Terapia hormonal nas disfunções do assoalho pélvico. Por quê? Quando?

Por Marair Gracio Ferreira Sartori

Vários sintomas urogenitais podem surgir ou se agravar na pós-menopausa. A terapia hormonal poderia atuar nos distúrbios de assoalho pélvico, como incontinência urinária de esforço, bexiga hiperativa, prolapso genital e infecções do trato urinário.

INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO (IUE)

Os principais fatores de continência são: mucosa da uretra, vascularização, musculatura e tecido conjuntivo periuretrais. Todos são fortemente influenciados pelos estrogênios.

Algumas pesquisas mostram piora da IUE com a terapia hormonal (TH). No entanto, é importante salientar que tais estudos foram desenhados para avaliar os efeitos da TH na prevenção de outras afecções, sendo os sintomas urinários estudados em subanálises, que nem sempre refletem a realidade. Há evidências que os estrogênios aumentem a pressão uretral, com melhora da IUE, porém, esses achados não foram confirmados8. A estrogenioterapia tópica atua favoravelmente na melhora da IUE.

Como existem evidências da ação estrogênica nos diversos fatores de manutenção da continência urinária, é natural supor que a estrogenioterapia seja uma opção terapêutica da IUE na pós-menopausa, podendo ser aplicada como coadjuvante dos tratamentos tradicionais.

BEXIGA HIPERATIVA (BH)

Os estrogênios poderiam aliviar os sintomas da BH por aumento do limiar sensorial da bexiga e de receptores alfa-adrenérgicos, relaxamento vesical ou por melhorarem o trofismo e colágeno ao redor da bexiga e uretra.

Há evidências que estrogênios diminuam urgência, frequência miccional, disúria e urgeincontinência, além de aumentar as capacidades vesicais. O estrogênio pode ser usado isoladamente ou associado com anticolinérgicos e a via vaginal tem efeitos benéficos mais pronunciados.

PROLAPSO GENITAL

Os estrogênios atuariam na espessura, umidade e elasticidade da parede vaginal, melhorariam força e elasticidade de ligamentos e músculos do assoalho pélvico.

A TH poderia melhorar os resultados das cirurgias, da fisioterapia, aliviar os sintomas irritativos decorrentes da atrofia genital e da exposição da parede vaginal e diminuir complicações relacionadas aos pessários.

Apesar dos possíveis efeitos benéficos, há poucos estudos randomizados e controlados para avaliar especificamente a ação estrogênica na prevenção ou tratamento do prolapso genital.

INFECÇÃO URINÁRIA (ITU)

Há aumento incidência de ITU em decorrência do hipoestrogenismo, e da diminuição da imunidade celular e humoral. Outros fatores contribuem para que ocorram mais infecções nessa fase, como micções pouco frequentes ou esvaziamento incompleto da bexiga.

Os estrogênios atuam na flora vaginal, aumentando o número de lactobacilos, consequentemente diminuindo o pH vaginal. Há menor colonização vaginal por enterobactérias e assim menos episódios de ITU.

A terapia estrogênica na pós menopausa leva à diminuição da incidência de infecção urinária bem como previne recidivas. A via de administração usualmente empregada é a vaginal, que apresenta melhores resultados.

CONCLUSÕES

O ginecologista deve avaliar cuidadosamente sua paciente na pós-menopausa, identificando os possíveis benefícios da terapia hormonal considerando os potenciais riscos. A prescrição da terapia hormonal deve sempre seguir os parâmetros de indicação e contraindicação, pelo tempo total em que os benefícios do uso superem os riscos. Assim, poderá indiscutivelmente melhorar a qualidade de vida da mulher na pós-menopausa, com toda a segurança que o conhecimento científico nos propicia.

REFERÊNCIAS

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Fonte: Febrasgo