Amor Líquido
O título deste texto vem de uma resenha escrita pelo Dr. Álvaro Pulchinelli (médico patologista clínico) na revista Ser Médico e vem alertar para uma realidade que estamos vivendo. Estamos na era das redes sociais, onde o contato, mesmo que virtual, é muito fácil, a coragem para exprimir pensamentos, opiniões e sentimentos é muito maior, afinal, em muitas situações, não temos o contato visual. Mas mesmo assim, no final somos o que falamos e postamos.
O amor-próprio atualmente é consequência de sermos amados. Quanto mais somos ouvidos e mais “likes” recebemos, mais felizes e especiais nos tornamos. As outras pessoas é que vão “determinar” o quanto somos importantes, dignos e amados.
Seguindo esta linha de raciocínio estão os relacionamentos atuais, onde o compromisso se perdeu. O importante é estar junto pelo prazer momentâneo. Quando percebemos que temos que passar por privações e fazer um esforço maior para construir uma unidade familiar, trocamos o parceiro. Existe uma tendência de acreditarmos que o próximo relacionamento será melhor, pela maior oferta e por acharmos que estamos sempre perdendo algo. É a troca pela quantidade na tentativa de suprir a falta de qualidade. O livro Amores líquidos, de Zygmunt Bauman, lida com essa ambivalência dos relacionamentos atuais. Há uma propensão a relações mais descartáveis e flexíveis.
Não podemos, porém, deixar de entender, que a nossa felicidade passa pela capacidade de nos amarmos pelo que somos e fazemos, independente da aprovação alheia. E que os sentimentos de amor e empatia pelo próximo devem ser uma constante em nossas vidas. Só assim teremos a capacidade de construir uma relação sólida, uma unidade familiar.
Todo este questionamento deve fazer parte da nossa vida constantemente. Num mundo onde as relações são cada vez mais superficiais, o que podemos fazer para nos aceitar e viver melhor? Quais são nossas referências morais? Estamos vivendo para sermos pessoas individuais e livres ou buscamos uma vida afetiva e estável? Vale sempre refletir.
Dr. Ricardo Faure Fonte: Revista Ser médico nº 94 – 2001