UMA VISÃO SOBRE A MEDICINA E SUAS RELAÇÕES

Você está no final de campeonato da sua filha e recebe uma ligação dizendo que o filho do seu paciente idoso precisa falar com você com urgência. Um colega tem uma emergência familiar e o hospital precisa que você trabalhe em turno duplo. A ressonância magnética do seu paciente não é coberta e a única opção é ligar para a companhia de seguros e argumentar.

Esses dilemas são uma questão padrão para médicos e enfermeiros. Felizmente, a resposta também costuma ser uma questão padrão: uma maioria esmagadora faz a coisa certa para seus pacientes, mesmo a um alto custo pessoal, o que leva muitas vezes o profissional a um esgotamento.

Assim como no futebol, o profissional de saúde virou uma empresa, na qual tudo importa, menos os jogadores. O protagonismo fica com as emissoras de televisão, patrocinadores, empresas de material esportivo e os “cartolas” dos grandes clubes.

Na área da saúde, o profissional e o paciente também têm papel de figurantes. As negociações com os sistemas de saúde são muitas vezes difíceis, negadas ou não estão disponíveis. O desenvolvimento de novas drogas, sempre buscando a melhor eficácia e segurança e principalmente a incorporação de novas tecnologias mostra que temos recursos, mas que são limitados quando falamos em convênios e principalmente na rede básica de saúde (Sistema Único de Saúde – SUS).

O médico está, então, numa situação conflitante, pois tem a obrigação ética de oferecer o melhor para o paciente, que pode não estar disponível. Além disso, é angustiante ver hospitais, clínicas, empresas de seguros e de assistência médica se referir a médicos como “prestadores de serviço”.

Devemos defender firmemente o princípio sagrado da relação médico-paciente e rejeitarmos veementemente sua corrupção em uma transação fornecedor-consumidor.

A “businessificação” da saúde transformou a área em negócio, inclusive com e telemedicina, que orienta pacientes sem ao menos olhar para a expressão dos mesmos. Até que ponto isso está realmente ajudando?

Resta a cada um se adaptar aos novos conceitos de “trabalhar”, sempre com muita determinação e vontade de melhorar.

 

Dr. Ricardo Faure

 

Fonte:

  1. Henry A. Nasrallah; MDCurrent Psychiatry; Vl. 19, No. 2, p. 5-8
  2. Amaral, JLG; Revista APM; nº 716, 2019
  3. Ofri D; The New York Times; 8, jun, 2019