Mulheres contam como foram suas primeiras transas após o parto

A doula e consultora de amamentação e sexualidade Patrícia Ramos, do Rio de Janeiro (RJ), não exercia a profissão de formação até ter um bebê: ela é psicóloga. Mas sentiu que deveria começar a atender como terapeuta ao sentir na pele a pressão social para voltar a ter relações sexuais com penetração com o namorado. Atualmente, ela dá apoio psicológico para mulheres durante a gestação e após o nascimento da criança. “Depois do nascimento, ela vira uma outra pessoa, responsável por outro ser”, diz. Por isso, voltar a transar é parecido com a primeira vez, mas com mais maturidade. “É como se fosse um novo início da vida sexual.”

A ginecologista, obstetra e palestrante do SIAPARTO (Simpósio Internacional de Assistência ao Parto) Ana Thais Vargas, de São Paulo (SP), explica que, mesmo após os 40 dias de resguardo, é comum que uma mulher que se tornou mãe não tenha vontade de fazer sexo com penetração. “Do ponto de vista hormonal, ela não está aberta para a reprodução. Como há um aumento de prolactina, que produz leite, acontece também a diminuição do estrogênio, que é o responsável pela lubrificação e pelo tônus da vagina. Por isso, a mulher fica pouquíssimo lubrificada e a libido cai bastante”, afirma.

Algumas mulheres relatam, ainda, que sentem dor na primeira relação sexual. “São vários os motivos para isso: o medo de ser penetrada e se ferir por causa das dilacerações e suturas feitas durante o parto”, diz Ana Thais. A especialista pontua, no entanto, que o fator que mais influencia a sensação de dor é o aspecto psicológico da mulher, que não está pronta para transar, mas se sente pressionada a fazer sexo mesmo não estando confortável. “Por isso, é importante que ela só tenha relações quando estiver à vontade. Seja antes ou depois dos 40 dias de resguardo ou até um ano depois. Não importa”, afirma.

Veja alguns relatos sobre as primeiras vezes de algumas mulheres:

 

“O meu corpo mexeu bastante com o meu emocional”

“Tive uma experiência um pouco diferente de outras mães que conheço. Foi um pouco tenso, porque eu estava com a minha libido superalta, mas, ao mesmo tempo, tinha a rotina com o recém-nascido. Existia o desejo, mas não existia a energia ou a ocasião.

O que marcou bastante esse momento foi o fato de que eu não estava reconhecendo direito o meu corpo. Ele não era o corpo de grávida, mas também não era o meu corpo de antes. Eu tinha medo de me sentir rejeitada pelo meu parceiro e de estar com a vagina muito “larga”, por ter feito o parto normal. Horrível dizer isso assim, mas é o que vem à nossa cabeça.

Foi um momento, então, de tentar me entender e aceitar. Tentar relaxar, aproveitar a liberdade física recém-adquirida. O que eu mais sentia falta era o de conseguir transar beijando, ter movimentos mais fluidos, que o final da gravidez não permitia.

“Tive uma experiência um pouco diferente de outras mães que conheço. Foi um pouco tenso, porque eu estava com a minha libido superalta, mas, ao mesmo tempo, tinha a rotina com o recém-nascido. Existia o desejo, mas não existia a energia ou a ocasião.

Letícia Abraão, 28, publiciária, de São Paulo (SP)

“Perguntei quando tirariam as facas de dentro da minha vagina”

“Esperei o resguardo terminar achando que o sexo seria ótimo como sempre. Os primeiros 40 dias do bebê são tão complexos que a gente tem pouco tempo para pensar em sexo, mas quando o resguardo estava perto de terminar, começou a bater a ansiedade. Meu principal medo era deixar de ser vista como ‘mulher’ e passar a ser vista como ‘mãe’ pelo meu marido.

A primeira vez que transamos foi assustadora. Eu estava muito ressecada, a impressão era a de que eu estava na menopausa. Nada de orgasmo. Logo em seguida mandei mensagem para o meu médico perguntando: ‘quando vão tirar as facas de dentro da minha vagina?’. Ele riu e me jurou que logo passaria.

Voltei a ter orgasmos apenas na terceira vez. Foi menos intenso do que o normal, mas acho isso aconteceu porque eu ainda estava encanada com a cicatriz da cesárea e com o fato de não poder tirar o sutiã porque meu peito pingava leite.

Nesse momento, ter um ‘parceiro’ de verdade como marido fez toda a diferença. Eu me sentia linda, amada, protegida e compreendida. As ‘facas’ foram embora, eu entendi que dá para ser mãe e mulher.”

Fabiola Zagordo, 41, servidora pública, de São Paulo (SP)

 

“Era como se minha vagina tivesse atrofiado”

“Foi normal esperar, até porque a minha libido despencou. Era muito cansaço, muita privação de sono. Fizemos sexo pela primeira vez depois de uns dois meses mais ou menos desde o nascimento de Aurora. Mesmo após o sangramento, eu ainda sentia incômodo no períneo porque tive laceração e levei dois pontinhos durante o parto normal.

Não estava com muita vontade, mas estava mais curiosa para saber como seria. Sentia falta do prazer do sexo, mesmo sem estar com vontade de ter a relação, por isso resolvemos fazer a penetração.

Na primeira vez, eu senti dor. Era uma dor muscular interna bem difícil de explicar. Nunca havia sentido isso antes. Parecia atrofiado, mesmo com lubrificante. Posições que sempre foram confortáveis pareciam horríveis. Quase todas elas doíam, a única que não era a de ladinho. O fato de eu ter tido parto normal pode ter contribuído para o incômodo. A lubrificação também ficou comprometida pela questão hormonal.

Aos poucos fui descobrindo novas maneiras de fazer gostoso. Tudo acabou voltando ao normal e não sinto mais diferença do que era antes.”

Ana Sanches, 32, estilista, de São Paulo (SP)

“Fomos nos adaptando, procurando novas formas de fazer sexo”

“Por causa de toda a rotina com o recém-nascido e por não estar segura com o meu corpo, eu não estava com muita vontade de fazer sexo. Porém, mais do que da relação, eu sentia falta de estar mais próxima do meu marido. E, para conseguir ter uma relação sexual, eu queria estar com ele mais tempo, para jantar e entrar no clima.

Quando aconteceu, eu não tive muito medo de fazer penetração, mas sabia que podia sentir dor. A primeira vez que transamos eu não tive o orgasmo, porque a lubrificação estava muito diferente. Minha vagina estava completamente seca. Isso aumenta o medo de machucar. Por causa da falta de lubrificação, a penetração doía. Sentia um desconforto tanto durante a relação como depois. Era como se fosse uma cólica bem forte. Mas a gente foi se adaptando, compramos lubrificante, encontramos outras posições. Demorou umas cinco transas para eu realmente voltar a curtir a penetração e, finalmente, ter um orgasmo.”

Carolina Sanchez, 29, analista de sinistros, de São Paulo (SP)

Fonte: UOL