que as medidas restritivas tomadas hoje vão trazer neste panorama, inclusive em termos de mortalidade??
Falamos ainda, principalmente das classes sociais menos favorecidas, que estão sofrendo as consequências econômicas mais drásticas, onde muitas pessoas já passam fome.
Fica a incerteza de como e quando será o nosso retorno à vida “normal” e o que temos que administrar, com as ferramentas que temos.
Além de todo aprendizado que estamos tendo nesta “quarentena”, que possamos tirar os melhores exemplos e as melhores condutas e sempre fazer o melhor para todos. E que saibamos cobrar de nossas autoridades, mais compromisso com o “recurso público”, que dessa vez afetou nosso bem maior.
Dr. Ricardo Faure